A Caixa Econômica Federal anunciará dentro de um mês um programa de renegociação de dívidas para os mutuários da casa própria que estão inadimplentes. A medida, segundo fontes do banco, vai beneficiar até 600 mil clientes que estão com as prestações atrasadas há mais de 90 dias e correm o risco de perder a moradia. Estão em estudo várias alternativas para as diferentes faixas de renda, englobando todos os tipos de contratos, desde os enquadrados no programa Minha Casa Minha Vida até aqueles com recursos da poupança e de mercado (acima de R$ 1,5 milhão).
O programa será acompanhado de uma ação educativa para que os beneficiados não voltem a ficar inadimplentes. Eles vão receber informativos alertando que o imóvel irá a leilão em caso de atraso no pagamento de duas prestações.
Segundo fontes a par das discussões, a Caixa não vai dar desconto no valor da prestação, mas avalia isentar o pagamento de multas e demais ônus da cobrança da dívida para quem aderir ao programa. O cliente poderá incorporar no saldo devedor as parcelas em atraso. Elas serão recalculadas obedecendo ao comprometimento de renda do tomador.
Dessa forma, resolve-se o passado e o cliente volta a ter o compromisso de pagar só uma prestação a cada mês. Outra possibilidade é o uso do saldo da conta do FGTS para quitar prestações vencidas. Quem está com dificuldades de honrar os pagamentos, mas ainda não está na situação de inadimplente, também poderá negociar uma pausa no pagamento. A extensão do prazo de pagamento do contrato também é possível.
A ideia é esclarecer para os clientes todas as possibilidades de renegociação. A Caixa fará campanha e ampliará a oferta de serviços pela internet, telefone, rede social, agências e pontos de atendimento, replicando as mesmas iniciativas da campanha de renegociação de dívidas de pessoas físicas e jurídicas, lançada na terça-feira.
O programa também pode ajudar a melhorar o resultado da Caixa, que fez uma provisão de cerca de R$ 5 bilhões no balanço para perdas esperadas com calote nos financiamentos imobiliários. Além disso, o banco quer evitar aumento no estoque de imóveis retomados por falta de pagamento. Líder no mercado imobiliário, o banco tem 60 mil unidades nessa situação e quanto mais tempo demorar para se desfazer deles, mais crescem as despesas com IPTU e condomínio, além da desvalorização dos imóveis.
No ano passado, a Caixa chegou a anunciar um leilão de imóveis “no atacado”, com a oferta de até 6 mil unidades em todo o país. A iniciativa, porém, não deu certo, pois não apareceram investidores.
pé no freio no crédito - Segundo o analista Carlos Daltozo, da Eleven Financial, todos os bancos enfrentam problemas com o crédito imobiliário em decorrência da crise na economia, aumento do desemprego, que atinge 13,4 milhões de pessoas no país, e queda na renda. Como esse tipo de financiamento tem garantia real, que é o próprio imóvel, as instituições entram com ações para retomar o bem, embora esta solução não seja a ideal. Ele lembrou que o estoque de bens retomados no setor bancário por falta de pagamento vem subindo desde 2015 e encerrou 2018 em valor correspondente a R$ 18,7 bilhões, sendo que R$ 16,8 bilhões são imóveis.
- Por isso, os bancos vêm realizando feirões e concedendo descontos no valor dos imóveis — disse Daltozo, acrescentando que os valores referentes a bens retomados constam do balanço das instituições, comprometendo a margem para a liberação de novos empréstimos.
Dados divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que os bancos estão com o pé no freio nas concessões de crédito imobiliário. Números encerrados em abril mostram uma queda de 7% no número de operações entre abril de 2019 e igual mês de 2018. No mesmo período, o estoque subiu apenas 0,6%. O índice de inadimplência na modalidade passou de 1,2% em dezembro para 1,6% em abril.
O novo programa não é a única iniciativa em curso que deve ajudar a melhorar as contas do banco. Na última terça-feira, a Caixa lançou um programa de renegociação de dívidas chamado de “Você no Azul”, com a oferta de descontos de 40% a 90%. O pagamento, porém, precisa ser feito à vista. A campanha tem como alvo 2,9 milhões de clientes entre pessoas físicas e empresas, que devem à Caixa R$ 28,6 bilhões.