Sérgio Tauhata
Em um cenário de expectativa de juros elevados por um período longo e na iminência de a autoridade monetária voltar a subir a taxa básica, a demanda por aplicações indexadas ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) ou à Selic está historicamente alta. Segundo Carlos Alcântara de Albuquerque, superintendente de produtos da Cetip, os papéis pós-fixados atrelado ao CDI já alcançam quase 95% do estoque de ativos indexados. "Nos últimos anos o estoque tem ficado acima de 90%, mas houve uma aceleração [na demanda] entre 2014 e 2015", afirma.
O crescimento desse estoque indexado tem sido puxado nos últimos anos pelas letras de crédito imobiliário (LCI), que tiveram um avanço de 26% em 2015 em relação ao ano anterior, de R$ 150,5 bilhões em dezembro de 2014 para R$ 190,2 bilhões 12 meses depois, e do agronegócio (LCA), com um aumento de 33% no período, de R$ 41,2 bilhões para R$ 54,7 bilhões. "Se descontarmos a valorização natural do estoque, os dados mostram uma captação positiva de recursos", pondera Albuquerque.
O crescimento das letras de crédito isentas, mesmo se descontada a valorização do CDI "cheio" em 2015, de 13,24%, teria superado 12,76%, para as LCIs, e 19,76%, no caso das LCAs.
Os dados da Cetip mostram ainda que os certificados de depósito bancário (CDB) tiveram uma queda nominal de 2% no estoque ano passado. Ou seja, houve saídas líquidas em 2015 no caso dos CDBs. "Mesmo a valorização do estoque no ano foi insuficiente para compensar a diferença negativa entre aplicações e resgates", diz o executivo.
Albuquerque, no entanto, chama atenção para uma mudança de dinâmica de captação a partir do segundo semestre de 2015. "Pegando os números de cada produto, no meio do ano os CDBs retomaram o crescimento do estoque e ao mesmo tempo vimos as LCIs e LCAs entrando numa estabilidade do estoque", afirma.
Conforme o superintendente da Cetip, "se olharmos julho de 2014 contra julho de 2015, as LCIs cresceram 40% e depois começaram a desacelerar". Já o CDB saiu de um estoque de R$ 493 bilhões em dezembro de 2014 para R$ 465 bilhões em julho de 2015. Entretanto, ao longo do segundo semestre os CDBs voltaram a acelerar a captação e fecharam o ano passado com estoque de R$ 483 bilhões.
De acordo com Marcos Daré, diretor de investimentos do Bradesco, a captação por meio de CDBs das instituições financeiras está ligada à necessidade de liquidez e de caixa e, em períodos mais adversos, com retração de crédito e de demanda, a necessidade de captação pode diminuir e as taxas ficam menos atrativas.
A crise econômica afeta também a oferta de letras isentas. As LCIs e LCAs precisam de lastro de operações de crédito para serem emitidas. "O problema é que ultimamente tem ficado difícil para as letras isentas. Os bancos restringiram o crédito, o que acabou diminuindo o lastro", afirma Antonio Conceição, executivo-chefe de investimento da Fator Administração de Recursos (FAR).
O movimento ascendente do estoque do CDB no segundo semestre pode estar ligado a um cenário de demanda ainda crescente, mas com redução de oferta de produtos isentos. Além disso, parte dos R$ 56,57 bilhões de saques líquidos da poupança em 2015 pode ter migrado para os certificados.
O Tesouro Direto, especialmente após a implementação da recompra diária dos títulos a partir do fim de março de 2015, experimentou forte expansão. Segundo relatório mais recente, o estoque de papéis negociados cresceu 62,1% em novembro ante o mesmo mês de 2014. As LFTs pós-fixadas tiveram um salto de 19,5%, o segundo maior aumento, atrás apenas dos papéis indexados à inflação, a NTN-B Principal, com 42,9%.