A primeira ação do novo presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, para fortalecer o capital da instituição será a negociação do direito de acesso ao seu balcão para a venda de produtos de seguridade.
"Antecipamos as discussões com a CNP Assurances, nossa parceira na área, sobre o direito de acesso ao nosso balcão", disse Occhi ao Valor. Hoje, o acordo vai até 2021, e as conversas giram em torno de antecipar o vencimento e fechar um novo acordo pelo prazo de 20 anos.
Esse seria um arranjo não apenas para dar maior clareza para o mercado na planejada abertura de capital da Caixa Seguridade, mas também para levantar recursos novos, já que a CNP Assurances ou outro sócio que eventualmente seja escolhido deverá pagar pelo direito ao balcão.
Occhi deixa claro que o propósito de operações como essa é fortalecer o capital para dar sustentação à continuidade da expansão do crédito em áreas prioritárias, como imobiliário e infraestrutura, e atender aos requerimentos de capital de Basileia 3. Não há, disse, nenhum esqueleto dentro do banco a ser coberto.
Ainda estão sendo feitas as estimativas de valor, mas a perspectiva da Caixa é que a venda do direito de balcão dê fôlego ao banco para atravessar 2017 sem a necessidade de eventuais aportes de capital. Ao contrário da abertura de capital da Caixa Seguridade, que foi adiada devido à situação desfavorável no mercado acionário, o acesso ao balcão da Caixa é uma negociação que depende da avaliação feita apenas por ambas as partes sobre o potencial geração de caixa.
"Não estamos restritos a uma operação, estamos trabalhando em várias frentes", disse Occhi, um funcionário com 36 anos de carreira na Caixa que já foi ministro de Cidades e de Integração Nacional. "Em loterias, poderemos levar adiante a operação também independentemente das condições do mercado." Isso deve ser feito ainda neste ano.
Occhi explicou que, no caso da Loterias Instantâneas, a Lotex, será escolhido um sócio privado que terá 51% das ações, o que garante flexibilidade na administração do negócio. A Caixa terá uma participação de 49% no capital votante, além de voz na gestão da empresa, via governança.
Ele descartou, mais uma vez, a privatização da Caixa ou mesmo a abertura de capital do banco. No futuro, será a vez de reorganizar a área de cartões para levantar capital e fortalecer os resultados.
Segundo Occhi, essas operações serão importantes para aprofundar o relacionamento com os analistas do mercado e com o público de forma geral. Para ele, há uma diferença enorme entre a real situação da Caixa, que afirma ser sólida, e a percepção do mercado e dos analistas. Alguns deles têm repetido que a Caixa deverá enfrentar dificuldades, pois sua carteira de crédito cresceu de forma acelerada e o governo Dilma Rousseff teria interferido na gestão do banco.
"Não há espaço para interferências", disse, destacando que desde os anos 1990 foram criados comitês e alçadas para a tomada de decisões. "É difícil entender por que a só Caixa é criticada", disse Occhi. "A Caixa recebeu os mesmos aportes de capital que bancos privados. Nossa inadimplência é menor que a do mercado. Mas as críticas se voltam apenas para a Caixa."
Occhi disse que, para aumentar a interlocução com o mercado, vai retomar as apresentações com as Apimecs (associações de analistas do mercado de capitais) para ouvir dúvidas e críticas. "Quando fizemos captações no exterior, reforçamos a comunicação com o mercado", afirmou o vice-presidente de finanças da Caixa, Márcio Percival. "Esse é um trabalho que deve seguir."
A Caixa adota outras medidas para evitar um aporte de capital. O banco desacelerou o crescimento do crédito, que deverá ter um avanço de 8,1% neste ano. Também combinou com Tesouro Nacional reduzir a 50% a distribuição de dividendos, que no passado chegou a 100%. Caso necessário, poderá cair ao mínimo legal, de 25%.
Mesmo com a desaceleração, disse Occhi, o crédito cresce acima do mercado. Apenas no primeiro trimestre, a Caixa concedeu R$ 100 bilhões, e a perspectiva para o ano é de R$ 400 bilhões. A tendência é que o lucro seja igual ao de 2015. "Para manter a rentabilidade, seguimos a agenda para melhorar a eficiência operacional", diz o vice-presidente de varejo e atendimento, José Henrique Marques da Cruz.
A perspectiva é que a taxa de inadimplência recue no segundo trimestre, comparado com os 3,55% apurados no primeiro. "Recalibramos nossos modelos de avaliação de risco e reforçamos a cobrança", disse Fabio Soares da Silva, vice-presidente de riscos. Occhi resolveu suspender, pelo menos momentaneamente, a reestruturação de cargos e funções iniciada por sua antecessora, Miriam Belchior.
Ontem, Occhi fez um pronunciamento para os funcionários da Caixa para mostrar a situação financeira do banco e dizer que qualquer mudança na vida dos trabalhadores será feita de maneira cautelosa e com diálogo. Em março, a Caixa havia anunciado uma reestruturação que cortou 600 cargos gratificados.
"Pedi para aguardar para que eu possa entender a reestruturação e, principalmente, para que eu possa conversar com as pessoas e preservá-las", afirmou Occhi. "Não estamos demitindo ou acabando com nada. Estamos reestruturando", afirmou, reforçando que é preciso "parar um pouco" para explicar as mudanças aos funcionários.
Ele ressaltou que a reestruturação já foi feita no edifício sede, mas para continuar o processo em todo o país é preciso fazer de "forma um pouco diferente". "Queremos que as pessoas saibam o que está acontecendo e sejam ouvidas para que possam ser, na medida do possível, atendidas dentro dos interesses do banco", afirmou.