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18/12/2023

Construção civil: Brasil tem terra fértil para o setor, mas ainda demanda comportamento de indústria (Época Negócios)

A construção civil é uma das indústrias com menor nível de digitalização da economia e o valor monetário produzido por hora de trabalho na indústria é o mesmo desde a década de 1960

A indústria da construção é um mercado complexo e desintegrado – e reconhecer isso é o primeiro passo para o desenvolvimento do setor. A complexidade reflete, sobretudo, seu perfil único e peculiar, que se caracteriza por uma atuação fragmentada e regionalizada, reunindo empresas com perfil e porte muito heterogêneos.

 

Também é preciso reconhecer que ainda carecemos de um comportamento de indústria integrada, sendo este um de nossos principais desafios. Isso se deve ao fato de que, apesar de a cadeia seguir um fluxo contínuo, sua atividade ainda ocorre de forma isolada, em silos. Uma falta de integração que não se limita ao canteiro, estando presente também nos processos de supply e transações financeiras.

 

Além disso, estamos falando de uma área com ciclos longos e burocráticos. Segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o ciclo produtivo da incorporação imobiliária tem uma duração média de 36 meses – mas, quando falamos do ciclo total da construção de um empreendimento, esse prazo é bem mais longo, já que é iniciado meses ou até mesmo anos antes do lançamento de determinado projeto.

 

Outra questão – e, ouso dizer, a mais importante – é o atraso no processo de transformação digital sob um aspecto bastante específico do comportamento da indústria da construção. Em 2015, o McKinsey Global Institute divulgou o relatório "Digital America: A tale of the haves and have–mores", que identificava a construção civil como uma das indústrias com menor nível de digitalização da economia. No entanto, a comparação com outros setores é um tanto injusta porque esse é um segmento que resolve problemas complexos, inclusive com impacto na infraestrutura de comunidades inteiras, entregando produtos personalizados em locais que são, em sua maioria, de difícil acesso.

 

Prefiro destacar um outro insight levantado por esse mesmo estudo: o valor monetário produzido por hora de trabalho na indústria da construção é o mesmo desde a década de 1960, enquanto outras indústrias se tornaram mais eficientes com a adoção de tecnologia, a exemplo do setor financeiro. A participação da indústria financeira no PIB saltou de 10%, na década de 1980, para 22%, em 2022, o que significa que as pessoas são mais bem pagas, ao mesmo tempo em que o setor conquistou novos patamares de eficiência e produtividade.

 

Esse é um movimento que deve se replicar na construção civil à medida que começarmos a digitalizar essa indústria no Brasil. A pandemia impulsionou muitos avanços, mas vemos ainda mais urgência, sobretudo, pelo terreno fértil de oportunidades que o setor encontra no país. O PIB da construção civil apresentou um crescimento de 6,9% em 2022. Somente nestes dez meses de 2023, a construção abriu mais de 243 mil vagas de carteira assinada, sendo o segundo setor a gerar mais vagas formais no Brasil. No futuro, o cenário também indica expansão – até 2030, nosso país demandará 30 milhões de novos imóveis para moradia, segundo projeções da Abrainc. E a tendência global é que essa demanda só aumente: até 2050, 68% da população mundial irá morar em cidades urbanas.

 

Tendo em vista que a tecnologia – já citada anteriormente – é um dos principais meios para o crescimento diante desse cenário, e que a integração da cadeia é o segredo para que o ramo prospere – tendo todos os seus elos conectados em prol da eficiência produtiva –, combinar esses dois elementos é a fórmula para o êxito da construção civil no Brasil.

E essa tese já se confirma: após o uso de uma “esteira” de soluções digitais, que atuam em todas as etapas da construção, uma amostra de incorporadoras e construtoras teve uma economia de até 34% no metro quadrado construído, além de entregar obras com prazos 21% menores. Orçamentos foram realizados 10 vezes mais rápido que o usual, enquanto os documentos de venda de imóveis passaram a ser assinados com 70% mais velocidade, encurtando o ciclo de venda de forma relevante e desburocratizando o fluxo construtivo desde o pré–obra até o pós-venda.

 

Com isso em vista, ao utilizar a tecnologia ao nosso favor, conseguimos alcançar um papel mais estratégico e efetivo, deixando de atuar como partes dissociadas de um mesmo negócio. Deixamos para trás um funcionamento obsoleto e passamos a explorar com inteligência o campo rico de oportunidades que temos pela frente, com possibilidades de mais produtividade e lucro. Passamos, então, a vivenciar uma atuação cíclica em que a construção civil fomenta a tecnologia e a tecnologia acelera a construção, uma proximidade que veio para ficar e que já está transformando a produtividade do segmento

FONTE: ÉPOCA NEGóCIOS