Entre outros vários dados que servem de base para o conhecimento da sociedade, o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que deve começar a coletar dados da população em agosto, pode revelar um salto no número de imóveis abandonados no Centro de São Paulo. Hoje, pesquisadores trabalham com o número de 2010, de quando o Censo revelou que havia 33 mil imóveis ociosos na região.
Segundo um estudo feito pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), aproximadamente 322 mil famílias vivem em moradias precárias no maior município do País, enquanto a prefeitura estima que haja 31 mil pessoas vivendo nas ruas. Entidades de assistência social dizem que esses números também são subnotificados.
Na avaliação do economista Robson Gonçalves, professor da FGV, o apagão de dados reduz a gravidade da realidade. “O número de imóveis vazios na cidade de São Paulo certamente é bem maior do que o registrado em 2010 (33 mil unidades). Tem bem mais. Isso [desigualdade] se deve a dois fatores: a insuficiência das políticas públicas voltadas para revalorização do centro nos últimos 20 anos e a própria crise econômica que vem se arrastando desde meados de 2015”, lembra.
Gonçalves ressalta que a especulação imobiliária, que trata moradias como ativos financeiros, faz com que imóveis deixem de ser vendidos, alugados e ocupados. “Os preços dos imóveis subiram muito nos últimos anos e nos grandes centros urganos mais ainda. Para os proprietários desses imóveis que permanecem fechados existe um ganho patrimonial que vai acontecendo ao longo do tempo. A disposição desses proprietários de venderem esses imóveis só acontece na medida em que eles tenham a certeza de que vão conseguir fazer uma boa venda”, explica.
Em toda a capital paulista, o Censo 2010 apontou que 290 mil imóveis estavam vazios na cidade.
A prefeitura afirma que notifica os proprietários por meio da Secretaria de Urbanismo e Licenciamento, mas que em muitos casos não recebe resposta. O abandono pode gerar um acréscimo na porcentagem da cobrança do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e resultar em desapropriação para moradia popular.
Pelo menos 70 prédios abandonados foram ocupados de forma precária por famílias na região central. O Corpo de Bombeiros alerta para o perigo em casos de incêndio e outras consequências de ocupação irregular.
Censo
O IBGE iniciou em junho a coleta de informações da Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, que marcou o início das operações urbanas do Censo Demográfico 2022. Até o fim do ano, os agentes devem visitar 326.643 setores censitários nos 5.570 municípios brasileiros.
As informações integram o trabalho de preparação para a coleta de campo do Censo Demográfico, prevista para começar em 1º de agosto, mas também "servem de subsídio para uma série de políticas públicas nas três esferas de governo, envolvendo saneamento básico, mobilidade urbana, inclusão social, segurança pública e meio ambiente, entre outros temas".
Pela primeira vez, a pesquisa abrangerá a totalidade dos aglomerados subnormais localizados nas áreas urbanas, "independentemente de terem arruamento regular ou não" — ou seja, todos os cantos das favelas e comunidades serão mapeados.
"Em 2010, metade (das favelas) foi incluída e metade ficou de fora", contou Claudio Stenner, diretor de Geociências do IBGE, ao Portal UOL. "Nessas áreas mais densas, como a gente tem no Rio de Janeiro, não foi feita pesquisa de entorno, mas agora será feita", afirmou.
O IBGE explicou que usará uma nova metodologia para a identificação do percurso dos agentes em áreas labirínticas e sem sinal de GPS nas favelas com maior densidade demográfica.
Matéria publicada em 25/07/2022