O grupo paranaense Barigui prepara o lançamento do Banco Bari, que terá como carro-chefe um cartão de crédito com lastro em imóveis. O produto, inédito no Brasil, terá limite de até R$ 1 milhão - dependendo da garantia e da renda do tomador - e cobrará taxas bem mais baixas que as dos cartões convencionais.
O cartão terá como garantia a alienação fiduciária do imóvel da pessoa. Se o bem ainda não estiver quitado, será possível fazer a portabilidade do crédito imobiliário para o Bari, e o limite de gastos vai aumentando à medida que as prestações forem pagas.
"A pessoa vai poder transformar em liquidez o valor que tem na sua casa quando quiser, afirma Rodrigo Pinheiro, sócio e executivo-chefe do Bari.
Numa faixa de até R$ 30 mil, a fatura poderá ser parcelada com taxa de 1,99% ao mês. Para gastos além desse valor, o limite do cartão será convertido em uma operação de financiamento com garantia de imóvel (modalidade conhecida como "home equity" no jargão do mercado). Nesse caso, o cliente vai pagar 1,09% ao mês mais a variação do IPCA para parcelar em até 180 meses. Não haverá exigência de pagamento do valor mínimo. De acordo com o Banco Central (BC), a taxa de juros média no parcelado dos cartões convencionais ficou em 8,9% ao mês em maio.
O lastro na propriedade é justamente o que vai permitir ao banco cobrar juros bem menores que os de mercado. A alienação fiduciária é considerada uma das formas mais seguras de garantia para as instituições financeiras - que em caso de inadimplência podem tomar o bem com relativa facilidade.
Apesar disso, diz Pinheiro, a expectativa é que os casos de retomada sejam poucos. Uma razão é que o prazo de parcelamento da fatura é longo. Outro motivo é que o limite concedido não passa de metade do valor do imóvel. Nas operações de financiamento com garantia de imóvel já feitas pelo grupo a inadimplência oscila entre 1% e 1,5% - ante uma taxa média de calotes de pessoa física com recursos livres de 3,5% em maio, segundo o BC.
A expectativa de Pinheiro é que, com o produto, o cartão de crédito passe a ser usado em compras de maior valor, como um carro, materiais de construção ou equipamentos para um consultório médico. "É uma dívida longa e barata, enquanto no Brasil o crédito é muito concentrado no curto prazo", diz.
A aposta vem num momento em que o BC tenta estimular o financiamento com garantia de imóvel. Na semana passada, o regulador reduziu os requisitos de capital para instituições financeiras que operam com a modalidade, ainda incipiente no país.
A Barigui Financeira, que agora será rebatizada como Banco Bari, originou até agora R$ 800 milhões em operações de "home equity".
A oferta dos cartões - que terão bandeira Elo - começa neste mês, mas eles serão entregues a partir de setembro. Na mesma época, o Bari vai lançar o aplicativo de sua conta digital, que terá foco em poupança e produtos imobiliários. A expectativa é que sejam abertas 300 mil contas em três anos.
A ideia é que os clientes possam criar "caixas" com objetivos de investimento. Inicialmente, a plataforma vai oferecer produtos próprios, como letras de crédito imobiliário (LCI), certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e CDB. Mais adiante, serão incluídos produtos de terceiros. "A lógica vai ser oferecer uma ferramenta em que seja fácil poupar", diz Pinheiro.
Além do banco, o grupo Barigui tem uma companhia hipotecária, uma securitizadora e uma gestora voltada a ativos imobiliários.