São Paulo - As medidas do governo devem impulsionar o consórcio de imóveis e tendem a direcionar o produto como "alternativa" à previdência privada. Frente à queda maior do que o esperado no setor, mercado começa a flexionar prazos e parcelas para venda de cotas.
Dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac) apontam que o volume de participantes ativos no produto de imóveis teve um recuo de 3,1% em novembro de 2016, ante igual mês de 2015 (de 802 mil para 777,3 mil).
A venda de novas cotas, por sua vez, mostrou uma retração de 12,1% no período de janeiro a novembro do ano passado em relação ao mesmo período de 2015 (de 222,7 mil para 195,7 mil).
"Nós ainda estamos fechando os dados, mas as informações preliminares mostram que, no consolidado de 2016, as vendas das novas cotas devem ficar abaixo da previsão do ano [entre -3% e +3%], fechando com queda de quase 5%", afirma o presidente da associação.
Neste cenário, administradoras já se movimentam para tentar alavancar o setor neste ano. Executivos da Realiza Consórcios e do Itaú Consórcios afirmaram ao DCI que devem lançar novidades já no primeiro trimestre.
"A ideia é investir na força comercial e dilatar prazos para diminuir parcelas, deixando-o mais acessível", explicou César Augusto, gerente geral comercial da Realiza.
Já o Itaú aposta em um novo produto. "Devemos lançar agora, em janeiro, um novo consórcio de imóveis que permita uma maior previsibilidade da parcela, podendo adaptá-la à realidade do cliente", informou Marcos Vinícius Schalch, superintendente de consórcios do banco.
Na outra ponta, porém, os executivos entrevistados destacam que tanto as propostas de incentivo à construção civil, como a reforma da previdência - sugeridas pelo governo no ano passado - devem surtir efeitos positivos no segmento.
Ainda abrangendo o consórcio de imóveis, que mostrou crescimento de 18% no ticket médio (de R$ 109,7 mil para R$ 129,5 mil na relação novembro 2016 contra igual mês de 2015), o apelo da construção civil deve "elevar o produto na esteira de crescimento", conforme os entrevistados.
Renda futura - Já no viés geral do mercado, com taxas mais brandas e prazos maiores, o consórcio como alternativa viável e interessante à previdência privada começa a "brilhar" aos consumidores que planejam obter uma renda futura para complementar a aposentadoria.
De acordo com Tatiana Schuchovsky Reichmann, diretora-superintendente da Ademilar Consórcio de Investimento Imobiliário, apesar de o produto "servir mais como alternativa de renda extra", as vantagens se destacam.
"Se a pessoa se programa, consegue pagar taxas de administração mais baratas e pegar o dinheiro de forma mais rápida do que nos planos de previdência", identifica a executiva.
As taxas das administradoras estão, atualmente, em uma média de 1,2% ao ano, enquanto a previdência privada varia de 1,45% a 2,85% ao ano.
Ela ainda destaca que, nesse cenário, 60% dos clientes acabam sendo atraídos pela forma de investimento. "A opção vai desde investir em um segundo imóvel e ganhar com aluguel, até a venda de uma cota conservada, com benefícios do ágio. São várias oportunidades", completa Reichmann.
As estimativas do setor em relação ao papel de investimento do produto, por sua vez, mostram-se cada vez mais consolidadas. Segundo uma pesquisa da Abac 62% dos clientes de consórcios planejaram a aquisição de uma cota prevendo renda extra futura.
"Dizer que o produto é uma alternativa à previdência privada é complexo por serem produtos diferentes, mas se o consumidor tem essa consciência e se planeja, ele consegue ter uma visão interessante tanto para investir como em relação ao oferecido pelos planos de VGBL e PGBL", diz Paulo Rossi, presidente da Abac.
Para Cristiane Magalhães, diretora de consórcios do Itaú, porém, o que acontece no setor é a mudança de decisão por parte do consumidor, o que também é visto com bons olhos pelas administradoras.
"O consórcio possibilita essa adaptação. O dinheiro pode ir para onde o cliente precisa e estará aplicado até ser retirado", reforça a diretora.
No segmento, a percepção é de que a falta de confiança dos consumidores frente às incertezas políticas e econômicas deve impulsionar o mercado de consórcio por meio da educação financeira.
"O brasileiro começa a enxergar o produto de forma diferente, exatamente porque quer poupar dinheiro e aprimorar seu financeiro para uma aposentadoria mais confortável. Isso ganha força no setor e deve mostrar resultados positivos em 2017", comenta Augusto, gerente da Realiza.
"Apesar da economia meio obscura, há várias boas notícias permeando o setor de consórcios, o que nos deixa muito confiantes em relação a 2017", conclui Rossi, da Abac.