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28/01/2020

Confiante, a Cyrela espera mais um ano de expansão

Aos 75 anos, Elie Horn, fundador da incorporadora, diz que companhia está recuperando a posição do passado

A Cyrela - incorporadora mais tradicional do mercado brasileiro e segunda maior companhia do setor - viverá mais um ano de crescimento. A expansão ocorrerá em todos os segmentos de atuação - os padrões médio e alto e o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida -, segundo o fundador da companhia e presidente do conselho de administração, Elie Horn. Em 2019, o Valor Geral de Vendas (VGV) lançado pela Cyrela aumentou 35%, para quase R$ 6,8 bilhões, considerando-se a participação dos sócios nos projetos. “Estamos recuperando nossa posição do passado”, afirmou Horn ao Valor.

Aos 75 anos, o empresário continua visitando plantões de vendas da Cyrela e de concorrentes para manter apurada sua percepção em relação ao mercado. “Quem perde a sensibilidade perde o negócio”, diz. O fundador da Cyrela atua no setor imobiliário há 56 anos, período que ele diz valer por 200 anos, por ter trabalhado entre 14 a 15 horas por dia, na maior parte da vida, durante seis dias por semana. “Morrerei produzindo”, afirma.

Sem informar projeções de lançamentos para 2020, Horn conta que a incorporadora tem “terrenos, equipe e vontade” que possibilitarão apresentar mais empreendimentos. “Lançamos quando o mercado absorve os produtos”, afirma o empresário.

Somente em dezembro, a Cyrela assinou a compra de 14 terrenos, distribuídos nas suas três praças de atuação - São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Questionado sobre a dificuldade de aquisição de áreas neste momento de retomada do mercado, Horn diz que o processo “nunca foi fácil”. “Deus criou dificuldades para a gente evoluir. Sempre vai haver problemas. A vida é luta. Sem luta, somos fracassados”, afirma o fundador da companhia.

Desde o quarto trimestre de 2018, os lançamentos imobiliários e as vendas têm apresentado forte crescimento, principalmente os direcionados para as classes média e alta na cidade de São Paulo, o que vem se refletindo nos ânimos do setor. Em 2019, Cyrela, Direcional Engenharia, Even Construtora e Incorporadora, EZTec, Helbor, MRV, RNI Negócios Imobiliários, Tenda e Trisul lançaram, R$ 22,6 bilhões, com evolução de 36%, se consideradas somente as fatias próprias nos projetos. As vendas líquidas aumentaram 27%, para R$ 19,6 bilhões.

Horn afirma que, antes das eleições presidenciais de 2018, era “uma das poucas vozes otimistas e não estava errado”. “A cada ação, corresponde uma reação. A cada crise, um boom. Tudo levava a crer que o Brasil voltaria a crescer. O país balança, mas não quebra”, diz o empresário. Perguntado sobre como avalia o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o fundador da Cyrela, um de seus apoiadores, disse que faria apenas um comentário relacionado ao setor. “O governo não interfere no setor, o que já ajuda.”

O cenário de inflação e juros baixos incentiva a procura por imóveis por parte de compradores finais e investidores e, consequentemente, estimula lançamentos, assim como a perspectiva de alta de preços das unidades, mas já há quem questione o risco futuro de excesso de oferta. O fundador da Cyrela reconhece o risco e diz que “o homem inteligente se previne da crise”. “O importante é pisar no freio antes do momento crítico. Fizemos 5.000 flats e paramos a tempo. Entramos e saímos do segmento na hora certa”, compara Horn. A crise dos flats ocorreu no início dos anos 2000.

Decisões tomadas pelo setor, entre 2007 e 2011 - após a onda de abertura de capital das incorporadoras -, como crescimento exacerbado e expansão geográfica sem critério trouxeram consequências, nos anos seguintes, como estouros de orçamento. “Não faria de novo expansão no Brasil. Seria uma mancha no meu currículo se eu fosse funcionário de uma empresa”, diz o fundador da Cyrela. O setor enfrentou também volume expressivo de distratos, resultantes, além do crescimento acelerado, da piora da economia, da queda de preços dos imóveis e, até o fim de 2018, da ausência de regulamentação.

“Aprendemos com as lições do passado. O crescimento precisa ser sadio e sólido, não errático”, diz o fundador da Cyrela. Entre essas lições, vieram a maior seletividade de projetos, a diminuição do número de canteiros de obras e a redução da participação de terceiros nos empreendimentos da incorporadora. Mas é preciso também, segundo Horn, estar preparado para quando um novo ciclo de baixa ocorrer no setor. Uma das maneiras para isso é ter um fluxo de caixa adequado, de acordo com o empresário.

No fim de setembro, a Cyrela tinha caixa total de R$ 1,76 bilhão, dívida bruta de R$ 2,46 bilhões e patrimônio líquido de R$ 5,48 bilhões. A companhia não tem planos de recorrer ao mercado acionário para captar recursos. “Estamos devolvendo dinheiro aos acionistas”, afirma o empresário. Já empresas em que a Cyrela possui participação poderão abrir capital. É o caso, segundo afirmou, da Cury, da qual a Cyrela tem parcela de 50%, que deve ir a mercado neste semestre.

Em maio de 2014, Horn passou a presidência executiva da Cyrela aos filhos Efraim Horn e Raphael Horn. “No começo, sofri e chorei pela Cyrela, que é como uma filha, a base da minha vida. Mas o fruto não cai longe da árvore”, conta o fundador. Segundo ele, cada um dos filhos demonstrou que, na respectiva área pela qual é responsável - Efraim cuida de terrenos e incorporação, enquanto Raphael responde por finanças e recursos humanos -, atua melhor do que ele. “Os dois se complementam.”

Empresário muito respeitado no mercado imobiliário, Horn fala dos pares: diz admirar Ernesto Zarzur, fundador da EZTec e presidente do conselho, “pelo bom senso e por ser muito sábio”; José Isaac Peres, fundador e presidente da Multiplan, “por ser um visionário”, e Rubens Menin, fundador e presidente do conselho da MRV, por ser “inovador e muito inteligente”.

Atualmente, Horn dedica de duas a três horas diárias à fisioterapia - ele tem mal de Parkinson -, e divide a maior parte do seu tempo entre negócios e, principalmente, filantropia. Judeu ortodoxo, só interrompe as atividades para o descanso semanal do shabat, que vai do pôr do sol de sexta-feira ao pôr do sol de sábado.

Em meados de novembro de 2018, o Instituto Cyrela e o Instituto MRV lançaram o Movimento Bem Maior, com objetivos como fomentar a filantropia e dobrar a fatia de doações em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do país em dez anos. Posteriormente, o movimento passou a contar com o apoio de outros empresários. “Se fugirmos ao bem, falhamos conosco, com Deus e com a humanidade”, afirma Horn.

Uma das questões mais urgentes a serem enfrentadas pela sociedade, na avaliação do empresário, é a luta contra a prostituição infantil. “É preciso ajudar a evitar que menores sejam abusadas e mortas”, afirma o fundador da Cyrela. A melhora da educação de crianças também faz parte das prioridades. O Bem Maior seleciona projetos relacionados à busca de soluções de problemas sociais para oferecer apoio financeiro.

FONTE: VALOR ECONôMICO