Mesmo em meio a pandemia e economia incerta, parte da população ainda arranja forças para sair do aluguel e investir na casa própria. Com os juros do financiamento imobiliário mais baixos da história, contra a alta de 32% do valor do aluguel na região, o investimento para adquirir um novo imóvel se tornou mais presente na realidade dos cuiabanos, assim como dos brasileiros.
O perfil econômico mais ‘conservador’ entrou em cena e fez com que a população em geral refizesse as contas do fim do mês. Isso porque, a inflação que corrige os contratos de locação medida pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) atingiu 37% nos 12 meses terminados em maio, o que torna o cenário de quem vive de aluguel mais imprevisível.
A administradora e gerente de uma rede de açaí, Thais Melo (35), foi uma das que viu vantagens em sair do aluguel. Ela, que fechou contrato há poucas semanas, avaliou os benefícios de créditos habitacionais e viu a possibilidade de investir. Segundo a nova proprietária, a parcela do financiamento ficou mais barata e, por isso, decidiu se organizar para comprar o primeiro apartamento.
“Eu nunca tinha imaginado comprar um imóvel antes. Fui me informar, e vi que estava com condições fáceis de pagamento e que a parcela ficaria mais baixa que o aluguel que eu pago atualmente. Sendo que o apartamento que comprei é bem semelhante com o que moro hoje. Com isso, juntei toda a documentação necessária, me organizei financeiramente e entrei no programa habitacional do governo”, contou.
O que aconteceu com a Thais, não foi algo incomum no mercado atual. Segundo o consultor imobiliário e personal broker, Reginaldo Miranda, o comportamento do consumidor está mais assertivo devido às facilidades de pagamento, além da segurança de investir em um patrimônio.
“Antes o comprador tinha dúvidas sobre este tipo de investimento, se o momento era oportuno ou não. Hoje ele está mais seguro e investe sem medo. Isso tanto para quem quer trocar de imóvel para viver melhor, quanto para quem quer sair do aluguel e ter uma casa própria”, observou.
E o que o profissional acabou de dizer é refletido nos números do mercado local. Só neste ano, houve um aumento de 30% na compra e venda de imóveis comparado com o mesmo período do ano passado. “As pessoas querem investir em algo que é seu, mesmo que isso possa apertar no início, mas que seja uma segurança de um patrimônio que é para sempre”, completou.
E isso se encaixa na realidade da jornalista Daniele Danchura (43). Ela, que é casada há quase 20 anos e tem uma filha de 17, sempre viveu de aluguel até achar a casa ideal para a família. Embora o financiamento seja o dobro do aluguel que pagava antes, a comunicadora disse que não se arrepende do investimento.
“A casa é bem o que queríamos, com área extensa, piscina e um espaço confortável para cada um. Hoje pagamos o dobro do aluguel, mas por outro lado é algo que é nosso. Diferente de antes, que você paga e nunca mais vai ver o dinheiro. Essa casa chegou na hora certa e super atende as nossas necessidades”, compartilhou.
Cenário favorável
Na contramão de outros setores durante a pandemia, o cenário do mercado imobiliário se mostrou favorável em todo o país. E um dos pontos motivadores para este aquecimento, foi o programa de crédito nacional que facilita as formas de pagamento dos compradores e, em contrapartida, intensifica o investimento de construtoras que estão de olho nesta fatia da população.
O mestrando em economia, especializado em mercado imobiliário, Fernando Henrique da Conceição Dias, avalia o cenário: “O brasileiro que tem uma renda de R$1,9 mil a R$2,2 mil, ele consegue entrar no programa e comprar uma casa por R$140 mil em média. Dependendo do local e do metro quadrado. Então, com a alta do aluguel, ficou mais rentável você tentar o crédito habitacional justamente por causa da baixa dos juros”.
Ainda conforme o especialista, mesmo que o investimento de longo prazo possa parecer incabível em um momento de crise, este comportamento é mais comum do que se imagina. “Houve uma baixa de juros e o crédito se tornou um pouco mais expansionista. Então a crise favorece o crédito habitacional, e isso faz com que as pessoas possam fazer mais compra de imóveis. E isso acontece muito em época de crise”, destacou.
No entanto, se por um lado há facilidades, por outro o comprador precisa se organizar o mais rápido possível. O personal broker Reginaldo Miranda ressalta o momento favorável. “Não é recomendável deixar a compra para última hora. Faça estudos de mercado, veja as condições e invista logo no seu sonho. Caso contrário, os juros podem aumentar e a compra do imóvel pode ficar inviável, além de continuar em um aluguel caro”, finalizou.