Apesar do aumento recente, as taxas de juros do crédito imobiliário devem permanecer relativamente baixas em 2021, afirmou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), durante a Live do Valor.
Nos últimos meses, as instituições financeiras elevaram as taxas acompanhando o aumento da Selic, juro básico da economia. Hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deve anunciar uma nova elevação, que economistas de mercado estimam em um ponto percentual, da 5,25% ao ano. No ponto mais baixo, a Selic chegou a 2%.
“Os bancos estão aumentando as taxas de financiamento. Mas elas estavam historicamente muito baixas e não devem voltar ao patamar de 2017-2018”, disse Ana Castelo. “Devemos ter ainda um momento favorável à tomada de crédito neste ano e um cenário favorável ao mercado imobiliário”.
Esse momento favorável é um dos fatores que levam a economista a acreditar num crescimento acima de 4% no PIB da construção civil neste ano, após o tombo de 7% em 2020, por causa da pandemia. O setor, contudo, ainda tem um longo caminho pela frente. Depois de encolher 30% entre 2014 e 2018, houve um ensaio de melhora em 2019, com alta de 1,5%.
“Há uma série de fatores importantes indicando dinâmica mais positiva, mas a descida foi grande. Então retomar o padrão anterior ainda vai levar um tempo”, observou a analista, ponderando ainda que não é possível dizer se essa retomada é consistente, de longo prazo.
Isso porque a outra parte importante do setor, a de infraestrutura, segue com restrições, a despeito das perspectivas mais positivas dadas pelo novo marco do saneamento e dos leilões de aeroportos regionais realizados pelo atual governo.
“O marco do saneamento já teve alguns efeitos positivos no sentido de gerar investimentos. Mas temos que lembrar que, se o ciclo imobiliário é longo, o da infraestrutura é maior. Este é um mercado que encolheu muito e precisa crescer muito mais”, afirmou ela. Ana Castelo lembrou que hoje o setor público não tem capacidade de investimento e as grandes incertezas que rondam o país dificultam o investimento de que vem de fora.
A área, que é vital para o crescimento sustentável do setor da construção e da economia do país, já teve investimentos que superaram 5% do PIB, proporção que hoje não chega a 2%. “Não cobre nem a depreciação do capital”, disse Ana Castelo.