Por Carlos Rydlewski
Desde agosto de 2023, o Banco Central (BC) promoveu seis cortes seguidos da taxa básica de juros, a Selic, que caiu de 13,75% para 10,75% ao ano no período, numa redução de 3 pontos percentuais. Agora, a pergunta que fica é como estão os juros cobrados pelos bancos nesse novo cenário.
Uma análise realizada pelo economista Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), mostra que as instituições financeiras estão reduzindo os juros das operações de crédito – e numa proporção que não deixa de ser surpreendente.
Marçal observa que a média do spread bancário, que consiste na diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar para seus clientes e a taxa que ele mesmo paga ao captar o dinheiro, caiu em um período de sete meses. Ela era de 21,98%, em maio do ano passado, e foi a 19,41%, em janeiro deste ano, quando o BC divulgou o último dado disponível sobre o assunto.
“Isso quer dizer que o custo do empréstimo, em média, caiu 1,5% a mais do que a Selic nesse período”, diz o economista. “Ou seja, proporcionalmente, as condições de crédito estão melhorando mais do que a queda da taxa básica de juros do país.”
O professor da FGV EESP observa que os dados que usou como base para a avaliação incluem o spread médio de todos os tipos de operações de crédito. Isso vale para empréstimos para pessoas físicas e jurídicas, além de cartões de crédito, por exemplo.
Avanço dos empréstimos
Nessa mesma linha, e de acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o saldo total da carteira de crédito deve aumentar 0,5% em fevereiro. O crescimento deve ser liderado pelo crédito às famílias (+0,6%), com destaque para as linhas de crédito pessoal e de veículos, além da retomada do rotativo.
Com isso, o ritmo de expansão anual da carteira deve voltar a acelerar, passando de 7,6% para 8,1%. É preciso notar, ressalta a Febraban, que o avanço em 12 meses é beneficiado pela fraca base de comparação de fevereiro de 2023 (0%), quando o crédito livre às empresas caiu 1,1%, afetado pelos casos da Americanas e da Light.
As projeções da Febraban foram feitas com base em dados consolidados dos principais bancos do país, que representam, a depender da linha de crédito, de 41% a 88% do saldo total do Sistema Financeiro Nacional. O levantamento da Febraban é divulgado mensalmente como uma prévia dos dados oficiais, que estão programados para serem divulgados no dia 26 de março, pelo Banco Central nas Estatísticas Monetárias e de Crédito.
Na avaliação de Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban, o avanço em fevereiro é resultado, sobretudo, do crédito livre às empresas, diante da dissipação dos primeiros efeitos gerados pela crise dos eventos Americanas/Light no mesmo período do ano passado.
“Ainda assim, esse é um segmento que segue inspirando cautela e deve apresentar números modestos neste começo de ano”, diz Sardenberg. “Por outro lado, o crédito às famílias dá sinais mais sólidos de retomada.”
Mudança de tom
Esse ao menos era o cenário que vinha se desenhando até agora. Na quarta-feira (20/3), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC anunciou o sexto corte seguido de 0,5 ponto percentual da Selic, agora fixada em 10,75% ao ano. Algo que, em tese, deveria acentuar a tendência de ampliação e redução do custo dos empréstimos.
No comunicado que emitiu sobre o corte, o Copom confirmou que, mantidas as atuais condições de voo da economia tanto nacional como mundial, haverá mais um talho nos juros de 0,5 ponto percentual em maio. A Selic vai a 10,25% ao ano, portanto.
O colegiado do BC, contudo, não confirmou novas quedas do mesmo tamanho, como vinha fazendo nos comunicados anteriores. A mudança de tom do órgão provocou incertezas no mercado, que, naturalmente, a partir de agora também se estendem para as perspectivas do crédito no país.