As construtoras brasileiras devem reportar mais um trimestre com margens pressionadas neste início de 2022, na visão dos analistas do Bank of America (BofA), após um quarto trimestre difícil. No setor, a casa mantém MRV e Cury como principais escolhas, com recomendação de compra e preços-alvo de R$ 18 e R$ 13 a ação, respectivamente, por suas oportunidades individuais de crescimento. A primeira por considerarem que o desempenho da AHS, sua operação nos EUA, ainda não está precificada na ação, e a segunda por conta do seu crescimento lucrativo e retorno de caixa.
Na outra ponta, o BofA destaca Tenda, do segmento de baixa renda, que enfrenta um cenário particularmente desafiador em termos de margem, e Even, que atua em média e alta renda, devido à redução da lucratividade. O BofA tem recomendação de venda para ambas e preço-alvo de R$ 8 a ação para Tenda e de R$ 7 para Even.
Já os preços-alvo para Cyrela , Direcional e EZTec, que completam o universo de cobertura do BofA, são de R$ 25, R$ 17 e R$ 19, respectivamente, com recomendação de compra para as duas primeiras e venda para a última.
Além da esperada sazonalidade do período, para as construtoras de baixa renda, o BofA estima mais um trimestre de redução de margem, uma vez que as obras iniciadas no biênio 20-21 avançam com margens mais baixas e novos projetos ainda veem margens pressionadas.
“As construtoras de média e alta renda também devem começar a ver maior compressão nas margens em meio a uma nova onda de inflação de custos e deterioração na acessibilidade de crédito, com um repasse mais desafiador”, escrevem em relatório sobre o setor os analistas Carlos Peyrelongue e Aline Caldeira.
Com isso, para o primeiro trimestre os analistas estimam uma compressão média de 155 pontos base nas margens, o que deve levar a uma redução de 25% nos lucros em relação ao quarto trimestre (40% na baixa renda e 8% na alta renda).
Nesse contexto, os analistas estimam novas revisões para baixo das projeções de margem do setor em razão do descasamento das expectativas de inflação neste trimestre. Isso deve acrescentar outra camada de preocupação para o segmento de baixa renda, acrescenta o BofA. “Continuamos a prever um aumento das taxas de financiamento, levando à deterioração da acessibilidade, o que deve prejudicar ainda mais a demanda, que vem desacelerando desde o final de 2021”, afirmam os analistas.
O banco continua a ver um enfraquecimento na demanda por habitação, que atualmente é impulsionada apenas pela média e alta renda, em meio ao menor acesso ao crédito e aumento de custos na margem.
“A dinâmica de custos começou a se deteriorar na margem com a tendência de alta dos preços do aço, a inflação de materiais permanece em dois dígitos (16% em 12 meses)”, afirma o BofA.
Matéria publicada em 03/05/2022