O mercado nacional de cimento enfrenta um cenário difícil neste início de ano: vendas em queda, de 2,4%, e uma forte pressão de custos dos insumos. O aumento de custos, que se acelerou na pandemia, intensificou-se com a alta das commodities neste ano, em especial do petróleo e outras matérias-primas industriais.
O coque de petróleo, por exemplo, que usado nos fornos de produção do clínquer (material do qual se faz o cimento), teve alta de 37% até o fim de março, informa o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). De janeiro de 2020, até o fim de março, o aumento no preço do coque, é mais de 90% importado e é dolarizado, alcançou 485%.
“Em reais, o preço passou de R$ 205 para R$ 1.202 a tonelada nesse período. E com a guerra da Rússia na Ucrânia, iniciada em 25 de fevereiro, o coque se descolou da cotação do petróleo e se atrelou à do carvão”, disse Paulo Camillo Penna, presidente do SNIC.
Segundo o executivo, na área de energéticos, o aumento é brutal. Em 2019, coque e energia elétrica respondiam por 50% do custo total de produção de cimento. Hoje, está na casa dos 65%. A fatia do coque é de 45%; energia, 20%.
O executivo cita que o gesso subiu 127% nos últimos 15 meses (desde janeiro de 2021), enquanto as embalagens subiram 36%, o tijolo refratário, 61%, e o frete, 43%. A indústria do cimento depende, para receber matérias-primas e insumos e escoar a produção aos mercados de consumo, de 92% do transporte rodoviário, que é movido por óleo diesel.
As cimenteiras no país vêm ampliando o uso de combustíveis alternativos nos fornos de clínquer, no lugar de coque e carvão, buscando tanto reduzir o impacto de um insumo dolarizado quanto baixar as emissões de CO2 no processo. O executivo informa que a indústria já incorporou 31% desse combustíveis (pneus velhos, biomassa, resíduos sólidos e outros), até o fim de 2019, antecipando a meta que era de 2025. Os números de 2020 são previstos para abril.
O setor enfrentou uma forte retração de 2015 a 2018 - queda de 27% nas vendas. Desde 2019, conseguiu recuperar 15%, mais ainda precisa crescer 12% para voltar ao volume recorde de 2014.
Para Penna, a disparada dos custos dos insumos do cimento, aliados a uma forte estabilidade do cenário político e econômico, não permitem fazer um prognóstico de bom desempenho como os verificados nos últimos três anos. “A ambição da indústria em 2022 é manter a sustentabilidade do setor frente a um ambiente terrivelmente pressionado”.
De janeiro a março foram despachadas 14,8 milhões de toneladas de cimento no país, ante 15,16 milhões um ano atrás, o que significou decréscimo de 2,4% na mesma base de comparação. No total, incluindo exportação, as vendas somaram 14,91 milhões de toneladas - retração de 2,2%.
Em março, no entanto, houve uma leve recuperação, com aumento de 0,3% nas vendas, para 5,53 milhões de toneladas. Esse é o patamar médio mensal que o setor busca manter neste ano para, ao menos, repetir 2021.
“O desempenho da indústria não foi pior em março devido à demanda do mercado imobiliário”, afirmou. Entretanto, a performance de lançamentos tende a não se sustentar nesses patamares, uma vez que o aumento de estoque dos imóveis, a queda das vendas e os juros altos devem inibir futuros empreendimentos, destacou a entidade, em nota.
Segundo Penna, a autoconstrução, importante indutor do consumo de cimento, continua desacelerando em virtude do alto nível de desemprego, da menor renda da população (que registrou o menor valor desde 2012) e do crescente endividamento das famílias, que foi a 51,9%.
“Reflexo desse quadro são as sucessivas quedas de vendas de material de construção no varejo verificadas desde meados de 2021, já pelo oitavo mês consecutivo, até fevereiro”, afirma Penna.
A indústria ainda tem ociosidade de 31% na capacidade instalada de produção, de 94 milhões de toneladas por ano. Muitas fábricas e moagens ainda estão hibernadas. Uma aposta é a maior demanda das concessões de infraestrutura licitadas, como saneamento, que consome cimento nas obras de estações de tratamento de água e esgoto. A previsão é que os investimentos de R$ 50 bilhões comecem a decolar no egundo semestre.
“Os lançamentos de imóveis desaceleraram e o Casa Verde Amarela (programa do governo) não cresceu em 2021”, afirma.
Matéria publicada em 12/04/2022