Por Ana Luiza Tieghi
Com a retirada recorde de recursos da poupança em maio, de R$ 11,75 bilhões, a sustentabilidade do financiamento imobiliário feito pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) tem sido alvo de preocupação.
Em evento para investidores do Citibank, nesta terça-feira, a vice-presidente de habitação da Caixa, Inês Magalhães, afirmou que o banco já está aplicando mais recursos para o financiamento imobiliário pelo SBPE do que precisaria, e que, com a maior retirada de recursos da poupança, é preciso hoje fazer uma captação mista com Letras de Crédito Imobiliário (LCI), mais cara, para seguir oferecendo o financiamento ao consumidor. “Tem bancos que pararam totalmente”, disse.
Segundo ela, há esforço por parte do banco para “não pisar no freio” da concessão de crédito imobiliário. Apesar disso, disse não ver um novo aumento da taxa cobrada ao consumidor ainda neste ano.
A Caixa já executou R$ 70 bilhões em financiamento imobiliário neste ano, sendo R$ 39 bilhões com recursos da poupança.
“É importante que a gente altere esse cenário com a diminuição, esperamos, da taxa de juros, e que a poupança volte a captar mais”, afirmou.
Magalhães participou de um painel promovido pelo Citi para debater as mudanças no programa Minha Casa, Minha Vida, anunciadas no dia 20 após reunião do Conselho Curador do FGTS. Entre elas estão o novo teto de R$ 350 mil para o valor das unidades, uma nova curva de subsídios e taxa de juros reduzida para a faixa inicial do programa.
Segundo Magalhães, a Caixa está se preparando para operar o MCMV com os novos parâmetros a partir de 7 de julho.
Também presente no evento, o secretário nacional da habitação, Hailton de Almeida, afirmou que o governo tem a meta de realizar 500 mil casas neste ano, sendo que a seleção para as primeiras 130 mil, com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), já está aberta. A meta do governo Lula é construir 2 milhões de casas nos quatro anos de governo.
O secretário fez um chamado para que construtoras façam a adesão à faixa 1, que conta com recursos do FAR e é voltada a famílias com renda de até R$ 2.640, para atingir a base do déficit habitacional. Também há um apelo para que Estados e municípios participem do programa, com recursos financeiros ou terrenos, para complementar os incentivos do MCMV. Almeida citou o caso de São Paulo, que tem o programa Casa Paulista, do governo estadual, e o novo Pode Entrar, da capital. “Brinco com as construtoras que o papel delas é caçar prefeitos”, afirmou.
Ronaldo Cury, vice-presidente institucional da incorporadora Cury, focada em habitação econômica, disse que a empresa está olhando opções de projetos na faixa 1, mas que esse segmento não deverá representar mais de 10% do faturamento da companhia. No passado, a Cury já teve 50% do faturamento vindo da faixa inicial.
Segundo Almeida, haverá ainda um fundo garantidor do trabalhador informal, no qual o governo vai dividir com a Caixa o risco da concessão de crédito habitacional desse consumidor, para “aumentar o apetite” da instituição financeira. O objetivo é incluir de 100 mil a 150 mil famílias que hoje não conseguem acessar o MCMV por não conseguirem comprovar renda.
O secretário afirmou que há R$ 800 milhões separados para a iniciativa e que o fundo deve ser lançado em agosto ou setembro.
O presidente Lula já sinalizou a vontade de ter uma faixa adicional no MCMV que contemple famílias com renda de até R$ 12 mil (a maior faixa, atualmente, vai até R$ 8 mil) e que financie imóveis de até R$ 500 mil.
Para Magalhães, essa medida deve ser feita de forma temporária, para preservar recursos do FGTS para a camada mais pobre da população. “Se o setor imobiliário tiver visão de longo prazo, também vai defender isso”, disse.
Cury afirmou esperar um anúncio nesse sentido em julho, quando o Conselho Curador do FGTS se reunirá novamente.