Nos últimos anos, a valorização do uso e da experiência, acima da posse do bem, tem transformado a maneira como empresas e setores econômicos se relacionam com os clientes. Nesse contexto, o setor imobiliário também vem mudando.
Os imóveis fracionados, dentro do mercado de propriedade compartilhada, estão em forte crescimento no país. Segundo a pesquisa “Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedades no Brasil 2019”, realizada pela Caio Calfat Real Estate Consulting, os negócios dessa atividade devem chegar, até o fim deste ano, a um total de R$ 22,3 bilhões em Valor Geral de Vendas (VGV).
“Estamos vivendo o melhor momento da história para o ramo de multipropriedade”, afirma Caio Calfat, que também é presidente da Adit Brasil, entidade especializada no setor, além de vice-presidente de assuntos turísticos e imobiliário do Secovi-SP. “Os brasileiros despertaram para a vantagem de ser dono de uma fração e ter direito a usufruir de um imóvel que eles, provavelmente, não teriam acesso, caso tivessem de comprar sozinhos.”
O estudo indica que o mercado alcançou, até junho deste ano, 92 empreendimentos, apresentando um crescimento de 15% em relação a 2018. Essa taxa de expansão representa cerca de 50% a mais da média do mercado imobiliário no mesmo período.
Decepção - Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o número de contratos para aquisição de imóveis residenciais avançou 9,7% nos primeiros meses do ano e, embora o semestre ainda não tenha um balanço fechado, ficou na casa de 10%.
“O resultado é positivo e, sem dúvida, deve ser comemorado, mas, dada a queda que o setor enfrentou durante a recessão, a fraqueza do mercado no ano passado e a esperança de que a eleição reduzisse as incertezas, a expectativa era de que as vendas estivessem crescendo acima de 15%”, diz José Carlos Martins, presidente da CBIC. “As construtoras esperavam que, passadas as incertezas de 2018, a agenda de reformas seria tocada com prioridade, a economia embalaria e o primeiro trimestre seria melhor.”
Atualmente, o modelo de negócio multipropriedade está em 45 cidades brasileiras e em 16 estados do país. A oferta continua em expansão, sendo o Nordeste a região líder, passando de 17 empreendimentos no ano passado para 25 este ano, seguido pelo Centro-Oeste, com 23, Sudeste, com 21, e Sul, com 18. “O Brasil tem quase 220 milhões de pessoas e uma grande demanda reprimida”, ressalta Juan Ignácio Rodriguez, CEO da RCI para a América Latina, companhia especializada em gestão de compartilhamento de férias. “O turismo vai puxar para cima o mercado imobiliário e toda a economia.”.
Os resultados do setor surpreendem não apenas pelos números, mas especialmente por conta do ambiente de dificuldades na economia, segundo Calfat. “Atingir 92 empreendimentos, depois dos primeiros lançamentos de multipropriedades no Brasil, é um feito considerável para qualquer modelo de negócio, ainda mais sendo um produto de segunda moradia, inédito em termos de conceito, num período de profunda recessão econômica e da maior crise da história do setor imobiliário”, afirma.
A pesquisa aponta, ainda, uma mudança do produto ao longo dos últimos anos no que diz respeito às áreas privativas e ao tempo de uso das cotas ofertadas em porções menores. A construção da segurança jurídica para a multipropriedade foi um dos grandes desafios dos últimos seis anos e também fator determinante para o aumento da confiança para desenvolvedores e compradores. “A aprovação da Lei Federal 13.777/18 foi o resultado de ações de entidades como o Secovi-SP, a Adit Brasil e o esforço coletivo de agentes do mercado, que anseiam por melhores condições para os negócios crescerem.”
Reação - Apesar do crescimento modesto do mercado imobiliário na primeira metade do ano, as vendas e os lançamentos de imóveis residenciais no país devem crescer em torno de 10% a 15% em 2019, de acordo com estimativa da CBIC. A perspectiva é de que a expansão seja puxada pelo segmento de imóveis de médio e alto padrões, em que as moradias são financiadas por linhas bancárias, que utilizam recursos da poupança.
No entanto, os negócios envolvendo as unidades dentro do programa Minha casa, minha vida (MCMV), que contam com financiamento por meio de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), devem permanecer estáveis, considerando que o orçamento do fundo ficou estagnado do ano passado para cá. “Quem vai puxar o crescimento é a habitação de mercado, de médio e de alto padrões”, afirma o presidente da Comissão Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci.
Para o executivo, os lançamentos e as vendas devem continuar saudáveis no segundo trimestre, a despeito do ritmo mais lento de recuperação da economia brasileira. Petrucci destaca, como exemplo, que os lançamentos na cidade de São Paulo em abril foram o dobro do registrado no mesmo mês do ano anterior. “É uma reação que, guardadas as proporções de cada mercado, acreditamos que também vem ocorrendo em várias partes do país”, diz.