Com o mercado imobiliário ainda em clima de incertezas, compradores e vendedores de imóveis que recorrem à Caixa Econômica Federal têm enfrentado um desafio extra para fechar negócios. Muitos adquirentes, com créditos já aprovados, aguardam há meses a assinatura de seus contratos e a liberação de financiamentos. A espera pode passar de quatro meses. Fontes da instituição informam que gerentes de agências de todo o país enfrentam dificuldades para liberar os recursos por carência de verbas. O banco adotou a execução mensal do orçamento e vem interrompendo liberações quando o limite é atingido.
Foi o que aconteceu com a família do especialista em telecomunicações Vitor Vidal, de 35 anos. Ele adquiriu um imóvel na planta, há cerca de três anos, na Zona Norte do Rio. Com o fim das obras, buscou crédito no banco. O financiamento foi aprovado em agosto, quando a Caixa resgatou os recursos de sua conta de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), mas o empréstimo não saiu.
— Já tínhamos tudo pronto para a mudança. Nossas coisas estão encaixotadas. Fomos informados que não há “dotação orçamentária”e só agora prometeram devolver o dinheiro do FGTS— disse.
Para muitos, a saída é buscar financiamento em outros bancos, incluindo os privados.
— Se a Caixa está descapitalizada, não poderia ter iniciado o processo, com a abertura da conta para o cliente e o saque do FGTS. Agora, a alternativa é procurar outro agente financeiro — disse o consultor imobiliário Alex Strotbek.
O corretor de imóveis Alessandro Neves de Lima, de 41 anos, tem um cliente que aguarda o crédito há 45 dias.
— Para não desistir do negócio, o comprador propôs pagar a mensalidade de um outro financiamento imobiliário feito pelo dono do imóvel que ele deseja comprar, até a liberação do dinheiro. Há casos de proprietários que estão aguardando os recursos para comprarem outros imóveis.
Empréstimos chegam a R$ 62 bi - A Caixa informou que substituiu o modelo de dotação anual de recursos para financiamentos imobiliários e adotou um limite para a liberação mensal de verba. Quando o volume de dinheiro previsto para aquele período de 30 dias termina, os contratos aprovados ficam suspensos, aguardando o mês seguinte.
Além da estratégia de execução mensal do orçamento para todas as linhas de crédito imobiliário, o banco implementou outras medidas que restringiram ainda mais o acesso ao crédito. Uma delas foi a redução da cota de financiamento de imóveis usados para 50% — antes, os clientes podiam financiar até 60% ou 70% do valor de avaliação do bem — e suspendeu as operações com interveniente quitante (quando uma pessoa procura a instituição para financiar a compra de um imóvel que ainda está alienado em outra operação de financiamento). A Caixa informou que a contratação do crédito imobiliário neste ano está 20% superior ao mesmo período do ano passado, e que já emprestou mais de R$ 62 bilhões.
— A jurisprudência dos tribunais tem sido de que, em princípio, como a lei não traz nenhum prazo para a concessão de financiamento, nada poderia ser feito contra a instituição financeira, que tem liberdade para conceder ou não o empréstimo — disse o advogado Thiago Neves.