Depois de sofrer com a crise econômica nos últimos anos, o setor imobiliário dá sinais de recuperação. Especialistas afirmam que o momento é favorável para quem está em busca da casa própria ou pretende comprar imóveis para investir. Há uma boa oferta de propriedades, e os preços pararam de cair.
A definição do cenário eleitoral, a manutenção da taxa Selic (o juro básico da economia) em 6,5% ao ano – nível historicamente baixo –, o aumento do limite de uso do FGTS para R$ 1,5 milhão e os sinais de retomada do crescimento econômico são as principais justificativas para apostar na aquisição de um imóvel neste momento.
"Acreditamos que o setor está entrando em um novo ciclo de crescimento, que deve durar entre três e cinco anos. Porém, este ciclo não será tão acelerado como foi o anterior. Não veremos mais prédios sendo lançados e inteiramente vendidos em menos de 24 horas", afirmou Marco Saravalle, estrategista da XP Investimentos.
"É a oportunidade de sair na frente. Os preços já não estão mais caindo, estabilizaram-se. Mas ainda é possível pechinchar, porque as construtoras estão terminando de queimar os estoques de imóveis novos. Elas precisam liquidar esses estoques para retomar os lançamentos", disse Tiago Galdino, diretor executivo do site Imovelweb.
Volta à normalidade - A avaliação dos especialistas é que o pior ficou para trás. Depois de enfrentar períodos de intensa recessão e de instabilidade política, a expectativa para 2019 é de aumento da confiança dos consumidores, o que será fundamental para retomada do crescimento econômico.
"As buscas por imóveis em nosso site entre janeiro e setembro deste ano saltaram 35% na comparação com o mesmo período de 2017. Isso é um sinal claro de que as pessoas estão se sentindo mais confiantes, mais dispostas a comprar", declarou Galdino.
"E a tendência é que a procura aumente ainda mais. Até duas semanas atrás, as pessoas estavam mais preocupadas em discutir eleição, brigar com os parentes, bater boca com os amigos. Agora que a situação política está definida, elas devem voltar a olhar para frente, se planejar. Afinal, as pessoas continuam se casando, as famílias continuam crescendo. Devemos voltar à normalidade", disse o diretor do Imovelweb.
Melhora dos cenários político e econômico - Além do consumidor, a confiança da indústria e dos grandes investidores também está voltando. "No começo do ano, a gente acreditava que 2018 seria o ano da recuperação. Daí você teve a greve dos caminhoneiros, que parou tudo. Em seguida, veio a incerteza com as eleições. As indústrias que tinham algum plano de expansão preferiram manter os projetos engavetados. Agora, esses planos devem começar a sair do papel", afirmou Saravalle.
Segundo o especialista da XP, Jair Bolsonaro deverá ter maioria no Congresso, o que facilita a aprovação de reformas estruturais, como a da Previdência. "A oposição não terá votos suficientes para barrar as reformas. Portanto, se a gente tiver um presidente disposto a articular as reformas, ele terá espaço político para fazer isso, especialmente nesse período inicial de governo."
Do lado econômico, Saravalle destaca o controle da inflação, que deve se manter dentro da meta do Banco Central nos próximos anos. "Estamos prevendo um aumento da taxa Selic em 2019 para 8% ou 8,5%, frente aos 6,5% atuais. Mas não descartamos a possibilidade de o Banco Central adiar essa alta devido ao cenário benigno para a inflação."
A manutenção dos juros em níveis baixos barateia o financiamento imobiliário, o que é positivo para quem pretende comprar a casa própria. Para quem planeja investir em imóveis, o juro baixo torna o retorno obtido com o aluguel mais atraente do que o rendimento dos investimentos tradicionais de renda fixa.
Início da recuperação - A rentabilidade média anual dos imóveis na cidade de São Paulo alcançou 5,6% em setembro, ficando pelo terceiro mês consecutivo acima do retorno da poupança (4,55%), segundo o estudo Index SP, divulgado pelo Imovelweb.
Agora, são necessários 17,9 anos de aluguel para recuperar o valor gasto com a compra, tempo 4,4% menor do que um ano atrás. Os motivos, segundo a pesquisa, são a estabilidade no preço de venda dos imóveis e a recuperação no valor da locação.
Em setembro, o aluguel de um apartamento padrão de dois dormitórios (com 65 metros quadrados) na capital paulista aumentou 0,6% em relação a agosto, para R$ 1.745 mensais. Em 12 meses, o aumento no valor da locação foi de 3,4%, ainda abaixo da inflação (medida pelo IPCA-15) acumulada no período, de 4,3%.
O preço de venda de apartamentos desse tipo ficou estável na comparação mensal, com valor médio de R$ 5.992 por metro quadrado. Em termos reais (já descontado a inflação), os preços encolheram 4,5% nos últimos 12 meses.
"Essa estabilização nos preços indica que chegamos ao fundo do vale. Daqui para frente, vamos começar a subir a montanha. Só não sabemos ainda qual é o tamanho dela", disse Galdino, ao comentar a tendência de recuperação nos preços dos imóveis nos próximos meses.
Mercado carioca ainda patina - Segundo os especialistas, o movimento de recuperação do mercado imobiliário pode ser observado nas principais cidades do país, com exceção do Rio. Os grandes eventos ocorridos na cidade nos últimos quatro anos –Copa do Mundo e Olimpíadas– provocaram um excesso de lançamentos de imóveis tanto no segmento residencial como no corporativo.
"O mercado carioca está dois passos atrás em relação ao resto do país. Os preços ainda não chegaram ao fundo do vale. E isso aconteceu não apenas por causa do excesso de oferta. Infelizmente, o Rio experimentou o que tem de pior. Você tem um cenário de violência muito sério, crise financeira do estado, crise na indústria do petróleo, entre outras questões", afirmou o diretor do Imovelweb.