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09/03/2016

Caixa vai financiar até 70% de imóvel usado

Banco espera aumentar volume de contratações em mais de 64 mil unidades. Quase um ano depois de endurecer os critérios de financiamento imobiliário, a Caixa Econômica Federal voltou atrás e anunciou, ontem, uma série de medidas na tentativa de estimular a construção civil, ampliando a demanda por financiamento habitacional.

Lucas Hirata, Hugo Passarelli e Cynthia Decloedt

Quase um ano depois de endurecer os critérios de financiamento imobiliário, a Caixa Econômica Federal voltou atrás e anunciou, ontem, uma série de medidas na tentativa de estimular a construção civil, ampliando a demanda por financiamento habitacional. Entre as mudanças está o aumento da cota de financiamento para aquisição de imóveis usados: a faixa que ia de 40% a 60%, agora pode chegar a 70% do valor da unidade, para trabalhadores do setor privado. A Caixa também reabriu a oferta de empréstimos para compra do segundo imóvel. A expectativa, segundo a presidente do banco, Miriam Belchior, é elevar o volume de contrações em 13% neste ano, o equivalente a 64 mil unidades habitacionais a mais: 29,7 mil serão financiadas com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e 34,3 mil pela poupança.

Para aumentar a oferta de crédito, a Caixa Econômicas causará recursos adicionais do FGTS. Dos R$ 22,5 bilhões liberados em fevereiro pelo Conselho Curador do fundo, R$ 16,1 bilhões serão destinados ao banco. Também está prevista uma linha de crédito de R$ 2,4 bilhões com taxas especiais para construtoras de todos os portes. O dinheiro poderá financiar a produção de imóveis de até R$ 500 mil, afirmou a Caixa.

Para o financiamento de usados, as novas cotas ficam assim: passam de 50% para 70% para unidades de até R$ 750 mil, financiadas pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), cujos clientes são trabalhadores do setor privado. Para funcionários públicos, a cota foi elevada de 60% para até 80%. Imóveis usados financiados pelo Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), acima de R$ 750 mil, em Minas, São Paulo, Rio e Distrito Federal, e de R$ 650 mil nos demais Estados, passam de 40% para 60% no setor privado. E de 50% para 70% no público.

Repercussão. As novas regras foram vistas por representantes do setor como uma “correção” das medidas tomadas há quase um ano, quando houve redução da fatia que poderia ser financiada. Entretanto, diante da falta desconfiança dos consumidores em meio à recessão econômica, especialistas apontam que a mudança pode ter impacto limitado. Isso porque o problema do setor não está apenas na disponibilidade de crédito, mas também na demanda por unidades residenciais, afirmou o pesquisador da Fipe Eduardo Zylberstajn.“As pessoas estão com dificuldades no mercado de trabalho e falta confiança para aquisição de um imóvel”, disse. Ele também criticou a volatilidade “nas regras do jogo”. “Isso prejudica o mercado, porque o consumidor não sabe como serão as normas quando puder comprar um imóvel.”

Entre representantes do setor de construção, as medidas foram vistas com otimismo. Para o economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci, as regras sinalizam que não faltarão recursos em 2016 para financiar imóveis novos ou usados. “Se está ampliando recursos para unidades usadas, o banco indica que tem dinheiro para imóvel novo o ano inteiro.”

O vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Renato Ventura, afirmou que a medida deve “oxigenar” o mercado imobiliário. “Como a cadeia é muito interligada, há um impacto inicial em usados, que deve se refletir em novos”, afirmou o executivo.

O presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto, ressaltou que o efeito pode ser ambíguo, porque um aumento no porcentual de financiamento também significa elevação do valor da prestação. Mas, no fim das contas, ele acredita que as vantagens devem sobressair.

 

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO