A criação de empregos é um dos principais benefícios associados à indústria da construção. No ano passado o setor abriu 112.174 postos de trabalho formal, resultado líquido de admissões e demissões. Esse total foi 5,18% maior que o do ano anterior – a maior taxa de aumento de contratações com carteira assinada, segundo números do Ministério da Economia. Além disso, o setor movimenta uma ampla teia de fornecedores de matérias-primas, bens intermediários e equipamentos, contribuindo poderosamente para a criação de vagas em outras atividades. Num momento de alto desemprego no Brasil, a perda de impulso da indústria imobiliária é especialmente preocupante, exceto, talvez, para o governo federal.
Incorporadoras têm lançado menos imóveis do que poderiam, embora a demanda permaneça robusta. Lançaram-se 28.258 unidades no primeiro trimestre. Esse número é 3,7% maior que o de um ano antes. Nesse período foram vendidas 53.185 unidades, com aumento de 27,1% em relação ao total comercializado entre janeiro e março de 2020. Mas, apesar do aumento das vendas, os lançamentos em 12 meses – 168.673 unidades – foram 10,5% menores que no período anterior.
Diante do aumento de preços dos materiais de construção, as empresas têm sido cautelosas, por insegurança quanto à evolução dos custos depois do início das obras, como informou o Estado. O material de construção encareceu quase 30% nos 12 meses até abril. Isso deverá refletir-se em preços mais altos para os compradores finais – mais precisamente, para aqueles em condições de absorver despesas maiores.
Isso exclui uma grande parcela de possíveis compradores. Também por isso incorporadoras estão deixando o programa Casa Verde e Amarela (CVA), versão atualizada do Minha Casa Minha Vida. No primeiro trimestre de 2020 os projetos vinculados ao programa proporcionaram 55,6% dos lançamentos. Neste ano a participação se reduziu a 44,4%.
Mas também o governo diminuiu seu comprometimento com o CVA e isso é muito mais grave que a mudança de posição do setor privado. Em abril, o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mostrou o corte da verba orçamentária prevista para o programa. O governo decidiu, no entanto, rever sua posição, mas sua nova proposta só contemplou o remanejamento de R$ 400 milhões, ou 27% do valor cortado. Em abril, estavam previstos 769 empreendimentos. Eram 211,2 mil moradias. Estavam em andamento 42% das obras, 21,5% estavam paradas, 5% nem haviam sido iniciadas e 31,5% estavam prontas, segundo informação oficial citada em reportagem.
A recomposição da verba poderá manter o programa em funcionamento, mas serão necessárias mais informações para uma avaliação dos possíveis danos ao CVA. A diminuição de recursos para essas obras é duplamente prejudicial, porque reduz a oferta de moradias para famílias de baixa renda e, ao mesmo tempo, limita a criação de empregos e freia a retomada econômica.
Os dois efeitos são particularmente graves em vista das condições do mercado de emprego e da recuperação ainda incerta da economia. Os últimos dados oficiais mostraram desocupação de 14,4% da força de trabalho no trimestre dezembro-fevereiro. A evolução do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre pode ter sido melhor do que se previa no começo do ano, mas isso ainda será verificado quando sair o balanço do período. De toda forma, a maior parte das projeções aponta para este ano crescimento econômico inferior a 4%. Se isso se confirmar, só em 2022 o País sairá do buraco onde afundou em 2020, quando o PIB encolheu 4,1%.
As incertezas quanto à evolução da pandemia, agravadas pelo avanço ainda lento da vacinação, pioram a insegurança econômica. Um avanço vigoroso da construção, incluído o programa CVA, tornaria mais veloz e mais fácil essa travessia, mas essa ajuda está sendo em parte desperdiçada. Nenhuma dessas incertezas, no entanto, parece causar grande inquietação às figuras do Executivo, em especial ao presidente da República, empenhado principalmente em exibir poder para seus mais devotos seguidores