Mesmo em meio à pandemia da covid-19, o mercado imobiliário apresenta forte crescimento. Segundo o balanço mensal da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), houve um aumento de 58% nas vendas de novas unidades habitacionais em julho, em comparação ao mesmo mês no ano passado. Ao todo, foram comercializadas 13.023 unidades, no país, o melhor resultado mensal do indicador desde maio de 2014.
Dados do Boletim de Conjuntura do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi/DF), por sua vez, mostram evolução de 40,5% no valor de financiamentos imobiliários nos sete primeiros meses de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com o presidente do Secovi/DF, Ovídio Maia, vários fatores influenciaram o crescimento do setor. Os principais, segundo ele, foram a baixa taxa de juros do crédito habitacional e a própria pandemia da covid-19, que alterou hábitos e necessidades de parte da população.
“Na média, os juros dos financiamentos estão em 5%, 6% ao ano, níveis bastante atrativos para o setor habitacional. Por outro lado, com a pandemia, muitas pessoas foram obrigadas a trabalhar em casa, o que gerou uma demanda para adaptar as residências ou buscar imóveis mais adequados a essa nova necessidade”, diz Ovídio. Além disso, o presidente do Secovi lembra que a economia do Distrito Federal tem como uma das bases o funcionalismo público, que não sofreu impacto nos salários. “Isso ajudou a manter a demanda no setor imobiliário”, acrescentou
O gestor de investimentos da Rio Claro Investimentos, Carlos Faria, explica que o setor de construção e venda de imóveis tem uma importância significativa na economia. “Historicamente, por ser um ramo de capital intensivo e de complexidade maior, envolvendo diversas cadeias produtivas, o segmento imobiliário, quando aquecido, aumenta a confiança do empresariado na economia, o que, por sua vez, tende a beneficiar vários outros setores”, diz.
Com o objetivo de estimular o setor, a Caixa Econômica federal anunciou a substituição da pausa no pagamento do financiamento imobiliário — concedido no início da pandemia — pela possibilidade de o comprador pagar apenas 50% da mensalidade por até 3 meses, ou de 50% a 75% por até 6 meses. A medida entrou em vigor nesta semana. De acordo com a instituição, devem ser concedidos mais R$ 14 bilhões em crédito imobiliário com recursos da poupança até o fim do ano.
Com os juros mais baixos da história — taxa mínima de TR + 6,25% ao ano e máxima de TR + 8,00% — a compra da casa própria ficou mais fácil. Além disso, os imóveis voltaram a ser uma oportunidade de investimento mais atrativa e acessível para quem tem recursos para aplicar.
Novas oportunidades
Neste cenário, o professor Adrian Tobio, 30 anos, morador do Riacho Fundo, viu a chance de comprar seu apartamento. “A facilidade veio na diminuição da taxa de juros, que está bem menor até na comparação com o programa Minha Casa Minha Vida, que eu utilizei na compra do meu primeiro apartamento”, conta Adrian. O professor disse, ainda, ter se beneficiado da carência de pagamento de seis meses, oferecida pela Caixa: “Eu me mudei para o apartamento há quatro meses, e ainda nem paguei a primeira prestação”.
Busca por mais espaço
Além do cenário de juros mais baixos, que estimula as vendas, uma nova tendência ganhou destaque no setor imobiliário com a pandemia do novo coronavírus. Pesquisa recentemente publicada pela consultoria Brain mostra que, ao intensificar a convivência entre os membros das famílias, a crise sanitária acentuou o desejo de muitas delas de trocarem o apartamento por uma casa, em busca de mais espaço e conforto.
O estudo entrevistou 128 pessoas em oito capitais brasileiras. De acordo com o levantamento, 14% das pessoas ouvidas estão procurando terrenos fora das grandes cidades, e outras 27% passaram a valorizar ainda mais as áreas verdes na compra do novo imóvel.
Além disso, pesquisas dos maiores portais do setor imobiliário apontam aumento de 63% na busca por imóveis rurais desde o início da quarentena. Em um ano, a procura nesse segmento subiu 336%.
Para os analistas, a pandemia provocou o que tem sido chamado de ressignificação” do imóvel. O distanciamento social, a maior convivência familiar e a prática do trabalho a distância são motores dessa tendência, que tem ampliado as funções do imóvel residencial. Muitas pessoas e famílias estão precisando de mais espaço, seja para trabalhar em casa ou para proporcionar melhores condições para a vida em família.
A pandemia também motivou as pessoas a repensarem atitudes e hábitos de vida. A servidora federal Romana Picanço, 63, moradora do Lago Norte, está se mudando para o condomínio em que sua filha mora, em Sobradinho, com uma área bem arborizada.
“Eu resolvi me mudar no período da pandemia porque passei muito tempo só, e percebi que poderia morar em um lugar menor”, conta Romana. “Neste momento, a gente tem muitas coisas a rever. Eu estava tendo um custo de moradia muito alto para uma pessoa só”, completou Romana, que agora vai morar perto da filha e do neto. (BP, JS e NB)