A Caixa teve lucro de R$ 6,260 bilhões de abril a junho, com alta de 36,6% em relação ao primeiro trimestre e de 144,7% frente ao segundo trimestre do ano passado. O resultado foi impulsionado por itens não recorrentes, como o ganho de R$ 3,271 bilhões com o IPO da Caixa Seguridade e de R$ 2,176 bilhões com a venda da participação no Pan para o BTG Pactual.
Sem esses itens na conta, o lucro operacional foi de R$ 3,356 bilhões, o que representa queda de 2% frente ao primeiro trimestre no trimestre e alta de 15,7% em 12 meses. O lucro semestral, de R$ 10,8 bilhões, foi recorde.
O banco terminou junho com um saldo de R$ 816,251 bilhões em operações de crédito, um incremento de 2,1% frente a março e de 13,4% em um ano. Na habitação, o saldo chegou a R$ 529,476 bilhões, com alta 2,1% e 9,2%, respectivamente. Nessa carteira, destacaram-se as contratações com funding da poupança, que totalizaram R$ 21,1 bilhões no trimestre, crescimento de 98,9% em relação ao mesmo intervalo de 2020.
Ainda assim, a Caixa teve uma leve queda na participação de mercado no financiamento imobiliário, chegando a 67,3% no segundo trimestre, de 68,2% no primeiro e 69,3% entre abril e junho de 2020. O segmento teve um primeiro semestre muito aquecido, com forte competição entre os bancos.
A inadimplência subiu para 2,46% em junho quando se compara com os 2,04% apresentados em março. O indicador, porém, ficou estável em relação aos 2,48% de junho de 2020. A piora veio do segmento de habitação e foi atribuída pelo presidente do banco, Pedro Guimarães, a um caso específico do atacado relativo ao setor imobiliário, remanescente de gestões passadas. “Se tirar isso, [a inadimplência] normaliza. Mesmo assim, não foi uma piora relevante. O segundo trimestre teve vários problemas, com o agravamento da pandemia, mas nada fora dos padrões”, disse em videoconferência.
De fato, a inadimplência de curto prazo, que mede atrasos de 15 a 90 dias, melhorou. O índice foi de 6,53% em junho, de 6,89% em março e 4,62% na metade do ano passado. A melhora também é observada no indicador específico de habitação, que passou para 8,57%, de 9,04% e 3,99%, respectivamente.
Questionada se parte da inadimplência em habitação poderia estar ligada à linha atrelada ao IPCA, a Caixa não se manifestou. O indicador oficial de inflação atingiu 8,99% em julho no acumulado em 12 meses.
Guimarães dedicou parte da apresentação para divulgar estudo segundo o qual o “custo da corrupção” na Caixa foi de R$ 46,5 bilhões entre 2004 e 2017. O executivo fez uma longa explanação sobre os problemas que encontrou ao assumir o banco, no início de 2019.
Segundo ele, 25 investimentos do FGTS e do FI-FGTS feitos antes de sua gestão causaram perdas econômicas de R$ 24,4 bilhões. O cálculo considera o valor do investimento feito e um referencial de rentabilidade de cerca de 6% ao ano mais TR. Assim, chega-se a um valor de R$ 32 bilhões que esses ativos deveriam ter, enquanto o apresentado é de R$ 7,6 bilhões. A diferença é a perda econômica projetada.
De acordo com o levantamento, a Caixa em si teve perda econômica de R$ 22,1 bilhões em 62 contratos com empresas que investigadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Essa perda é dividida em duas partes. A primeira, de R$ 17 bilhões, considera a concessão de R$ 11,6 bilhões entre 2004 e 2017, que gerou perda de R$ 9,6 bilhões, já baixada a prejuízo. A Caixa atualizou esses valores pela Selic até o dia 17 deste mês, chegando aos R$ 17 bilhões. A segunda parte, de R$ 5,1 bilhões, diz respeito ao valor provisionado de R$ 6,8 bilhões em contratos feitos de 2013 a 2017 que ainda estão no balanço.
“Foram perdas geradas no passado e todas investigadas, que geraram prisões, delações e devolução de dinheiro por corrupção provada e que não existe mais. [...] Tivemos lucro recorde no primeiro semestre. E como conseguimos isso? É fácil, basta não roubar”, que se tornou figura frequente em eventos e “motociatas” com o presidente Jair Bolsonaro. Ontem, participou novamente da live presidencial semanal.
A Caixa afirmou que a conta das perdas foi feita por uma auditoria, mas não revelou qual. O balanço do banco é auditado pela PwC.