A MRV Engenharia tem apostado no longo prazo ao tomar decisões de destinação de caixa, investimentos em terrenos e definir sua atuação. A intenção é estar preparada para quando a economia voltar a crescer. A companhia quer elevar o patamar de referência para lançamentos, vendas e produção de 40 mil unidades para 60 mil unidades, mas não informa o período projetado para alcançar essa nova meta. No curto prazo, a MRV estima crescimento de 10% ao ano, a partir de 2017, de olho na demanda superior à oferta no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Maior incorporadora do país, a mineira MRV investiu R$ 657 milhões em terrenos nos últimos três anos. O estoque de áreas corresponde ao Valor Geral de Vendas (VGV) potencial de R$ 39,6 bilhões. Das 143 cidades em que atua, a empresa considera que tem volume equilibrado de empreendimentos em 112 delas e potencial para elevar lançamentos nos demais. Inspirada na forma de atuar do varejo, a MRV trata suas microrregiões de atuação como "lojas" que precisam ser abastecidas, adequadamente, com produtos.
A MRV é presidida, em conjunto, por Rafael Menin e Eduardo Fischer, respectivamente, filho e sobrinho do fundador e presidente do conselho de administração, Rubens Menin.
O compartilhamento da gestão é o que torna possível, segundo os co-presidentes, atender a todas as demandas do dia a dia da empresa. Os dois assumiram o leme em abril de 2014, quando o fundador deixou a liderança executiva e se manteve presidente do conselho de administração.
Todas às segundas-feiras, o trio se reúne durante duas horas para tratar de questões estratégicas da companhia. Apesar da personalidade forte do fundador da MRV, os co-presidentes dizem ter autonomia na tomada das decisões cotidianas. Rafael Menin é responsável por área formada por Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Centro-Oeste e Nordeste, enquanto Fischer lidera as atividades de São Paulo e da Região Sul.
Segundo os executivos, para evitar que haja "duas MRVs", diferentes, é preciso ter disciplina e tomar, em conjunto, as decisões mais relevantes. Em caso de divergências, a questão é tratada pelo tripé formado por eles e pelo fundador da empresa, o qual também participa de deliberações por meio de comitês de terrenos, produção, comunicação e risco. A atuação dos diretores-executivos contribui para garantir uniformidade na atuação da empresa nas duas grandes regiões.
Menin e Fischer dizem ter perfis parecidos: são objetivos, racionais e não costumam agir por impulso. São também torcedores fanáticos do Clube Atlético Mineiro. Os dois começaram a trabalhar na MRV com 18 anos e não passaram por outra empresa. Menin vai completar 36 anos neste mês, e Fischer tem 43 anos. Fazem parte de uma família de engenheiros desde a geração dos avós. A avó, aliás, foi a terceira engenheira a se formar em Minas Gerais.
Segundo Fischer, os dois têm uma "ligação umbilical" com a MRV. "Nós nos preocupamos com o longo prazo e com a perenidade da companhia", diz o executivo. Menin destaca que houve um processo de transição até os dois assumirem a liderança da companhia: "fomos diretores regionais, vice-presidentes e só então co-presidentes".
Fischer e Menin mantêm o ritmo de acompanhar obras em todo o país depois de terem se tornado co-presidentes. Durante dois ou três dias da semana, decolam às seis da manhã, pegam uma van em alguma cidade de destino da respectiva região de atuação e visitam vários empreendimentos até o início da noite. Os dois moram na capital mineira, mas Fischer passa parte da semana em São Paulo.
Além da divisão geográfica, cada um é mais responsável por áreas específicas. Menin, mais detalhista em processos, responde pelas áreas administrativas e financeira, enquanto o jurídico e as relações institucionais da MRV ficam mais por conta de Fischer.
Com foco no longo prazo, a incorporadora destinar sua geração de caixa principalmente para investimentos - parte deles, em terrenos, apesar de já ter um estoque considerável de áreas, suficiente para sete anos de lançamentos. Em 2017, o patamar de compras deste ano deve ser mantido. A expansão até que a MRV alcance o patamar de 60 mil unidades por ano será paulatina. A companhia já tem estrutura para chegar à marca de 50 mil unidades.
Em 2016, a companhia lançou menos empreendimentos do que projetava devido aos prazos mais longos do que os esperados para obtenção de licenças. Menos lançamentos e maior rigor na concessão de crédito pelos bancos resultaram em vendas abaixo da expectativa. De janeiro a setembro, a MRV lançou R$ 2,92 bilhões, 5% a menos do que no mesmo período de 2015. As vendas líquidas chegaram a R$ 3 bilhões, com expansão de 6,6%. Foram comercializadas 35,78 mil unidades.
Nos últimos anos, a MRV elevou margens, como resultado mais da redução de custos do que da alta de preços. Há expectativa de continuidade de melhora das margens. Investimentos em produtividade e mudanças nas obras contribuem para o aumento da rentabilidade. Exemplo disso é a fatia de obras em parede de concreto, que deve sair de 30% para 50%, no fim de março, e para 70% no fim de 2017.
Os executivos informaram também que a MRV espera reduzir custos com contingências no próximo ano e, principalmente, em 2018. Parte da queda esperada resulta de ter deixado de ter obras em atrasos. A citação, no contrato de compra de venda, de quanto do valor pago pelo cliente se refere ao imóvel e quanto à corretagem também ajuda a evitar processos.
A MRV só realiza vendas quando há financiamento bancário garantido ao cliente, o que reduz a possibilidade de distrato futuro e contribui também para diminuir potenciais contingências decorrentes das rescisões.