Vinícius Pinheiro
Apesar de o corte na taxa básica de juros (Selic) baratear o custo de captação dos bancos, essa economia não necessariamente será repassada a todos os tomadores de crédito do mercado. Entre as instituições financeiras há quem afirme que o risco de inadimplência ainda é muito alto, o que deve segurar os spreads em alta. Outra visão, porém, é que a queda no custo de captação abre espaço para maior competição pelos "bons" clientes, levando a uma queda de spreads para esse grupo, conforme as operações de crédito sejam renovadas.
Entre os bancos, está praticamente descartado um comportamento como o de 2011 e 2012, em que a redução da Selic veio acompanhada de um forte aperto na diferença entre a taxa de captação e dos empréstimos. O processo foi liderado pelos bancos públicos, em meio à cruzada contra os juros altos liderada pela presidente Dilma Rousseff, na época no auge da popularidade.
Para o diretor de uma grande instituição privada, a situação atual é bem diferente. "A taxa de juros, desta vez, não vai cair por decreto, e sim porque a inflação está cedendo", diz. Sem a ação dos bancos públicos e diante da incerteza que permanece sobre a economia, os spreads devem levar mais tempo para acompanhar eventual recuo da Selic, segundo o executivo. "No longo prazo, em um cenário em que a atividade volte a andar, os spreads devem cair, mas a recuperação do crédito deve compensar esse efeito", afirma.
Em outros momentos de corte dos juros, alguns dos efeitos negativos que os bancos sentem quando a Selic cai foram mitigados por um crescimento na concessão de empréstimos. A leitura, porém, é que esse maior ímpeto dos empréstimos não deve vir no curto prazo. "Não há uma expectativa de que a economia reaja a ponto de reverter a tendência de retração do crédito, então a queda dos juros pode sim ter um impacto negativo", diz o executivo de um banco de varejo, que pediu para não ser identificado.
As concessões de financiamentos registram contração de 9,4% nos primeiros quatro meses deste ano, de acordo com dados do Banco Central. Já a inadimplência do sistema financeiro era de 3,7% em abril, com alta de 0,7 ponto percentual nos últimos 12 meses.
Para os analistas do Goldman Sachs, as instituições devem enfrentar um cenário de piora na qualidade dos ativos até o ano que vem, e a carteira só voltará a crescer de forma mais significativa em 2019.
"Esperamos uma pressão mais limitada nas margens dos bancos neste ano em razão da queda dos juros, e mais pressão em 2017 e 2018 uma vez que os spreads reflitam os efeitos do ciclo de cortes", escrevem os analistas, em relatório.
Mesmo que o saldo da Selic mais baixa seja negativo para os bancos, a avaliação geral é que a redução das taxas é necessária para evitar um colapso ainda maior na economia. Com uma série de empresas e consumidores em dificuldades, as instituições ampliaram a renegociação dos financiamentos, concedendo mais prazo para o pagamento, mas calibrando os spreads para cima.
A expectativa é que a queda dos juros auxilie os devedores a retomar a capacidade de pagamento. "A Selic pode ter ajudado a compensar parte das perdas relacionadas à inadimplência, mas no longo prazo não é boa para ninguém, nem para os bancos", afirma o executivo de uma grande instituição. Tanto que, do fim de 2015 para cá, mesmo com a Selic em alta, a rentabilidade dos bancos vem caindo. Isso porque os gastos com reservas para calotes vêm subindo.