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17/05/2017

Construtoras perdem R$ 582 milhões

O indicador continua a refletir também distratos elevados, ainda que menores, em decorrência de menos entregas.

Os resultados do primeiro trimestre apresentados pelas incorporadoras de capital aberto apontam que, apesar da melhora dos dados operacionais, a receita setorial caiu e o resultado líquido piorou. Com a queda acumulada de lançamentos nos últimos anos, o número de obras diminuiu bastante, resultando em menos composição da receita, que passou a ser mais dependente da venda de unidades já prontas. O indicador continua a refletir também distratos elevados, ainda que menores, em decorrência de menos entregas.

Nos próximos trimestres, receita e resultados líquidos tendem a continuar pressionados por volume pequeno de obras, pelos estoques elevados e pela revenda de unidades distratas com margens menores.

Espera-se que, no próximo ano, o desempenho operacional seja beneficiado por taxas de juros menores e pela inflação mais baixa. Há quem diga que, em função da contabilidade do setor, com composição da receita à medida que a construção avança, melhoras mais expressivas nos balanços podem ocorrer somente a partir de 2019.

De janeiro a março, CR2, Cyrela, Direcional Engenharia, Even Construtora e Incorporadora, EZTec, Gafisa, Helbor, João Fortes, MRV Engenharia, PDG Realty, Rodobens Negócios Imobiliários (RNI), Rossi Residencial, Tecnisa, Tenda, Trisul e Viver Incorporadora tiveram prejuízo líquido consolidado de R$ 582,4 milhões, 40% maior do que a perda registrada um ano antes, conforme levantamento do Valor DATA. A receita líquida caiu 16%, para R$ 3,539 bilhões, incluindo a receita de incorporação da JHSF.

Direcional, Even, Helbor, RNI e Tecnisa reverteram o respectivo lucro líquido do primeiro trimestre do ano passado em prejuízo líquido. PDG continuou a responder pela maior perda do setor, mas reduziu seu prejuízo em 32,7%, para R$ 276 milhões. Cyrela e EZTec apresentaram queda do lucro líquido. Apenas MRV, Tenda e Trisul tiveram ganhos líquidos superiores na comparação anual. MRV e Tenda são as principais incorporadoras com atuação no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.

As companhias lançaram e venderam mais no primeiro trimestre do que no mesmo período de 2016 e registraram queda nos distratos, considerando-se a parcela própria das incorporadoras nos empreendimentos.

Sem incluir JHSF, os lançamentos do setor cresceram 29% na comparação anual, para R$ 2,785 bilhões, e as vendas contratadas líquidas aumentaram 6,9%, para R$ 2,761 bilhões. Os distratos tiveram queda de 21,7%, para R$ 1,827 bilhão. As rescisões corresponderam a 40% das vendas brutas das incorporadoras, patamar abaixo dos 47,5% do primeiro trimestre do ano passado.

Ainda não se pode falar em reaquecimento da demanda, mas de melhora ante uma base fraca de comparação, afetada pelo cenário pré-impeachment da então presidente Dilma Rousseff. "Nem de longe, temos de volta os patamares de 2011 e 2012", diz um analista.

A ausência de regulamentação para os distratos continua a pesar, negativamente, na decisão de lançamentos. "Como ainda não há regulamentação dos distratos, estamos desmotivados a lançar produtos para a classe média", disse o diretor financeiro e de relações com investidores da EZTec, Emílio Fugazza, durante a divulgação dos resultados. A companhia, que não apresentou projetos no primeiro trimestre, vai direcionar os próximos lançamentos para as classes média alta e alta.

Durante divulgação dos resultados, incorporadoras informaram que, em abril, o desempenho de vendas foi prejudicado pelos feriados. Em teleconferência, o copresidente da Cyrela, Raphael Horn, disse que o mês foi "desastroso para o setor", mas que espera vendas melhores em maio e junho.

As incorporadoras continuam a cortar pessoal e a apresentar despesas gerais e administrativas menores, mas esses custos ainda representam parcela relevante da receita, o que pressiona as margens. A Tecnisa, por exemplo, reduziu o quadro de funcionários em mais de 50% nos últimos 18 meses e, no início de abril, devolveu outro andar do prédio em que está sediada. Vale lembrar que a retomada dos lançamentos não significa contratação, já que a obra só começa a sair papel efetivamente meses após o início das vendas.

No trimestre, a margem bruta consolidada dos setor foi de 20,8%, abaixo dos 22,6% de janeiro a março de 2016. A rentabilidade menor reflete também a revenda com descontos de unidades distratadas. A queda não foi mais acentuada devido à economia de custos que vem sendo obtida pelas incorporadoras.

Os balanços apontaram também que ainda há necessidade de provisões para contingências de distratos, problemas cíveis relacionados a empreendimentos antigos e a questões trabalhistas.

Na avaliação de analistas, o ponto mais positivo dos balanços foi a geração de caixa, situação que deve ter continuidade ao longo do ano. A principal razão para o setor ter gerado caixa foi a redução do volume de obras, devido ao pico de entregas em 2016, e não o repasse dos recebíveis dos clientes para os bancos. Entre as companhias que geraram caixa no período estão Cyrela, Even, MRV, RNI e Tecnisa.

A dívida líquida do setor foi reduzida em 2,2%, para R$ 17,092 bilhões. Ainda assim, a alavancagem consolidada medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido teve aumento expressivo, passando de 54,4% para 72,7% na comparação anual. A expansão da alavancagem resultou de o patrimônio líquido do setor ter encolhido 26,8%, como consequência do prejuízo líquido de parte das companhias.

A PDG, que pediu recuperação judicial, foi a empresa que mais contribuiu para a redução do patrimônio líquido do setor. A companhia encerrou o trimestre com patrimônio líquido negativo em R$ 3,67 bilhões, ante o valor positivo de R$ 1,939 bilhão do fim de março de 2016. A Viver, também em recuperação judicial, tem patrimônio líquido de R$ 537,9 milhões. O patrimônio líquido da Gafisa continuou positivo, mas teve queda de 48,7%, para R$ 1,562 bilhão, devido à cisão da Tenda. 

FONTE: VALOR ECONôMICO