A indústria da construção deve encerrar 2023 com queda de 0,5%. O desempenho do setor foi revisado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e deve ficar abaixo das expectativas projetadas no início do ano, que eram de crescimento de 2,5%. Para 2024, a previsão da entidade é que o setor crescerá 1,3%.
De acordo com a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, o resultado deste ano pode ser atribuído ao impacto significativo da alta taxa de juros dos últimos anos. “Quando a economia de um país apresenta taxas de juros elevadas é inevitável que isso tenha um custo, manifestando-se na desaceleração de diversos setores produtivos. A conta dos juros altos na economia chegou para a construção civil”, disse.
Os dados foram divulgados durante coletiva de imprensa online, realizada nesta sexta-feira (8), em que foram apresentados os dados econômicos da construção, tais como geração de emprego, nível de atividade do setor e Produto Interno Bruto (PIB).
Utilizando como referência os dados do PIB trimestral, para 2024, a CBIC apresentou previsão de crescimento de 1,3% para o setor. De acordo com o presidente da CBIC, Renato Correia, os fatores que favorecem o cenário são a continuidade do processo da queda de juros, o avanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além do avanço esperado no mercado econômico a partir do novo ciclo do programa Minha Casa, Minha Vida.
O levantamento mostrou que no acumulado de quatro trimestres, a construção desacelerou suas atividades em relação aos últimos dois anos. No terceiro trimestre de 2023, o PIB da construção recuou 3,8%, em relação ao trimestre anterior. O resultado é considerado o pior registrado pelo setor desde 2020. Segundo a CBIC, além da alta taxa de juros, a queda pode ser explicada pela demora no anúncio das novas condições do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, a incerteza do cenário macroeconômico e a redução de pequenas obras e reformas observadas no início da pandemia de Covid-19, em 2020.
No terceiro trimestre de 2023, o nível de atividade da construção ficou em 14,04%. O dado está acima do período pré-pandemia, mas ainda 20,98% inferior ao pico de atividades, alcançado em 2014, apontou a CBIC.
Em relação ao número de trabalhadores na construção, em outubro de 2023, o número de empregados no setor com carteira assinada foi de 2,675 milhões, o maior desde julho de 2015 (2,693 milhões). O estudo, disponibilizado pela CBIC, ainda mostrou crescimento de 10,49% no número de empregos formais criados de janeiro a outubro de 2023, enquanto nos últimos 12 meses encerrados em outubro, o aumento foi de 6,21%.
Os dados do emprego formal sinalizam que o setor continua produzindo, apontou a economista da CBIC. Segundo Ieda, a construção gerou nos primeiros 10 meses deste ano quase 254 mil novas vagas. O número, apesar de ser menor aos últimos três anos, é o terceiro maior desde 2012.
“O ritmo das atividades do setor e da abertura de vagas demonstram a enorme contribuição da construção para a economia brasileira. É importante lembrar que as vendas de ontem, refletem no emprego de hoje. Estamos sentindo o impacto de obras que iniciamos nos últimos dois anos, devido ao processo produtivo longo, característica básica do setor”, reforçou o presidente da CBIC.
Em 2023, os estados que mais geraram novos empregos no setor foram São Paulo com 66.522 novas vagas, Minas Gerais (32.097), Rio de Janeiro (24.592) e Pará (15.706). O setor, apesar de responder por 6,05% do total de trabalhadores com carteira assinada no país, foi responsável por 14,23% do total dos novos empregos formais gerados nos primeiros dez meses de 2023.
O estudo ainda mostra o impacto do veto à desoneração da folha de pagamentos, apontando o aumento de custos para o setor produtivo. Caso ocorra o fim da desoneração da mão de obra, o estado de São Paulo pode registrar um aumento do custo da mão de obra de quase 14%, no Rio de Janeiro o aumento seria de quase 13%, e em Minas Gerais 11%.
“A CBIC tem atuado na defesa da derrubada do veto à desoneração. O setor está freando suas atividades e precisa de estímulo e não o contrário. O Brasil conta com uma carência habitacional, de saneamento e infraestrutura, precisamos seguir atentos com as consequências dessa decisão”, apontou Renato Correia.
Os dados do comércio varejista de materiais de construção e a produção de insumos típicos também apontaram recuo das pequenas obras e reformas, e indicam que a construção civil desacelerou suas atividades. De janeiro a setembro de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior, as vendas do comércio varejista de materiais de construção caíram 3,0%. No período de 12 meses finalizados em setembro deste ano, em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, o recuo foi de 5%.
Para Ieda Vasconcelos, a baixa taxa de investimentos no Brasil, fixada em 16,6% no terceiro trimestre de 2023, preocupa e a queda das atividades reflete a taxa de investimentos do país. Atualmente a taxa de investimentos do Brasil é inferior à média mundial. “Quanto menor a taxa de investimento do país, maior a dificuldade do país em crescer de forma sustentada. Para a construção crescer, o Brasil precisa fortalecer a sua taxa de investimento”, disse.
“Quando nossa taxa está baixa, nossa população está desasistida”, completou Renato Correios reforçando as carências do país em habitação, saneamento, infraestrutura.
Um dos impactos da alta taxa de juros no setor é a caderneta de poupança (SBPE), considerada uma das maiores fontes de financiamentos da construção. De janeiro a outubro de 2023, o SBPE já perdeu cerca de R$ 81 bilhões. Apenas neste ano, o registro foi maior do que o ano de 2022 e 2021. “Mantendo o mesmo ritmo de perda de recursos observada de janeiro a outubro de 2023, a caderneta de poupança deverá encerrar o ano com perda de quase R$ 100 bilhões”, alertou Ieda.
O número de unidades financiadas com recursos do SBPE nos primeiros 10 meses de 2023, em relação ao período anterior, teve queda de 32,70%. Com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o número de unidades financiadas de janeiro a outubro de 2023 foi 30,16% superior à dos mesmos meses de 2022.
O volume de financiamento imobiliário, com recursos do SBPE, nos primeiros 10 meses de 2023, em relação a igual período anterior, caiu 16,87%. Por outro lado, o volume de financiamento imobiliário, com recursos do FGTS, de janeiro a outubro/23, em relação a iguais meses de 2022, aumentou 65,14%.
Em termos de custos, o setor vivenciou em 2023 maior estabilidade, apontando aumento do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado pela Fundação Getúlio Vargas, de 3,10% de janeiro a outubro. Entretanto, apesar da maior estabilidade, a economista ressaltou que o custo está estabilizado em um patamar muito elevado, prejudicando o setor.
“O custo da construção total permanece em um patamar muito elevado. Desde julho de 2020 até novembro de 2023, o custo com material já aumentou quase 52%, enquanto o custo da mão de obra aumentou quase 30%, e o INCC total também apontou crescimento de 37,28%. Considerando os últimos dados divulgados, o IPCA/IBGE acumulou alta de 26,13% de julho de 2020 até outubro de 2023”, disse.