A indústria cimenteira do país, diante das condições econômicas locais - e até externas -, espera fechar o ano com recuo no consumo do produto na faixa de 2%. Um pouco mais (2,3%) ou um pouco menos (1,5%), num cenário mais otimista. “Com a Copa do Mundo [de futebol, no Catar, que vai de 20 de novembro a 18 de dezembro] vamos perder 0,5% no volume de vendas”, afirma Paulo Camillo Penna, presidente-executivo do SNIC, entidade que reúne os fabricantes de cimento no país.
“O que observamos ao longo do tempo é que o vetor da autoconstrução, que foi determinante para o crescimento da nossa atividade na pandemia, praticamente entrou em colapso a partir de julho do ano passado”, diz o executivo. “Com 13,75% de taxa de juros, investidores no setor da construção de imóveis têm competição desigual com o mercado financeiro, principalmente com renda fixa”, acrescenta Penna.
As vendas de cimento encerram setembro com recuo de 3,8%, na comparação com um ano atrás, informou o boletim mensal do SNIC. Foram comercializadas 5,5 milhões de toneladas. Ante o mês de agosto, a queda atingiu 6,8%.
No acumulado de nove meses, a comercialização de cimento no país somou 47,7 milhões de toneladas, recuo de 3% ao se comparar com igual período de 2021. Tudo indica que o setor terminará o ano com menos 1,25 milhão de toneladas de consumo, admite Penna, ficando em torno de 63,5 milhões de toneladas. “Começamos o ano com o propósito de não perder os ganhos obtidos desde 2019, mas essa perspectiva foi se deteriorando como passar do ano”, afirma.
Pegando os últimos 12 meses, desde outubro de 2021, foram vendidas 62,96 milhões de toneladas, que representou recuo de 2,66% ante igual período anterior, encerrado em setembro do ano passado. As vendas do terceiro trimestre, com 16,9 milhões de toneladas, tiveram queda de 0,6% ante igual trimestre de 2021.
Na indústria cimenteira, a segunda metade do ano é mais forte em vendas. Chega a representar 60% do total. “Temos menos de dois meses - outubro e 20 dias de novembro - para aproveitar. Depois é Copa e as festas de final de ano”, comenta Penna.
O desempenho do setor, com 2% de queda prevista, foi amenizado com a recuperação dos empregos e do PIB, além do arrefecimento da inflação. Outros fatores da economia, no entanto, colaboram para manter o índice na zona negativa, como a taxa de juros ainda elevada e o alto endividamento das famílias no país.
No caso do impacto da Copa Mundial de futebol, o SNIC calcula que, se não tivesse o evento, a indústria cimenteira no país poderia terminar este ano com retração nas vendas de 1,5%.
Entre as regiões do país, só a Norte apresentou alta nas vendas em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2021 - aumento de 8,6%. Porém, segundo o presidente do SNIC, a alta foi fruto na falha na distribuição do material no ano passado, que reduziu a base de comparação. Até setembro, Norte e Centro-Oeste que registraram maiores vendas, de 2% e 1,6%.
“O Centro-Oeste é a única região que continua positiva em relação a lançamentos imobiliários. O que é lançado, vende”, diz Penna. É um reflexo da contínua expansão do agronegócio.
Uma preocupação é o descasamento entre lançamentos de imóveis, em queda de 6% no primeiro semestre, e as vendas, que subiram 1,4%. Ou seja, o número de obras que demandam cimento e outros materiais tende a emagrecer.
O setor ainda continua sob pressão de custos de insumo, informou Penna - 100% de alta no coque de petróleo em 12 meses, até julho; 131% no gesso; 77% em frete rodoviário; 45 em sacaria.
Matéria publicada em 13/10/2022