A economia envolta em uma névoa de incertezas não comprometeu os resultados da MRV. A maior construtora da América Latina obteve no primeiro trimestre do ano resultados que apontam para a direção oposta à da lenta retomada do país.
Com um lucro líquido de R$ 189 milhões, a empresa fundada por Rubens Menin, atualmente presidente do conselho de administração, conseguiu nos primeiros três meses de 2019 o melhor resultado da sua história no período. Essa soma representa um aumento de 18% no comparativo com os valores gerados entre janeiro e março de 2018.
Outro destaque foi o ROE (na sigla em inglês, retorno sobre o patrimônio, usado para medir a capacidade de agregar valor de uma empresa a partir de seus próprios recursos e do dinheiro de investidores) anualizado de 15,6%, que representa um aumento de 4,2 pontos percentuais na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.
A receita líquida da MRV chegou a R$ 1,5 bilhão, o que significou um aumento de 23% na comparação com o primeiro trimestre de 2018. O Ebitda (na sigla em inglês, lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a R$ 273 milhões, crescimento de 19%.
Transformação - Segundo Ricardo Paixão, diretor executivo de Finanças e de Relações com Investidores da MRV, o aumento da receita líquida reflete a transformação operacional pela qual a empresa passa. Boa parte desse comportamento dos números da empresa tem a ver com a adoção em uma velocidade cada vez maior de tecnologias que colaboram com o ganho de produtividade das obras.
Uma dessas tecnologias é a que permite a utilização de formas de alumínio nos projetos — hoje o seu uso já chega a 89% do total da produção. Segundo o executivo, até o fim do ano, esse número estará perto de 100% das obras. A companhia também tem acrescentado aos canteiros de obras kits prontos para serem instalados nos ambientes do imóvel. É o caso das portas, que chegam aos empreendimentos fechadas, em pacotes, totalmente montadas — incluindo batentes e trincos.
Esse tipo de estratégia tem impactado na velocidade das obras. Enquanto no sistema tradicional um empreendimento leva cerca de 18 meses para ser concluído, com essas tecnologias o prazo cai para 10 meses.
Nos primeiros três meses de 2019, a MRV teve um aumento de 49% nas unidades produzidas (concluídas, porém, não entregues aos proprietários) em relação a igual período de 2017. Foram 9.880 unidades produzidas, ou seja, um aumento de 24% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Com um ciclo de produção cada vez menor, a companhia tem conseguido um maior giro do ativo e maior retorno dos projetos.
Reação positiva - “Produzimos mais a um custo melhor, essa é uma das razões para conseguirmos um lucro recorde”, explica o diretor. Segundo Paixão, o que faz com que a MRV se descole do momento ruim da economia é o fato de fazer imóveis em um segmento em que o deficit habitacional no Brasil é muito grande ainda.
Na análise do executivo, outras construtoras deverão apresentar um resultado positivo no primeiro trimestre, com a diferença, lembra, que a base da MRV é muito maior. Paixão acredita que a reação do mercado de capitais será bem positiva diante desses números — estimava-se um lucro menor do que o alcançado, entre R$ 165 milhões e R$ 170 milhões. “Se conseguimos esse resultado agora, com os dados macroeconômicos ruins, imagine com aprovação das reformas e com o incentivo ao crescimento da oferta de imóveis para a baixa renda”, lembra Paixão.
O esforço da empresa para reduzir despesas e aumentar eficiência não se restringe apenas aos canteiros de obras. A MRV também vem buscando formas de aumentar a eficiência e reduzir as despesas na sua estrutura comercial e administrativa.
Os números também são favoráveis aos acionistas. Em 2019, foi aprovado o Dividendo Mínimo Obrigatório de R$ 164 milhões e os Dividendos Extraordinários serão de R$ 328 milhões, a serem distribuídos no segundo semestre. Eles correspondem a um dividendyield (ou rendimento do dividendo) de 8,8%.
A transição para o novo governo também teve seus reflexos em alguns números da companhia e no setor como um todo — principalmente entre aquelas construtoras que têm sua geração de caixa amarrada à faixa 1 do programa federal de habitação Minha Casa Minha Vida. No caso da MRV, houve um atraso nos repasses de janeiro e parte de fevereiro, o que, segundo Paixão, já foi normalizado e deverá ter impacto no desempenho do segundo trimestre.
A consequência, segundo o diretor da companhia, foi que houve um volume substancial de vendas não reconhecidas no primeiro trimestre, já que no modelo “venda garantida” adotado pela MRV a operação só é de fato registrada depois de o repasse ocorrer. A normalização dos pagamentos por parte do governo federal ocorreu em março. “Ainda assim, as vendas líquidas chegaram a R$ 1,3 bilhão, totalizando 8.665 unidades”, diz o executivo.
Com a evolução do projeto “venda garantida”, a construtora tem conseguido reduzir o ritmo de distratos (contratos rompidos unilavteralmente), que chegaram a 11,4% — retração de 6,41 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Esse comportamento contribui para o aumento das vendas líquidas.
Por sua vez, foi no primeiro trimestre que a construtora mineira assinou o primeiro projeto da parceria acertada com o Santander — um empreendimento em Curitiba enquadrado no SBPE. O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo utiliza recursos próprios para facilitar aos clientes a aquisição de imóveis, dispensando limite de renda e permitindo que o financiamento seja feito dentro ou fora do Sistema Financeiro de Habitação. Essa mesma modalidade já é oferecida em parceria com a Caixa e a MRV admite que já está conversando com outras instituições financeiras.
A MRV chegou a 31 de março com um endividamento total de R$ 2,951 bilhões, integralmente em moeda nacional, indexado principalmente à variação do certificado de depósito interbancário (CDI) e taxa referencial (TR). Ao longo de 2018 e os primeiros três meses deste ano, a construtora conseguiu amortizar as dívidas de financiamento à construção com juros prefixado de até 8,84% ao ano.