A Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que o mês de março foi fortemente afetado pela pandemia do novo coronavírus, com quedas acentuadas em todos os indicadores: utilização da capacidade operacional, condições financeiras, confiança, expectativas e intenção de investimento.
A atividade industrial na construção se retraiu de forma inédita ante fevereiro, diz a entidade. O índice de evolução do nível de atividade ficou em 28,8 pontos, o que demonstra queda muito intensa e disseminada. Esse indicador varia de 0 a 100, com linha divisória de 50 pontos, que separa aumento e diminuição do nível de atividade.
“É o valor mais baixo da série histórica. Indica recuo de intensidade e disseminação jamais registrados na série mensal”, explica Marcelo Azevedo, o economista da CNI, em comentário enviado à imprensa.
Apesar disso, a queda no emprego não foi tão intensa quanto a retração do nível de atividade. O indicador de evolução do número de empregados registrou 39 pontos, 11 abaixo da linha divisória dos 50. Entre os motivos, estão a rapidez e a surpresa da queda da atividade e a possibilidade de os empresários adotarem medidas temporárias para preservação de empregos, como a redução proporcional de jornada e salário.
“Mas não sabemos como vai ficar nos próximos meses, devido à forte contração da atividade e das expectativas”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, no documento.
Diante da atual conjuntura, as expectativas para os próximos seis meses registraram as maiores quedas observadas na série histórica. Esse fato demonstra a preocupação do empresário da indústria da construção com o futuro imediato.
Os índices de expectativas do nível de atividade e de novos empreendimentos e serviços recuaram 27,4 e 26,6 pontos, respectivamente, na passagem de março para abril. Os indicadores de expectativas de compras de insumos e matérias-primas e do número de empregados recuaram 24,9 e 22,8 pontos, respectivamente, no mesmo período.
Os números de abril representam o patamar mais baixo atingido por todos os indicadores de expectativa desde o início de suas respectivas séries históricas mensais.
O índice de Confiança do Empresário da Construção (Icei-Construção) registrou 34,8 pontos no mês passado, após cair 24,5 pontos, o maior recuo mensal da série. Com a queda, o Icei-Construção recuou para o menor valor da série desde outubro de 2015, quando registrou 34,4 pontos.
A falta de confiança traduz o cenário atual de forte contração na atividade e elevada incerteza em razão da pandemia de covid-19. Essa falta de confiança dos empresários vai contribuir para a paralisação dos investimentos, ou seja, para o agravamento da crise econômica.
A situação financeira das empresas da construção piorou devido à forte queda do faturamento e do nível de atividade decorrentes da pandemia. A piora nas condições financeiras ocorreu depois de três altas consecutivas dos indicadores ao longo de 2019. A insatisfação com a situação financeira e a margem de lucro operacional de seus negócios retornou aos níveis registrados no início do ano passado.
O índice de satisfação com a situação financeira registrou 38,6 pontos, redução de 6,2 pontos frente ao quarto trimestre de 2019. A queda reverte a maior parte de toda melhora acumulada em 2019.
A lucratividade também foi afetada negativamente, diz a CNI. O indicador de satisfação com a margem de lucro operacional registrou 34,1 pontos após queda de 5,8 pontos em relação ao quarto trimestre de 2019.
O acesso ao crédito também se tornou mais difícil no primeiro trimestre de 2020. O índice de facilidade de acesso ao crédito também recuou 5,4 pontos, de 37,6 pontos para 32,2 pontos.
A sondagem colheu informações com 411 empresas, sendo 143 de pequeno porte, 181 de médio porte e 87 de grande porte, de 1º a 14 de abril.