Com a inflação pressionando os custos de construção e o preço dos imóveis, as incorporadoras de médio e alto padrão lucraram mais do que as econômicas, apontam os balanços divulgados ontem.
A Tenda, especializada na faixa 2 do Casa Verde e Amarela, teve prejuízo líquido de R$ 67,3 milhões no trimestre, queda de 283% sobre o mesmo período de 2021, mas valor melhor do que os R$ 268,5 milhões negativos reportados no quarto trimestre. Outros números da companhia mostram melhora ante o trimestre anterior e desempenho fraco perto do registrado há um ano: a receita líquida foi de R$ 581 milhões, queda de 3,6% ante o início de 2021, mas alta de 12,4% sobre o anterior. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi negativo em R$ 11 milhões, menos 117% no ano e melhora de 95% sobre o último trimestre de 2021.
Também atuante no Casa Verde e Amarela, mas concentrada na faixa 3, a RNI reportou no primeiro trimestre lucro líquido de R$ 1,9 milhão, queda de 24% sobre o mesmo período do ano passado. Já a receita líquida subiu 49% na comparação anual, para R$ 133 milhões, e as vendas líquidas chegaram a R$ 171 milhões, aumento de 9% e o maior patamar para o trimestre em seis anos na empresa.
As duas companhias trabalharam para aumentar o valor das unidades, de forma a preservar ou elevar suas margens.
O preço médio da venda líquida da Tenda foi de R$ 164 mil, alta de 15% na base anual. Entre os lançamentos, o preço médio subiu 18% no ano e está em R$ 176,3 mil. Marcos Pinheiro, executivo financeiro, diz que a estratégia é sacrificar velocidade de venda, se necessário, para elevar o preço. De fato, o índice de venda sobre oferta (VSO) líquida da Tenda caiu 5 pontos percentuais no ano (26,5%).
A RNI conseguiu elevar o preço das unidades lançadas em 14%, para R$ 191 mil, perdendo apenas 0,7 ponto percentual de VSO, hoje em 18%. Para o presidente Carlos Bianconi, a área de atuação da RNI fez a diferença nesse quesito. “Estamos no interior do Brasil, na região do agro, que é empregador”, diz.
No médio e alto padrão, os resultados foram mais positivos. A Moura Dubeux, que atua no Nordeste, reportou lucro líquido de R$ 23,2 milhões no primeiro trimestre, alta de 30,4% na comparação anual, com receita 6,7% maior, de R$ 172 milhões. A margem bruta também aumentou, em 8,5 pontos percentuais, e foi de 40%.
A companhia vendeu mais do que lançou no trimestre: foram R$ 401 milhões em vendas líquidas, alta de 64,4% sobre o primeiro trimestre de 2021, e R$ 353,5 milhões de VGV potencial, quase 300% a mais do que no início do ano passado. O CEO Diego Villar analisa que a companhia se beneficia da falta de concorrência onde atua, desde que grandes incorporadoras do Sudeste desistiram da região. “Elas nem falam em lançar [aqui], tiveram trauma de desenvolvimento imobiliário que não deu o retorno esperado”. A incorporadora aposta no médio e alto padrão, incluindo uma linha para segunda residência, que se fortaleceu na pandemia.
A paulistana Lavvi obteve lucro líquido atribuível aos acionistas controladores de R$ 21 milhões no primeiro trimestre, acréscimo de 24% em base anual. As vendas líquidas saltaram 89% na base anual, para R$ 162,4 milhões em VGV. Em um período que nas palavras da empresa “exigiu cautela redobrada”, a receita líquida somou R$ 99,5 milhões, alta de 10% na mesma base de comparação
Matéria publicada em 12/05/2022