O lucro dos bancos responde por mais da metade do spread em grande parte das operações de crédito feitas pelas pessoas físicas. Isso é o que aponta dados apresentados pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, em painel de discussão sobre a diferença entra a taxa de captação e o custo do dinheiro para o tomador final do crédito, o spread bancário.
O BC não fazia essa decomposição publicamente desde 2015, quando avaliou dados de 2014. Os números contrariam, ao menos em parte, a tese de que o custo do dinheiro é alto especialmente porque a inadimplência é elevada. O custo mostra maior relação com o tipo de funding, se direcionado ou livre.
Na decomposição do "crédito livre com taxas prefixadas", que abarca a imensa maioria das operações feitas pelas pessoas físicas, o spread médio no período foi de 35,2 pontos, sendo 18,5 pontos - ou 53% do total - referente ao lucro das instituições financeiras. Os impostos diretos (CSLL e Imposto de Renda) respondem por 7 pontos, ou cerca de 20%.
A inadimplência aparece em terceiro lugar respondendo por outros 6,5 pontos, ou 18,5% do total. O restante do spread é dividido entre custos administrativos, com 2,2 pontos, e compulsórios, encargos fiscais e Fundo Garantidor de Crédito (FGC) com 1,2 ponto.
Outro corte feito pelo BC considera o crédito livre com taxas pré e pós-fixadas, algo como o crédito livre total. Aqui, o spread médio foi de 25,9 pontos percentuais no período. E a composição muda, com a inadimplência respondendo por 11,9 pontos, ou 46% do total. A participação do lucro cai para 6,8 pontos, ou 26,3%, e os impostos são responsáveis por 5,4 pontos, ou cerca de 21%. Custo administrativo é 1,1 ponto, e compulsórios, encargos e FGC, 0,8 ponto.
Considerando os recursos livres e direcionados, o spread médio de 2011 a 2016 foi de 16,9 pontos percentuais. Na decomposição, a inadimplência aparece com contribuição de 9 pontos - ou 53,5% do total. Depois aparece o lucro das instituições com 4,1 pontos, ou 23,8%, seguido por impostos, com 2,7 ponto, ou 15,8%, custo administrativo, com 0,8 ponto, ou 5,1%, e compulsórios, mais encargos fiscais e FGC, com 0,3 ponto, ou 1,8%.
Na última edição do Relatório de Economia Bancária e Crédito, de dezembro de 2015, com dados de 2014, a decomposição do spread tinha outra formatação. O BC apontava que mais da metade do spread, desde 2007, correspondia ao componente "margem bruta, erros e omissões". Em 2014, o percentual foi de 63,2%, que, sem impostos, caía para 37,75%. Dentro da margem bruta, a inadimplência representava cerca de 25% do spread e os custos administrativos 9,23%. E a fatia do componente Compulsório, subsídios cruzados, encargos fiscais mais FGC apresentava participação de cerca de 3%. Os impostos diretos representavam outros 25,4%.
Em 2014, o BC também abriu o spread por bancos públicos e privados. Os privados tinham maior participação da margem bruta e inadimplência. Enquanto naquele momento os calotes eram menos relevantes nos bancos públicos, reflexo da maior presença em consignado e crédito imobiliário.
Logo após apresentar os dados, Ilan dedicou boa parte de sua fala ao que ele chama de "meia-entrada" no mercado financeiro que é o crédito direcionado, que atualmente responde por metade do estoque de crédito. Para ele, o crédito direcionado acaba elevando o custo do crédito no resto do sistema.
A Febraban tem defendido que a inadimplência e a falta de garantias para as operações são os principais vetores do spread alto. Em entrevista dada na segunda-feira, o presidente da instituição, Murilo Portugal, disse que a rentabilidade do setor no país, está em linha ou é até menor que em outros emergentes. A rentabilidade sobre o patrimônio dos bancos foi de 13,4% nos 12 meses até junho do ano passado. Na América Latina é de 17%.
"A rentabilidade do setor está em linha com outros setores", disse, apontando para o levantamento do Valor1000, mostrando que de 2005 a 2015, os bancos ficaram entre o 5º e o 15º lugar em retorno.
Assim, disse Portugal, a teoria de que o spread é alto porque o lucro dos bancos é elevado não se sustenta. Além disso, o spread alto também é visto nos bancos públicos, o que reforça a evidência de que a causa não seriam os bancos, mas sim as condições de crédito.