Notícias

04/11/2015

Com lucro em alta, bancos elevam reservas contra calotes

Se os balanços vêm mostrando resultados exuberantes, também se destacam os chamados índices de cobertura para possíveis calotes.

Ronaldo D’Ercole

Maior banco privado do país, o Itaú Unibanco repetiu o rival Bradesco e anunciou lucro 10% maior no terceiro trimestre, de R$ 5,9 bilhões. No ano, o crescimento foi ainda maior: 19,9%, somando R$ 17,6 bilhões — no Bradesco, o ganho em nove meses foi de 15,7%, para R$ 12,83 bilhões. Mas as incertezas do ambiente doméstico e o aprofundamento da recessão assustam as instituições, que vêm aumentando pesadamente as provisões contra o calote nos financiamentos.

Se os balanços vêm mostrando resultados exuberantes, também se destacam os chamados índices de cobertura para possíveis calotes. No Itaú, esse índice atingiu 214% dos empréstimos vencidos há mais de 90 dias — ou seja, para cada R$ 1 em crédito em atraso, o banco tem provisionados R$ 2,14. Bem acima dos níveis históricos de cobertura da instituição, que variavam entre 150% e 180%. No Bradesco, o salto se repete: de 180% para 205%. No Santander, passou de 170% para 185%.

— (A inadimplência) deve continuar a subir enquanto esse cenário se mantiver — justificou Marcelo Kopel, diretor de RI do Itaú Unibanco, citando linhas sem garantias, como as do cheque especial e o crédito rotativo dos cartões de créditos, como as mais vulneráveis ao aumento da inadimplência.

As linhas voltadas a pessoas físicas do Itaú, aliás, foram a que registraram aumento mais expressivo da inadimplência, de 4,6% em junho para 5,1% no fim de setembro.

— Essas são linhas mais vulneráveis ao ciclos econômicos. E, num ambiente econômico mais lento, existe a tendência de subida da inadimplência — disse Kopel.

Linhas de menor risco

No entanto, observa-se uma desproporção entre o aumento efetivo da taxa geral de inadimplência das instituições e o crescimento das provisões. O índice de inadimplência para créditos vencidos há mais de 90 dias do Itaú, por exemplo, cresceu 0,1 ponto percentual ao fim de setembro, em relação ao mesmo mês de 2014, de 3,2% para 3,3%. 

Levantamento realizado pela Austin Rating mostra que as despesas com provisões do Itaú Unibanco cresceram 84,4% em 12 meses até setembro, enquanto no Bradesco o avanço foi de 489,2% no mesmo período.

Segundo João Augusto Salles, analista de bancos da consultoria Lopes Filho, o movimento dos grandes bancos em reforçar seus índices de cobertura sinaliza, sim, a expectativa de aumento da inadimplência à frente:

— A inadimplência vai recrudescer, e os números do Itaú para o calote de pessoas físicas, que subiu 0,5 ponto percentual no trimestre, já sinalizam isso. Não deverá haver uma explosão do calote como em outras crises, porque os bancos ajustaram suas carteiras a um risco maior nos últimos três anos, dando prioridade a linhas de menor risco.

Essa cautela maior na concessão de financiamentos fica evidente quando se observa a evolução da carteira do Itaú Unibanco. A carteira total ajustada (que inclui fianças, avais e títulos privados) cresceu 10,1% em 12 meses, alcançando R$ 590,7 bilhões em setembro. Descontados os efeitos da valorização do dólar, que afetam tanto os saldos de parte dos empréstimos corporativos como as operações do banco no exterior, houve um encolhimento de 0,4% no saldo de operações de financiamento em relação a setembro de 2014.

Já os financiamentos com inadimplência historicamente menor, como crédito imobiliário e consignado, cresceram 21,5% e 25,4%, respectivamente, frente a setembro de 2014.

A estratégia mais cautelosa com relação ao maior risco de crédito fica clara quando se olha a composição do lucro do Itaú no terceiro trimestre: R$ 3,4 bilhões, ou 55% do total, vieram das receitas de serviços, tarifas bancárias e seguridade. As atividades de crédito propriamente ditas responderam por 41%. Com “excesso de capital”, já que a demanda por financiamentos está baixa, 4% dos ganhos vieram da aplicação desses recursos no mercado.

— Em momentos de incerteza, como o atual, os investidores correm para os grandes bancos em busca de menor risco. E o Itaú Unibanco, assim como o Bradesco, tem custo de captação bastante competitivo, pagando aos investidores cerca de 85% da remuneração dos CDIs. Ao aplicarem esse dinheiro em títulos do Tesouro, conseguem 100% da Selic (14,25%), e em títulos privados, até 110% do CDI — diz Salles. 

 

FONTE: O GLOBO