Geralda Doca
BRASÍLIA - A Caixa Econômica Federal não pretende aumentar sua participação no banco Pan (antigo PanAmericano, que pertenceu a Sílvio Santos), comprando ações do sócio, o BTG Pactual, depois dos problemas gerados com a prisão do banqueiro André Esteves. Também não quer vender sua parte porque isso significaria admitir que fez um mau negócio em 2009, quando comprou 36,56% do PanAmericano por R$ 739,3 milhões. Um ano depois, descobriu que comprara um banco quebrado e cheio de fraudes, com rombo de R$ 4,3 bilhões, conforme identificou o Banco Central.
O problema obrigou os sócios a fazerem novos aportes para salvar a instituição e a expectativa era que o Pan voltasse a ter lucro nos dois anos seguintes, o que não aconteceu. Para o governo, controlador da Caixa, o banco federal precisa continuar no negócio para recuperar o investimento passado. Além disso, o Pan tem atuação em nichos que interessam à Caixa, como financiamento de veículos, crédito consignado e empréstimo pessoal.
Mesmo considerando todos as atividades do grupo Pan (empresas de leasing, consórcios e securitizadora), o negócio está longe do retorno esperado: em 2011, o grupo teve lucro de R$ 67 milhões; em 2012, prejuízo de R$ 495,9 milhões; em 2013, perdas de R$ 151,7 milhões e no ano passado, lucro de R$ 7,8 milhões, de acordo com dados da Caixa.
Sem comprador potencial - Segundo um interlocutor do governo, que participou das negociações sobre a aquisição na Caixa na época, a transação foi costurada no Palácio do Planalto, com a participação do ex-presidente Lula, de Sílvio Santos e André Esteves. O sócio, contou essa fonte, não era unanimidade nas áreas do governo envolvidas com o tema, como o Ministério do Planejamento, por exemplo.
— Muita gente torceu o nariz quando soube que o sócio era André Esteves. Perguntamos se não havia outro e tinha que ser ele — contou uma fonte, acrescentando que a avaliação era que o banqueiro tinha fama de perseguir o lucro adquirindo bancos falidos, de olho em créditos tributários.
Segundo essa fonte, a Caixa não pode comprar a participação integral do BTG no Pan, porque o banco se tornaria estatal, com a Caixa assumindo os funcionários, o que não é permitido pela legislação. A contratação só pode ser feita via concurso público. Mas, a Caixa, que detém hoje 40,35% do capital total do Pan, poderia ampliar a sua fatia, desde que não ultrapassasse 49% das ações ordinárias (com direito a voto). Por outro lado, o governo avalia que não há no mercado comprador potencial, a não ser um investidor estrangeiro.
Atuação em novos segmentos - Para o analista João Augusto Salles, da Lopes & Filho Consultoria, o impacto negativo da prisão de Esteves para o Pan é menor do que os problemas de funding enfrentados pelo BTG, justamente porque a Caixa está na sociedade. Segundo ele, isso dá segurança ao investidor.
— O problema é o BTG Pactual. O Pan é um banco blindado — disse Salles, citando que o banco é estratégico para a Caixa.
Ele destacou, ainda, que o Pan passou por um processo de reestruturação e, hoje, o crédito consignado já supera a carteira de veículos, o que era um dos principais problemas do banco, devido ao alto índice de inadimplência e baixa capitalização da instituição. Além disso, o Pan começa a operar em novos nichos, como financiamento imobiliário. A longo prazo, quando a economia reagir, o banco poderá ter bons resultados, avalia Salles.
Procurada, a assessoria de imprensa da Caixa informou que a instituição não iria se manifestar sobre o assunto.