A Caixa Econômica Federal e os empresários da incorporação residencial têm vivido uma verdadeira lua de mel a despeito dos enroscos políticos e econômicos do País. A Coluna presenciou diferentes representantes do banco estatal sendo elogiados publicamente ao longo do último mês em seminários, lives e encontros realizados pelas principais associações do mercado imobiliário, entre elas Secovi, CBIC e Abecip.
O apoio se justifica pelos esforços da Caixa em manter aberta a torneira dos financiamentos que abastecem os projetos do setor mesmo em um período que não foi nada fácil. O crédito imobiliário liberado pela estatal já cresceu 17,16% no acumulado de janeiro a julho deste ano na comparação com o mesmo período de 2021, passando de R$ 77,21 bilhões para R$ 90,46 bilhões.
A mais recente medida foi a extensão dos financiamentos com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de 30 para 35 anos, o que ajuda a diluir o valor da parcela de empreendimentos do Casa Verde e Amarela (CVA) e estimular novos lançamentos e vendas. Essa medida surgiu a partir da sanção presidencial, em agosto, à Medida Provisória 1.107, e colocada em prática pela Caixa rapidamente em 1º de setembro após adaptação dos seus sistemas em tempo recorde.
Governo subsidiou juros da habitação
Isso se somou a outras benesses do governo federal que incluíram aumento de subsídios e corte de juros no Casa Verde e Amarela, recuperando rapidamente as contratações dentro do programa habitacional que haviam caído pela metade nos primeiros meses deste ano. Os empresários suspenderam projetos que ficaram inviáveis devido à explosão nos custos de materiais. A situação, porém, está se normalizando.
Só em agosto, as contratações subiram cerca de 40% em relação ao mês anterior, antecipou a vice-presidente de Habitação da Caixa, Henriete Bernabé, em live organizada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). E em julho já havia subido 20% ante junho. Segundo ela, a Caixa está pronta para acelerar a concessão de empréstimos e utilizar 100% do dinheiro do FGTS carimbado para o setor, tirando o atraso do primeiro semestre.
“O Ministério do Desenvolvimento Regional e a Caixa estão muito atentos e reagindo rapidamente ao movimento de perda de poder aquisitivo das famílias, mas ao mesmo tempo muito responsável para atender as emergências e não exaurir o programa (CVA)”, disse o presidente do Secovi-SP, Rodrigo Luna. “Teremos um segundo semestre melhor que o esperado no Casa Verde e Amarela, recuperando o atraso”, emendou.
“Ao longo desses anos, o relacionamento do setor produtivo entre a Caixa e o governo foi amadurecendo. É um relacionamento mais preparado, adulto e competente”, elogiou o presidente da CBIC, José Carlos Martins. “Como as coisas trabalhadas dão resultado, né?”, acrescentou Martins, que fará uma nova live com a Caixa nesta quinta-feira, 9, desta vez com a nova presidente da instituição financeira.
Troca de presidência foi feita sem problemas
Nos bastidores, donos de incorporadoras lembram que os ajustes no programa habitacional nos governos anteriores exigiam negociações mais longas e desgastantes, com cobranças públicas às autoridades, e que o tempo de adaptação do banco estatal também era maior.
Os empresários da construção também notaram que a Caixa continuou funcionando normalmente mesmo com a mudança em toda a cúpula do banco entre junho e julho. Essa mudança veio após o então presidente, Pedro Guimarães, ter deixado o banco sob denúncias de assédio sexual e de investigações sobre os casos que estavam paradas. Ele foi substituído por Danielle Marques, que fez uma ampla reforma na gestão trocando vice-presidências e diretorias.
E mesmo quando o banco subiu os juros, teve a compreensão do mercado. Em agosto, a Caixa aumentou entre 0,1 pp e 0,5 pp as taxas cobradas em financiamentos com recursos da poupança (destinados a imóveis de médio e alto padrão), que agora giram entre 8,5% a 8,99% ao ano. Como estão mais baratas que nos bancos privados (este cobram na faixa de 9,5% ao ano), ninguém reclamou
Matéria publicada em 07/09/2022