Por Juliana Caveiro
A Caixa Econômica Federal é responsável por quase 70% do crédito imobiliário concedido no Brasil. E os números do terceiro trimestre de 2024 (3T24), divulgados nesta quarta-feira (13), mostram que o banco segue ampliando sua liderança.
O banco chegou a R$ 812 bilhões em carteira no financiamento de imóveis ao final de setembro, um avanço de quase 15% em 12 meses. O valor representa também mais de 75% do saldo total de crédito do banco, que atingiu R$ 1,2 trilhão.
“Tínhamos uma expectativa de crescimento e essa carteira cresceu mais do que aguardávamos”, afirmou Carlos Vieira, presidente da Caixa.
No entanto, há discussões no mercado que indicam que as duas principais fontes de financiamento, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviços (FGTS) e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), apresentam riscos de esgotamento.
“Há uma discussão na própria Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) e no governo sobre esses sinais de esgotamento. Precisamos ter outras alternativas, mas não tem bala de prata”, afirmou a vice-presidente de Habitação, Inês da Silva Magalhães.
A executiva entende que a Caixa atende muito bem a população de baixa renda por meio do FGTS e SBPE, mas que a população de “média renda” ainda precisa de alternativas.
Entre as opções que já foram levantadas está a redução do depósito compulsório que os bancos são obrigados a realizar — o que, segundo a Caixa, limita a possibilidade concessão de crédito –, a criação de papéis incentivados para aumentar as possibilidades de financiamento tanto para pessoa física quanto jurídica, além de produtos focados para empresas do segmento da construção civil.
Com esse esgotamento e uma demanda ainda pujante no setor, a Caixa, inclusive, reduziu o valor de financiamento para imóveis e mudou o limite para o uso do SBPE no início deste mês.
Para 2025, Vieira acredita que do mesmo jeito que bateram recordes de aplicação durante este ano, a Caixa irá superar o valor no ano que vem, mesmo com a Taxa Selic crescendo.
Até setembro, a Caixa desembolsou R$ 176 bilhões em crédito imobiliário, um avanço de 28,6% em relação a 2023. O banco tem 67,5% de participação neste mercado. Foram mais de 627 mil imóveis financiados em 2024.
Uma Caixa mais digital
Além do crédito habitacional, os representantes da Caixa trouxeram como destaque, durante o evento de divulgação dos resultados, o crescimento de 52,4% em transações digitais nos últimos 12 meses, além da redução em 7,9% dos atendimentos físicos. Isso mostra uma atenção maior da companhia com o desenvolvimento tecnológico, que até então, ela ainda não tinha feito.
“A Caixa não cuidou dessa parte tecnológica, essa é a verdade. Ela se acomodou nos anos 90. Ou a gente fazia isso agora ou ficaríamos para trás”, avaliou. Vieira, no entanto, destaca a dificuldade para a transformação digital em bancos mais antigos.
Segundo o presidente, durante 2023 o orçamento para o desenvolvimento de tecnologias era de R$ 8 bilhões e foram utilizados R$ 5,5 bilhões. Em 2024, já foi utilizado quase que a totalidade do orçamento para desenvolvimento e mudança de hardware e software. Isso permitiu a contratação de empresas especializadas para revisar e melhorar processos.
Este ano foi criado também o Espaço GovTech, um ambiente físico que atua como um Hub de Inovação conectando startups que buscam soluções tecnológicas para políticas públicas, fomentando a eficiência em serviços públicos, infraestrutura e saneamento.
Na avaliação do executivo, a Caixa optou por uma transformação digital incremental, implementando melhorias tecnológicas passo a passo. Um exemplo citado durante a sua fala foi a melhoria no cartão de crédito digital, que agora está disponível via aplicativo. Além disso, houve avanços nas ferramentas de biometria e abertura de contas digitais, buscando simplificar o acesso dos clientes.
Essa inovação tecnológica trouxe, inclusive, mais possibilidades para produtos já existentes na casa como o crédito Consignado, que passou a representar 75,9% da carteira comercial pessoa física, com um saldo de R$ 101,1 bilhões ao final de setembro de 2024.
Segundo Vieira, a Caixa está fazendo um reposicionamento do crédito consignado com o lançamento de jornadas digitais e estratégias de requalificação dos gerentes das agências, já que o banco entende que tem capilaridade e alcance para isso.
Esse reposicionamento também se reflete na gestão interna das agências, que antes estavam sobrecarregadas com tarefas administrativas. Agora, com processos revisados, a instituição está liberando mais espaço para as atividades de negócios e atendimento ao cliente.
“Estamos elevando o conceito de segmentação para que esse gerente possa entregar o produto certo para a pessoa certa. O crédito precisa ser concedido de forma responsável”, explica Vieira.
Lucro em alta
A Caixa registrou lucro líquido recorrente de R$ 3,3 bilhões entre julho e setembro, e de R$ 9,4 bilhões em nove meses de 2024. No trimestre, o resultado foi praticamente estável em relação a 2023, e em nove meses, houve crescimento de 21,6%.
O retorno sobre patrimônio líquido (conhecido pela sigla ROE), que representa a rentabilidade de um banco, chegou a 9,3% em setembro, avanço de 1,4 ponto percentual em 12 meses.
Somente no terceiro trimestre, a receita com prestação de serviços da Caixa cresceu 7,5%, somando R$ 7 bilhões. Em nove meses, o banco conseguiu captar mais de R$ 20 bilhões com prestação de serviços, avanço de 7% em relação a 2023.
No total, foram originados R$ 163,4 bilhões em crédito entre julho e setembro, volume 12,8% maior que o apurado no ano passado. Em nove meses, foram R$ 465,5 bilhões, avanço anual de 15,3%.
(Matéria publicada em 13/11/2024)