A Gafisa entra em nova fase com a definição sobre sua capitalização, a eleição de conselho de administração - que tem entre seus membros o investidor Nelson Tanure -, o encaminhamento para que ele se torne um acionista relevante e a autorização para ampliar seu escopo de atuação. A companhia busca estratégia para obter recursos de US$ 150 milhões, incluindo a primeira tranche do aumento de capital e instrumentos de dívida. Segundo o presidente, Roberto Portella, a Gafisa quer um choque de gestão para ter melhor uso do caixa. "Precisamos ver se estamos perdendo oportunidades de mercado", disse Portella.
Até o fechamento desta edição, o preço da ação na capitalização não tinha sido divulgado. "Todas as variáveis que afetam economia do negócio serão consideradas para definição de preço de ação na capitalização", disse o presidente da Gafisa em coletiva de imprensa. A Eleven Research definiu o laudo de preço para as ações.
Ontem, as ações da companhia tiveram queda de 4,48%, para R$ 7,47. Desde 15 de março, os papéis caíram 17%. A média das cotações de fechamento entre 15 de março e 15 de abril foi de R$ 8,57.
Conforme antecipado pelo Valor, a capitalização será realizada em duas etapas. A primeira tranche abrange a subscrição do volume de papéis adicional aos atuais 43.358 milhões de ações para que o limite do capital autorizado de 71 milhões de ações seja alcançado. O exercício do direito de preferência dos acionistas para a primeira tranche ocorrerá em até 30 dias.
Planner e Planner Redwood são as maiores acionistas da Gafisa, com fatia conjunta de 18,55%. Segundo fonte, a participação de Tanure dependerá "da receptividade da emissão de ações e de conversas futuras com os atuais acionistas". Portella informou que Tanure possui 500 ações da Gafisa e pode comprar a participação da Planner, além de ficar com as sobras dos acionistas que não exercerem o direito de preferência. Por outro lado, o presidente da Gafisa disse que Planner Redwood e Tanure estão conduzindo processo de capitalização e que a gestora poderá subscrever ações da empresa.
Segundo Portella, a Gafisa vai estimular que os acionistas atuais e futuros subscrevam ações. "Precisamos de caixa e vamos mostrar ao mercado que estamos fortalecidos por investidores. Existe um entusiasmo muito grande em relação à próxima subscrição", disse.
No próximo dia 23, haverá votação do aumento do limite do capital autorizado da Gafisa para 120 milhões de ações. Na AGE de ontem, não houve quórum mínimo para deliberar sobre o tema. A companhia espera que, em até 90 dias, seja concluída a segunda etapa da capitalização até esse limite de 120 milhões de papéis.
Companhia vai estudar os efeitos dos atos da GWI e avaliar tanto a administração, como as demissões ocorridas
Ontem, foi aprovada a possibilidade de captação de debêntures conversíveis mandatórias no Brasil ou exterior. Trata-se de títulos de dívida que, com prazo definido em contrato, se convertem em ações no vencimento, sem resgate em dinheiro. Tanure poderá participar também da subscrição dessas debêntures. A companhia aprovou também a emissão de debêntures privadas de R$ 40 milhões para desenvolvimento de dois projetos imobiliários. Em 31 de dezembro, a Gafisa tinha dívida bruta de R$ 889,4 milhões, dos quais R$ 348,4 milhões vencem até o fim de 2019.
Foi eleito novo conselho de administração que, além de Portella e Tanure, tem os nomes de Antonio Carlos Romanoski, Demian Fiocca, Eduardo Jácome, Thomas Cornelius Azevedo Reichenheim e Leo Julian Simpson. Segundo o presidente da Gafisa, o novo conselho terá "muito mais intimidade" com os executivos e perfil mais contributivo. "O conselho vai ter atividade hercúlea nos próximos anos."
Portella lamentou a decisão de Augusto Marques da Cruz Filho de renunciar ao conselho, do qual era presidente. Segundo Portella, André de Almeida, que chegou a fazer parte da chapa que concorreu ao conselho, não pode participar do colegiado da empresa por conflito de interesses. Almeida é advogado da companhia e foi advogado de Mu Hak You, da GWI Group, que já foi o maior acionista da Gafisa.
O GWI não é mais acionista da Gafisa. A companhia vai estudar os efeitos dos atos da GWI e avaliar tanto a administração, como as demissões ocorridas. "Há suspeita que a decisão em relação às demissões não tenha sido acertada", disse Portella. A Gafisa vai avaliar também a recompra de ações pela gestora de Mu Hak. Em janeiro, o GWI chegou a ter 50,17% das ações da Gafisa, mas não publicou edital de oferta pública de aquisição (OPA) pela totalidade dos papéis.
Outro ponto que será avaliado pela Gafisa é o destino dos recursos do aumento de capital ocorrido em fevereiro de 2018. Segundo o presidente, a empresa tem seis empreendimentos ligados, diretamente, à própria holding e não enquadrados em sociedades de propósito específico (SPEs) e, por causa disso, não conseguiu obter financiamento para esses projetos. Segundo ele, o caixa da incorporadora foi queimado em vez de usado na atividade da empresa.
Conforme Portella, a recuperação judicial da Gafisa nunca foi cogitada. "Falar em insolvência e 'haircut' [desconto] de dívidas está em um plano que não consideramos", disse Portella. Ele acrescentou que é preciso "administrar bem passivos e contingências", mas que a Gafisa poderá contestar débitos. O executivo ressaltou que a companhia não está insolvente, que está cumprindo contratos e tem patrimônio líquido positivo.
A Gafisa terá comitês de governança, consultoria, reestruturação e investimento. Consultorias darão suporte à avaliação de sua situação, do mercado e de produtos em que irá atuar. A incorporadora avalia ter presença no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, em parcerias público-privadas (PPPs) e em outros segmentos. "Não podemos errar, já há erros demais na história da companhia", disse o presidente. A entrada na baixa renda é "um ponto de interrogação para a Gafisa", segundo Portella.