A luz no fim do túnel parece ter chegado para o setor da construção civil em Pernambuco. Depois de acumular vários meses com resultados negativos, fechando o ano passado com uma queda de 6,5% na comparação com 2016, o segmento quebrou essa sequência e apresentou uma leve alta de 0,4% nos três primeiros meses de 2018, segundo dados do Produto Interno Bruto (PIB) trimestral. Divulgado na semana passada pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas do estado (Condepe/Fidem), o dado é visto como um bom sinal, muito embora não signifique, necessariamente, uma recuperação total do setor.
O então presidente da Condepe/Fidem, Bruno Lisboa, agora secretário de Habitação do estado, destaca que o percentual é uma sinalização de retomada. "Antes (ano passado), os índices eram muito ruins para o mercado e, quando vemos esses 0,4%, mostra que algo está caminhando", diz, afirmando que a real recuperação do setor só deve acontecer quando a economia brasileira melhorar como um todo. "É preciso que o investimento em infraestrutura volte a acontecer, o que tem impacto na retomada das grandes obras. A volta do Minha Casa Minha Vida de maneira mais intensa também é um impulso grande".
Lisboa destaca que, apesar do resultado positivo no primeiro trimestre, é preciso ver como o cenário vai se comportar nos próximos meses. "Tudo depende muito do que vem pela frente. Podemos ter um resultado ruim, mas também surpresas e uma grande melhora. O que precisamos comemorar é que não houve uma estagnação. Há um clima de positividade".
De acordo com o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do estado (Ademi-PE), Gildo Vilaça, a retomada de fato existe, mas ainda é muito lenta. "Continuamos trabalhando com os estoques, mas esperamos que no segundo semestre haja lançamentos", afirma. Segundo ele, novos empreendimentos devem mudar a dinâmica do mercado, mas para que isso aconteça o crescimento do setor precisa estar claro para os consumidores.
Já o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do estado (Sinduscon-PE), José Simón, ressalta que a recuperação foi justificada por uma leve recuperação no setor imobiliário. "O Minha Casa Minha Vida também tem influência nesse resultado, já que há um maior número de financiamentos nas faixas 1,5 e 2 (que englobam famílias com renda de até R$ 2,6 mil e até R$ 4 mil, respectivamente)". A expectativa, segundo ele, é que ao longo deste ano haja uma retomada um pouco mais lenta do que se espera. "Estamos em um ano eleitoral e o calendário aperta. Os benefícios para a indústria como um todo só acontecem até o segundo trimestre. Do terceiro em diante não há resultados significativos".
Acesso ao crédito é essencial para recuperação - Outro fator que influenciou positivamente o setor da construção civil foi o acesso ao crédito. O relatório do PIB trimestral apontou que houve um aumento de 6,8% na chamada intermediação financeira. Os especialistas afirmam que as recentes mudanças para o financiamento adotadas pela Caixa Econômica Federal - que passou a financiar até 80% de imóveis usados para servidores públicos - também deve trazer bons resultados.
O acesso ao crédito puxou o PIB trimestral do setor de serviços do estado. O secretário de Habitação do estado, Bruno Lisboa, reforça que quanto mais crédito no mercado, melhor é a expectativa. %u201CMais negócios são gerados, independentemente do setor. Na construção civil, significa mais vendas%u201D. Gildo Vilaça, presidente da Ademi-PE, concorda. "Todos os bancos baixaram a taxa de juros e isso incentiva o mercado. E trata-se de um caminho sem volta", diz. Segundo ele, as taxas podem até baixar mais no médio e longo prazo, mas dificilmente voltarão a aumentar. "Essa perspectiva estimula muitas pessoas a procurarem o crédito imobiliário".
A Condepe/Fidem também registrou um aumento de 1,3% nos produtos minerais não metálicos, que compreendem louças, cerâmicas, pisos e outros produtos relacionados ao setor da construção civil. No entanto, a comercialização de materiais de construção no comércio varejista ampliado sofreu uma retração de 2,3%. "Esses são os pequenos consumidores. São pessoas que vão fazer alguma reforma ou melhoria em casa. As grandes empresas compram diretamente das fábricas", destaca Lisboa.