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19/03/2020

Com juros em 3,75%, Tesouro Selic pode render menos que inflação

Títulos mais longos, atrelados à inflação ou prefixados, subiram prêmio, mas têm mais riscos para o investidor

Com a taxa básica de juros em 3,75% ao ano, a aplicação no Tesouro Selic deve ter rendimento abaixo da inflação. O que significa que, em um ano, o dinheiro investido ali, perde poder de compra. A conta é simples. Considera-se, para os próximos 12 meses, a inflação projetada para 2020 pelo Boletim Focus, que é de 3,1% . Com a nova taxa de juros, descontadas as taxas e Imposto de Renda, o Tesouro Selic renderia 2,8% em um ano. Sendo assim, a alta de preços da economia seria maior que o rendimento da aplicação. Os cálculos são do professor de finanças da FGV e colunista do Estadão, Fábio Gallo. Mesmo assim, a aplicação segue um pouco acima da poupança – que ficou com rendimento de 2,62% no ano–, seguindo com características importantes em tempos de crise: liquidez e segurança. 

 

As letras de crédito imobiliário (LCI), que paguem 97% do CDI, e CDBs, que remunerem 116% do CDI, seguem ganhando da inflação projetada. Em um ano, estima-se que eles tenham, respectivamente, rendimentos de 3,64% e 3,48%.

Já para o investidor que tem mais prazo para resgatar o investimento e está disposto a correr risco, há outras possibilidades na renda fixa. Em meio à crise causada pela pandemia de coronavírus, títulos atrelados à inflação com vencimento em 2026, por exemplo, aumentaram seu prêmio sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 4,16%. Comvencimento no mesmo ano, os títulos prefixados - que definem no momento da compra toda a remuneração que o investidor terá quando fizer o resgate - apresentam remuneração de 8,32%. Isso acontece porque, apesar do corte desta quarta-feira, 18, promovido pelo Copom, a expectativa do mercado é que, no futuro, os juros voltem a subir. Sendo assim, os títulos que tem prazos mais longos, oferecem uma remuneração melhor.

 

“Podemos dizer que, no momento, as melhores oportunidades estão nos títulos atrelados à inflação e nos prefixados. Agora, os prefixados têm mais risco, já que, caso a taxa de juros ou a inflação subam mais que o esperado, o investidor já aceitou a remuneração”, diz Gallo.

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, os títulos atrelados à inflação até podem ser uma possibilidade nas carteiras dos investidores, mas a recomendação é ficar no pós. “Na nossa visão, o Copom não fará mais cortes e, lá na frente, volta a subir as taxas. Logo, sugiro que o investidor fique no pós fixado”, diz. 

 

O coordenador do laboratório de finanças do Insper, Michel Viriato, diz ainda que a inflação pode arrefecer ainda mais com a crise e fazer o Tesouro Selic, que é um título pós fixado, voltar a ter ganho real. 

FONTE: ESTADO DE S. PAULO