Sem dúvida, 2018 será lembrado por ter sido um ano de imensos desafios para os setores imobiliário e da construção. O ano foi marcado pela paralisação dos caminhoneiros, Copa do Mundo, instabilidade eleitoral, muitas oscilações do mercado financeiro e das linhas de financiamento, assim como por novas exigências do consumidor de imóveis. Apesar dos intensos percalços, o mercado se mostra otimista e confiante para o próximo ano. Além disso, a cadeia produtiva da construção civil no estado gerou empregos, obras e moradias.
Todos os desafios enfrentados em 2018 demonstram um histórico já famoso: se a economia do país não está bem, o setor da construção sofre os efeitos. Mas, se por um lado, as expectativas de crescimento não foram consolidadas como o esperado, a construção registrou números positivos na geração de empregos. De acordo com informações do balanço anual do setor, divulgadas pela assessoria econômica do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), em todo o Brasil foram gerados 82.097 postos de trabalho com carteira assinada nos primeiros 10 meses do ano.
Em Minas Gerais, foram contabilizadas 28.393 novas vagas nesse período e na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) somaram 20.556 postos. A capital mineira também se destacou do restante do país e foi a que mais gerou empregos na construção civil, sendo o saldo de vagas no período de janeiro a outubro de 2018 igual a 18.478. “O setor é estratégico no panorama sócio econômico, constrói escolas, hospitais, edifícios, produzindo bens sociais. A cadeia produtiva da construção civil é extensa, gera empregos para o mercado cimenteiro, de alvenaria, vidraceiro e tantos outros. E isso gera um impacto positivo e emprego em diversas áreas. O efeito induzido, como chamamos”, afirma Daniel Furletti, economista e coordenador do Sinduscon-MG.
O economista, conta que, para se ter uma noção, a segunda colocada em geração de empregos na construção foi Curitiba, com saldo de 2.594 vagas no mesmo período. “A construção de edifícios foi responsável por 35,36% das vagas geradas e quase 50% em Minas”, destaca.
Desempenho - Cássia Ximenes, presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), ressalta que, conforme as pesquisas do Data Secovi, o instituto de pesquisa da CMI/Secovi-MG, as vendas de imóveis em Belo Horizonte tiveram desempenho aproximadamente 5% maior do que em 2017. “Esse é um indicador importante de recuperação do setor, que foi bastante impactado com a crise socioeconômica e política do país”, avalia.
Números que podem ser ilustrados pelo lançamento de unidades residenciais nas cidades de Belo Horizonte e Nova Lima se comparados os anos de 2017 e 2018, pelo balanço anual do Sinduscon. De janeiro a outubro de 2017, foram lançados 1,6 mil unidades. No mesmo período deste ano, foram 2.285 lançamentos .
De janeiro a outubro deste ano, o número de unidades vendidas foi superior às lançadas, o que provocou uma redução do estoque disponível para comercialização. Nos 10 primeiros meses, foram vendidos 2.740 apartamentos novos nas cidades de Belo Horizonte e Nova Lima, número 26,38% superior ao registrado em igual período do ano anterior, com 2.168. O estoque apresentou queda de 10,08%, passando de 4.644 apartamentos disponíveis para comercialização em outubro de 2017 para 4.176 em outubro deste ano.
Já o número de empreendimentos lançados apresentou redução de 5,45%, enquanto de janeiro a outubro de 2017 foram lançados 55 empreendimentos; no mesmo período de 2018, foram 52. Como o número de unidades lançadas foi maior em 2018 do que em 2017, pode-se concluir que, neste ano, os empreendimentos lançados tinham maior número de apartamentos.
A venda teve uma performance que animou os imobiliaristas a acreditar em melhores perspectivas. Na locação, as várias opções de segurança locatícia e a desburocratização da contratação foram incentivos ao bom desempenho. “Diante de todos os percalços que atravessamos, posso afirmar que reagimos muito bem e saímos ainda mais fortes e experientes. Estamos prontos para usufruir tempos melhores na economia do país”, afirma Cássia Ximenes.
Novo Perfil - Para a executiva, existe um pódio garantido no ano que vem para os imóveis residenciais, principalmente aqueles que atendem às novas exigências dos moradores que querem uma administração condominial que garanta segurança e conforto, além de toda a infraestrutura garantida por um bom projeto e construção. “Para os empreendimentos comerciais, o destaque vai para os espaços que vislumbrem a interatividade dos seus usuários, como os coworkings”, destacou.
Uma retomada do setor imobiliário, da economia e das mudanças em algumas legislações contribuiu também para uma redução do volume de distratos e inadimplência. “No âmbito federal, a questão dos distratos foi uma vitória não só para as construtoras e incorporadoras, mas também para os consumidores de boa-fé, que acabavam sendo prejudicados pelos inadimplentes.”
O mercado imobiliário vem se transformando e se adaptando às mudanças tecnológicas e ao novo perfil de consumidor que se apresenta. “O cliente final do mercado imobiliário mudou e empresas e profissionais do mercado estão se adaptando às novas ferramentas disruptivas apresentadas por startups e organizações antenadas na excelência do atendimento.”
Plano diretor - Os dados demonstram que o mercado imobiliário inicia uma reação positiva para 2019, mas que ainda pode sofrer impactos negativos caso seja aprovado o Projeto de Lei 1.749/15, referente ao novo Plano Diretor da capital. “Em Belo Horizonte, o setor produtivo luta para não deixar aprovar um plano diretor retrógrado, que pode travar a construção civil e o desenvolvimento urbano”, argumenta Cássia Ximenes.
Caso o novo Plano Diretor de Belo Horizonte seja aprovado como está, ocorrerá aumento médio de 30% no valor final dos imóveis. Impacto não somente para o bolso do consumidor, mas para o setor, que precisa vender, para investir em novos negócios, e assim gerar novos empregos. “Esse projeto dificulta parâmetros urbanísticos para a construção devido ao coeficiente de ocupação e outras limitações. Se essa lei for aprovada, trará menos desenvolvimento para BH, indo na contramão do cenário macroeconômico”, pontua Daniel Furletti.
Desafios - O setor registrou a quinta queda consecutiva em seu PIB, com expectativa de fechamento em 2,4%. Dado justificado pela estimativa de maior crescimento da economia nacional, que também não se consolidou. Prevista para crescer 2,7% neste ano, pesquisas indicam que a economia encerrará 2018 em 1,3%.
De acordo com o balanço anual do Sinduscon-MG, de 2014 a 2017, o PIB da construção apresentou queda de 25,8% no país, enquanto a economia nacional, nesse mesmo período, registrou redução de 5,20%. O ano de 2018, entretanto, iniciou com perspectiva de alta de 2,7% do PIB nacional. Daniel Furletti conta que, entre os fatores que justificavam o dado constava a expectativa da aprovação da reforma da Previdência e a greve dos caminhoneiros, que comprometeram o desempenho da economia nacional e contribuíram para desvalorizar confiança dos empresários e consumidores.
Cassia Ximenes espera que o setor tenha um maior volume de lançamentos em 2019. “Acreditamos que 2019 será melhor que 2018 e pior que 2020. Temos um mundo sem fronteiras de informações e com possibilidades de atrair investimentos estrangeiros para o Brasil”, afirma. Ela se apresenta otimista e acredita na melhora da economia como um todo e na retomada do desenvolvimento do país. “Acreditamos que podemos escrever uma nova história para Minas e para o Brasil.”