Impactado pela inadimplência ainda em alta, o Bradesco fechou 2016 com queda no lucro. Para retomar o crescimento, o banco espera o crescimento dos empréstimos, a queda nos calotes e também arrecadar mais com tarifas bancárias, como as de conta-corrente.
O lucro do banco no ano foi de R$ 17 bilhões, queda de 4,2% quando comparado ao resultado de 2015. No quarto trimestre, o recuo lucro foi de 3,9%, para R$ 4,4 bilhões.
"Esse resultado exigiu um esforço muito forte da administração porque a gente tinha consciência que 2016 era ano de travessia e essa travessia tinha que ser bem sucedida", afirmou Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco em entrevista para detalhar resultados do ano.
Os dados incluem o desempenho do HSBC Brasil, que foi incorporado aos resultados os banco no terceiro trimestre. O Bradesco comprou a operação brasileira do banco inglês em agosto de 2015 por R$ 16 bilhões, mas a operação só foi aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em junho do ano passado.
O valor emprestados terminou 2016 em R$ 515 bilhões, alta de 8,6% devido a entrada dos créditos que eram originalmente do HSBC. Se os números do banco inglês fossem descontados, a queda seria de 9%. O banco, no entanto, segue restritivo ao conceder novos empréstimos. Entre o terceiro e o quarto trimestre, os empréstimos encolheram 1,3%, especialmente pela pouca disposição do banco em financiar micro e pequenas empresas (-7,3% no período).
"A carteira de crédito caiu 9,2%, o que afetou nossas receitas. Também fomos afetados pela inadimplência e pelas provisões, mas conseguimos compensar com crescimento tarifas e controle de custos", afirmou Alexandre Glüler, diretor vice-presidente do banco.
A inadimplência entre os clientes do Bradesco continua crescendo e alcançou 5,5% em dezembro, ante 4,1% no mesmo mês de 2015. O único segmento que o percentual de calotes dá sinais de queda é o de grandes empresas. Isso ocorre, no entanto, porque uma grande companhia (provavelmente a empresa de sondas Sete Brasil) foi lançada para perdas e deixa de figurar no índice.
"Com a evolução dos nossos índices, nós acreditamos que o pico da inadimplência está ocorrendo agora. Em algumas linhas, pode ser que o pico ocorra talvez no primeiro trimestre", disse Carlos Firetti, diretor de relações com investidor.
Para compensar o crédito em baixa e as despesas com calotes, o Bradesco acompanhou seus pares e arrecadou 12,8% mais com receitas de tarifas em 2016, R$ 3,185 bilhões. O maior crescimento veio do segmento de conta-corrente.
Despesas - As despesas de pessoal do banco saltaram 20%, R$ 2,938 bilhões, devido a reajustes salariais dos bancários e também à chegada dos funcionários do HSBC. As despesas administrativas subiram 17% em 12 meses, para R$ 2,8 bilhões.
O banco, no entanto, fechou 223 agências desde que incorporou os pontos de atendimento do HSBC. Além disso, 1.129 funcionários deixaram o banco entre setembro e dezembro.
A aquisição do HSBC deixou o Bradesco com mais agências e funcionários que seus pares em um momento em que os grandes bancos se fixam em reduzir custos e incentivar clientes a migrarem para os canais digitais.
O Bradesco tem hoje 5.314 agências e 108,8 mil empregados. Os números superam inclusive os da Caixa, que aguarda autorização do governo para realizar um programa de demissão voluntária. A expectativa do banco público é encolher em 10 mil o quadro funcional de 95 mil servidores.
2017 - O banco divulgou suas metas para 2017, com a expectativa de que a carteira de crédito avance entre 1% e 5% no ano.
"O guidance para 2017 tem traços de conservadorismo, com a prudência necessária e correta para o ano de virada", afirmou Trabuco, presidente do Bradesco.
A margem financeira com juros, que é a receita com operações de crédito, deve avançar de 3% a 7% neste ano.
O banco também espera arrecadar entre 12% e 16% mais com tarifas, como a de manutenção de conta. O valor será bem superior à inflação, que deve ficar ao redor dos 4,5% neste ano.
Banco Digital - O Bradesco confirmou que pretende lançar até o final do semestre um banco digital que terá operação independente e estrutura mobile voltada para prestação de serviços ao público entre 25 e 35 anos, mais avesso à burocracia dos bancos tradicionais. O nome da nova instituição não foi revelado, mas o modelo proposto pelo Bradesco, de criar uma nova marca, já foi adotado por bancos europeus.
Carlos Firetti, diretor de relações com investidor, afirmou que o objetivo é mudar a relação com o cliente, trazendo para o banco o conceito de jornada do cliente. Ele não detalhou como isso deve funcionar. Mas quando se fala em jornada de consumo, a ideia é que os produtos financeiros sejam oferecidos conforme o momento de vida do cliente e não apenas pela renda.