Pressionados para reduzir juros, os bancos públicos e privados devem começar o ano fazendo ajustes das taxas cobradas de pessoas físicas e jurídicas. Eles aguardam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne nos dias 11 e 12 de janeiro, quando o mercado espera um novo corte na Selic (taxa básica) atualmente em 13,75% ao ano e que funciona como um dos balizadores para as condições de crédito no país. Para os analistas, no entanto, o alívio para os correntistas virá de forma gradual e vai variar de banco para banco porque os riscos ainda permanecem elevados, com recessão da economia, desemprego e inadimplência altos.
Um levantamento que a Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) deve divulgar no começo desta semana já vai confirmar uma pequena queda nos juros médios para pessoas físicas e jurídicas, em dezembro. Será o segundo recuo em dois anos. De acordo com os dados mais recentes da entidade, os juros cobrados de pessoas físicas estavam em 157,47% ao ano em novembro, com destaque para a taxa do cartão de crédito, que chegava a 459,53% ao ano. Para empresas, a taxa média estava em 75,93% ao ano.
— Com a consolidação da trajetória de queda na Selic, na próxima semana, podemos esperar a continuidade da redução dos juros. Mas, serão quedas pontuais. Nada significativo, por enquanto. Se de um lado, há uma enorme pressão sobre os bancos para reduzir juros, do outro, há um ambiente de manutenção das taxas por causa do risco — disse Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac.
O mercado está dividido sobre a expectativa de corte na Selic — entre 0,5 e 0,75 ponto percentual, levando-se em conta a curva de juros futuros, em baixa. O ritmo fraco da atividade econômica e a trégua da inflação justificariam um corte mais acentuado na visão dos analistas. Porém, há muitas incertezas no cenário interno e externo.
Bancos públicos puxarão queda - Para o economista da Guide Investimentos, Ignácio Crespo, o Copom deverá continuar na linha conservadora e reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual. Os bancos devem começar a reduzir suas taxas, mas também com cautela.
— A taxa Selic baliza os juros cobrados dos bancos, mas acho que elas ainda vão continuar cautelosos. A queda dos juros e a renegociação de dívidas ajudaram a segurar a inadimplência — destacou Crespo.
Segundo um interlocutor dos bancos, depois da cobrança do governo e da pressão do Congresso, as instituições financeiras já articulam uma resposta à sociedade. Assim, a expectativa é que qualquer redução de custo deverá ser repassada aos consumidores.
— Há um incentivo adicional para reduzir os juros — disse a fonte.
Assim que o Copom reduziu a Selic para 14% ao ano em outubro, depois de um longo período com a taxa em 14,25% ao ano, a Caixa Econômica saiu na frente e cortou os juros do crédito habitacional. Em novembro, a Selic baixou novamente para 13,75%, mas a Caixa manteve os percentuais diante da necessidade de fechar o balanço e apresentar resultado. Essa foi também a preocupação de outras instituições, como Banco do Brasil (BB) e concorrentes privados.
Com o novo corte na Selic, os bancos públicos deverão novamente puxar o movimento de ajustes nas taxas, mas de forma prudente, segundo uma fonte do governo e longe do que foi feito em 2012, na gestão Dilma Rousseff. No caso da Caixa, a expectativa é de cortes nas linhas para pessoas físicas e jurídicas, sem alteração nos empréstimos habitacionais por enquanto.
No BB, haverá um ajuste fino nas linhas, caso a caso e em modalidades onde há gordura para queimar, disse uma fonte. Os detalhes não são divulgados com antecedência por questões estratégicas. Os bancos privados também deverão seguir o comportamento.
Para o presidente do BB, Rogério Caffarelli, as condições para a queda nos juros já estão postas.
— A conjuntura econômica, as expectativas de queda na inflação para 2017 e a aprovação de importantes medidas no Congresso para equilibrar o quadro fiscal do país abrem espaço para os bancos reduzirem os juros de forma inequívoca e assim, contribuírem para a retomada do crescimento — disse Caffarelli.
Educação Financeira - O banco informou que vai refinanciar o rotativo do cartão de crédito para dois milhões de clientes e fará campanha de educação financeira. A Caixa também vem, desde o fim do ano, em campanha para renegociar a dívida dos correntistas e deverá apresentar balanço anual com recorde de queda nos atrasos.
Segundo dados do Banco Central (BC), o valor total renegociado atingiu R$ 29,2 bilhões em novembro. No ano, a alta foi 8,2 pontos percentuais e em 12 meses, de 9,1 pontos.