Notícias

01/04/2019

Construtoras tiram projetos da gaveta e aceleram lançamentos em São Paulo

A reação do mercado é resultado da melhora na confiança do consumidor, que voltou às compras prevendo a estabilidade da economia, avalia o presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Luiz Antonio França.

O setor imobiliário começa a dar sinais de recuperação. O número de novos apartamentos comercializados em São Paulo cresceu 26,7% e o de lançamentos subiu 4,46% em 2018 na comparação com o ano anterior, segundo dados do Secovi-SP (Sindicato da Habitação).

 

A reação do mercado é resultado da melhora na confiança do consumidor, que voltou às compras prevendo a estabilidade da economia, avalia o presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Luiz Antonio França.

 

Outro fator que colaborou foi a aprovação da lei do distrato, segundo a qual o comprador que desistir do negócio poderá pedir metade do valor que pagou para a construtora e mais as comissões. "Isso trouxe mais previsibilidade e segurança para os compradores", destaca França.

 

A Exto Incorporação e Construção é uma das empresas que comemoraram os resultados de 2018. Lourenço Sardinha, diretor comercial da companhia, cita como exemplo o lançamento Etern Ibirapuera, em Moema, que foi totalmente vendido em dez dias.

 

A HM Engenharia, construtora que atua especialmente no interior de São Paulo e na Baixada Santista, viu o seu VGV (Valor Geral de Vendas) mais que dobrar entre 2017 e 2018, ano em que a cifra atingiu R$ 750 milhões.

 

Segundo Mauro Bastazin, diretor-executivo, a meta é fazer o valor chegar a R$ 1 bilhão nos próximos dois anos.

 

Em 2018, a HM lançou o HM Bem Morar Campinas.

 

O foco, diz Sylvia Bianco, também diretora-executiva da companhia, são os imóveis para o público de baixa renda.

 

"A demanda seguiu alta na base da pirâmide nos últimos três anos, mesmo com a crise, porque há déficit habitacional de 10 milhões de moradias para esse público", afirma.

 

Os imóveis populares do Minha Casa Minha Vida, que neste ano completa dez anos, representaram 45% das unidades comercializados no ano passado, segundo o Secovi-SP.

 

A Tarjab Incorporadora investiu em outro nicho. Lançou em outubro um prédio na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, com imóveis de até 140 m² -que já tem metade de suas unidades vendidas- e outro em Campinas, com estúdios de 35 m².

 

Para o presidente do Secovi-SP, Basílio Jafet, o ano passado foi atípico.

 

"Iniciamos 2018 com expectativas muito positivas, mas em maio veio a greve dos caminhoneiros, diminuiu um pouco o astral. Depois, com a eleição, definiu-se os caminhos que seriam seguidos. Isso fez aumentar a confiança, e as vendas de imóveis tiveram uma boa melhora. Fechamos o ano com bom resultado."

 

A recuperação vista em 2018 mostra sinais de consistência, analisa Pedro Seixas, especialista em negócios imobiliários e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).

 

"Podemos estar longe do que foi 2012 e 2014 para o setor imobiliário, mas naquela época o mercado estava superaquecido. Agora, temos um cenário que tende a ser mais saudável e com uma recuperação mais consistente."

 

Os reflexos da retomada do crescimento do setor no ano passado já são sentidos pelas construtoras em 2019.

 

Plantões de vendas cheios em pleno janeiro não é uma cena comum no mercado imobiliário, já que o mês de férias costuma afastar compradores. No entanto, o início do ano trouxe maior procura pela casa própria do que o usual.

 

De olho nesse potencial, as construtoras aumentam o número de empreendimentos previstos para este ano e até empresas que havia tempo não lançavam nada tiram projetos da gaveta.

 

É o caso da Tecnisa, que desde 2016 não tinha lançamento no portfólio. Agora, apresenta três empreendimentos programados para o primeiro semestre. Um na zona leste, com plantas de 165 m², e dois na zona sul, com unidades entre 43 m² e 71 m².

 

Já a Tarjab fará seis lançamentos, segundo Carlos Borges, presidente-executivo. "No ano passado vendemos R$ 130 milhões e, neste ano, devemos chegar a R$ 400 milhões."

 

Em janeiro, a incorporadora lançou o seu primeiro projeto dentro do Minha Casa Minha Vida, em São Paulo. O Residencial Amadis, no Ipiranga, zona sul, tem 177 apartamentos, cujos preços chegam a R$ 240 mil. "Já está completamente vendido", diz Borges.

 

A Exto, por sua vez, prevê quatro novos empreendimentos. O primeiro será ainda neste semestre, no Jardim Guedala, na zona sul.

 

Segundo Lourenço Sardinha, diretor comercial, a empresa aumentou em 35% as vendas de janeiro e em 40% as de fevereiro, sempre se comparadas ao mesmo período do ano passado.

 

Já a HM lança três empreendimentos para este semestre, em Valinhos, Praia Grande e Itupeva. Sylvia Bianco, diretora-executiva, prevê um ano positivo para a empresa.

 

Na avaliação do presidente do Secovi-SP, a tendência para 2019 é que ocorram mais lançamentos e vendas em faixas de renda fora das que consomem imóveis populares.

 

Para isso ocorrer, no entanto, é fundamental que a economia siga rota de crescimento, o que inclui a aprovação da reforma da Previdência.

"Sem isso, vamos ter a manutenção do que foi o ano passado ou um crescimento pouco expressivo", afirma Edgar Cândido do Carmo, professor de economia e habitação no Mackenzie.   

FONTE: FOLHA DE S. PAULO