A Caixa Econômica Federal vai trazer maior enfoque à rentabilidade ao longo deste ano. A expectativa é que o banco público se "recapitalize" e demonstre um crescimento maior na receita por prestação de serviços do que na carteira de crédito em 2017.
Os últimos dados divulgados ontem, pela Caixa, apontam que a receita com prestação de serviços no consolidado do ano passado foi 8,4% maior do que o observado em 2015 (de R$ 20,7 bilhões para R$ 22,4 bilhões).
Já a carteira de crédito demonstrou crescimento de 4,4% no último trimestre em relação a igual período de 2015 (de R$ 679,4 bilhões para R$ 709,2 bilhões).
Em 2016, a instituição alcançou lucro líquido de R$ 4,1 bilhões (queda de 43%, ante 2015), sendo R$ 691 milhões no quarto trimestre (neste caso, uma alta de 8,65%, contra igual período do ano anterior).
De acordo com o vice-presidente de finanças e controladoria da Caixa, Arno Meyer, após uma "fase de expansão" nos empréstimos, "o jogo, agora, é dar sustentabilidade de longo prazo" ao banco.
"O movimento é semelhante ao que todo o sistema financeiro já fez. Não temos um número alvo para isso, mas a maior parte da nossa receita vem do crédito e há espaço para ampliar a participação da prestação de serviços. O foco é aumentar a rentabilidade e gerar resultado", identifica o executivo.
Ele reforça ainda que é exatamente "em função dos condicionantes" da macroeconomia nos últimos anos que há uma mudança no capital proveniente do crédito.
"Não sei se as operações continuarão a crescer no mesmo patamar, mas a receita com prestação de serviços deve crescer mais do que a carteira de crédito neste ano", completa o vice-presidente.
O movimento de descentralização das receitas no crédito já era visto abertamente nos bancos privados e, desde o começo do ano passado, no Banco do Brasil (BB).
A Caixa, porém, como principal banco de financiamento habitacional e sem a "pressão" do capital aberto, ainda não tinha direcionado o foco para a prestação de serviços.
"Passado esses problemas com inadimplência e sem o aporte do Tesouro Nacional frente o déficit fiscal do País, a Caixa precisa se rentabilizar. Não necessariamente irá mudar o perfil de atuação da instituição, mas com certeza será preciso mudar o foco", explica o economista da Boanerges&Cia, Vitor França.
O especialista pondera também que, nesse sentido, é plausível considerar uma possível abertura de capital da Caixa. "O BB, que tem a preocupação em dar retorno com o acionista, já sinalizava o maior foco em rentabilidade. A Caixa, agora, de acordo com perfil das políticas públicas do País, pode seguir a mesma linha", afirma França, da Boanerges.
De acordo com o presidente da instituição pública, Gilberto Occhi, no entanto, a espera é "pelo momento certo".
"Contratamos diversos assessores para aguardar as melhores informações e pareceres para saber qual o melhor momento. Mas por enquanto nenhuma venda de ativos em 2017 faz parte da estrutura de capital da Caixa", pontua.
Estruturação de taxas - Ainda na expectativa de aumentar a captação, a poupança está entre as vertentes para melhora das operações.
"Apesar da poupança continuar se recuperando, ainda temos uma captação negativa. Sabemos que a redução da taxa básica de juros (Selic) é só uma variável, mas tudo está precificado", analisa o vice-presidente de habitação da Caixa, Nelson de Souza.
Nesse sentido, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, acrescenta que mesmo com a redução da Selic, o funding não é atingido e a taxa de captação ainda fica "muito alta".
"Estamos trabalhando com a expectativa de que o reflexo da diminuição da Selic venha como um aumento na captação líquida da poupança. Isso sim é o que permitirá uma nova estruturação das taxas de juros por parte da Caixa", complementa o presidente.
"Trombadas" - Seguindo a linha de "melhor uso do capital", outro ponto levantado por Gilberto Occhi, é a abertura da Caixa Cartões, uma nova empresa de meios de pagamento. Além dela, outras empresas criadas pela instituição como a Habitar, Caixa Crescer, Lotex e Caixa Seguridade, por exemplo, também estão sendo trabalhadas.
"Somos o único grande banco que não trabalhava dessa maneira e tomamos a decisão de que começaremos a trabalhar. Vamos fortalecer a área de cartões e trazer resultados cada vez mais consistentes", diz Gilberto Occhi e reforça que "tudo será no devido tempo".
"A Caixa deu algumas trombadas com relação à criação de empresas, então estamos dando um passo de cada vez", conclui o presidente do banco.