A MRV (MRVE3), maior construtora da América Latina, teve um prejuízo líquido atribuído aos acionistas de R$ 104,29 milhões no primeiro trimestre deste ano. O resultado ajustado, no entanto, mostra um lucro de R$ 53,96 milhões no período – o primeiro no positivo desde o primeiro trimestre de 2022. Os números foram divulgados na noite desta quarta-feira, 8.
O lucro ajustado da MRV exclui os efeitos de uma operação de recompra de ações via equity swap, além da marcação de swap e dívidas. “No primeiro trimestre tivemos uma queda forte das ações que trouxe um valor negativo contábil, mas com impacto zero na operação”, explica Ricardo Paixão, CFO da MRV, em entrevista à EXAME.
As ações da MRV foram uma das principais baixas do Ibovespa no primeiro trimestre, com queda de 30%. Os investidores estavam receosos com a possibilidade da construtora revisar seu guidance – o que acabou confirmado pela empresa apenas no MRV Day, em meados de março. “A divulgação tirou muito do ruído que havia em torno do papel e reduziu a margem de discussão do resultado”, disse Paixão.
Com o balanço do primeiro trimestre, a companhia quer mostrar que as projeções apresentadas aos investidores no MRV Day já estão dando resultados. Os principais destaques, segundo o CFO, estão na margem bruta e no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), principal indicador de caixa operacional.
A margem bruta da MRV subiu 1,9 ponto percentual (p.p.) na comparação anual, para 25,9%. Já o Ebitda alcançou R$ 241 milhões no primeiro trimestre, ganho de 111% frente ao mesmo período do ano anterior. “São indicadores que mostram a melhora operacional, que tem se transformado em melhora financeira.”
Para fechar o descompasso entre o operacional e a última linha do balanço, a solução é “construir o que já foi vendido”. Isso porque o resultado das vendas não afeta imediatamente a linha final do balanço, já que a apropriação da venda é contabilizada à medida que a obra avança.
A companhia somou R$ R$ 2,13 bilhões em vendas líquidas no 1º trimestre de 2024, alta de 18,4% em comparação com igual período de 2023. A velocidade de vendas (VSO), por sua vez, foi de 33,1% no período, crescimento de 11,1 p.p. em base anual.
Foco na incorporação
A MRV&Co anunciou neste ano que a missão das subsidiárias Urba, Luggo e Resia é não consumir caixa. O foco principal da empresa voltou para a divisão de incorporação da MRV, seu principal negócio, que inclui as marcas MRV e Sensia. Nessa frente, o plano de recuperação da empresa ganhou um impulso importante do cenário macroeconômico, que tem sido um céu estrelado para a construção de baixa renda.
A bonança começou a tomar forma no ano passado com a reformulação do Minha Casa, Minha Vida, que expandiu as faixas de atuação do programa. E este ano, vieram duas mudanças em termos de financiamento. Uma foi a volta da tributação especial de 1% – ao invés dos anteriores 4% – via o Regime Especial de Tributação, ou RET. O regime é aplicado para projetos de incorporação de imóveis de interesse social. A segunda é o FGTS Futuro, mecanismo que libera o saldo ainda não depositado do FGTS para o financiamento imobiliário, aumentando indiretamente a renda de quem solicita o financiamento.
“Este é o melhor Minha Casa, Minha Vida de todos os tempos: o cliente nunca teve tanta condição de comprar quanto tem hoje. Brincamos internamente que este é o momento de ‘encher o cantil’: fazer safra de vendas e colocar um preço competitivo”, afirma Paixão.
O tíquete médio das unidades vendidas subiu de um preço de R$ 218 mil para R$ 248 mil. Apesar da alta, o foco da MRV não está em aumentar ainda mais os preços das unidades, mas sim reduzir a concessão de crédito. “Vamos continuar subindo o preço um pouco acima da inflação, mas o principal indicador que buscamos é reduzir a concessão de crédito.”