Ao contrário dos últimos anos, quando as concessões de crédito imobiliário eram a aposta dos bancos para fidelizar clientes e expandir a carteira de crédito, em 2015, elas desabaram. Segundo dados do Banco Central, de janeiro a outubro, houve um recuo de 16,2% nas novas concessões em relação a igual período do ano passado. Os números refletem a recessão econômica que o país atravessa. “O mercado (imobiliário) vai mal e prova disso é que as concessões no último ano estão caindo. A explicação é macroeconômica, o desemprego está crescendo e as pessoas não estão procurando crédito”, avaliou Eduardo Reis Araújo, presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo.
As concessões são desembolsos de empréstimos e financiamentos habitacionais efetivamente realizados no mês. Dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostram que a queda verificada está disseminada em praticamente todos os segmentos imobiliários. Há forte retração na oferta de crédito tanto para aquisições de imóveis residenciais e comerciais, quanto para construções, reformas e ampliações, incluindo nessa conta a compra de material de construção. De janeiro a setembro, as aquisições de imóveis recuaram 24,36% em todo o país, enquanto que a realização de obras recuaram 26,23%.
Outro problema que reforça a crise no setor é o alto custo dos empréstimos no país. Os juros que servem de referência para as operações de crédito realizadas pelos bacos (a taxa Selic) subiram cinco vezes neste ano, alcançando 14,25% ao ano. E, na última reunião de 2015, o Copom (o comitê formado por diretores do BC que define a trajetória da Selic) sinalizou que novas altas podem estar a caminho já no início de 2016.
Apesar da queda na concessões de novos empréstimos, o estoque de crédito do sistema financeiro subiu 13,7% no ano. Nesse conta, porém, estão incluídos, além do saldo devedor dos contratos, os juros e multas incorporados. Mesmo assim, o segmento imobiliário é relevante para o crédito no país. O chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, destaca que 30% do saldo de crédito para pessoas físicas (atualmente em R$ 1,491 trilhão) são referentes a operações de crédito imobiliário.
Apesar da retração no mercado e do desemprego em alta, a inadimplência no setor segue baixa, na avaliação do Banco Central (2,2%). “Ela é mais baixa do que a inadimplência da pessoa física como um todo, puxando para baixo a taxa (3,2% em outubro)”, analisou Fernando Rocha. Para ele, a baixa inadimplência no mercado imobiliário é explicada pelo fato de ser uma linha de prazo mais longo, concedido com bastante rigor.