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14/09/2017

Conta inativa do FGTS foi usada em compras em 27% dos casos 

RIO - O percentual de brasileiros que usou o dinheiro do FGTS para ir às compras é o triplo do que se previa inicialmente.

RIO - O percentual de brasileiros que usou o dinheiro do FGTS para ir às compras é o triplo do que se previa inicialmente. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), 27,8% das pessoas que sacaram das contas inativas usaram os recursos para consumo.

O dado faz parte da Sondagem do Consumidor e foi repassado com exclusividade ao GLOBO. Em março, esta mesma pesquisa mostrou que apenas 9,6% dos entrevistados diziam ter intenção de usar os recursos para comprar bens. 

A constatação reflete movimento já detectado em indicadores da atividade econômica. No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,2%, impulsionado justamente pelo consumo das famílias. O próprio IBGE, responsável pelo cálculo do PIB, atribui aos recursos do FGTS parte desse desempenho. Segundo a Caixa Econômica Federal, 25,9 milhões de brasileiros sacaram aproximadamente R$ 44 bilhões até o dia 31 de julho. 

 A pesquisa da FGV ouviu 2.047 entrevistados, dos quais 22,5% disseram que alguém da família teria sacado das contas inativas do FGTS. Apesar do percentual destinado ao consumo ter sido maior que o anteriormente estimado, a maior parcela dos entrevistados ainda afirma ter usado o dinheiro para pagar dívidas. Essa foi a preferência de 37,7%, ante 41,2% em março. Já a fatia dos que dizem ter destinado o dinheiro para poupança ficou em 30%, contra 24% de março. 

Mais pobres não conseguiram poupar

A maior surpresa veio da categoria “outros”, que engloba os indecisos. O estudo indica que quem não sabia o que fazer com o dinheiro acabou mesmo indo às compras. Viviane Seda, coordenadora da Sondagem do Consumidor do Ibre, explica que parte da diferença entre o levantamento atual e o de março ocorre porque a pergunta feita é um pouco diferente. Mas os dados são comparáveis. 

 — Em março, perguntamos qual era o destino prioritário para uso do FGTS. Quando a gente refez em julho, a gente perguntou qual é a proporção de recursos que o entrevistado usou em cada um dos itens. Na primeira, muitos dos que iam gastar prioritariamente com poupança, por exemplo, também poderiam gastar com consumo — explica Viviane. 

Ela avalia, no entanto, que o efeito da injeção de recursos na economia, via consumo, só se susterá se houver melhora do mercado de trabalho: 

— À medida que o mercado de trabalho se recuperar, melhora o consumo. Mas se demorar muito tempo, não se sustenta. 

O economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC) tem visão semelhante. A entidade estima que 25% dos recursos do FGTS foram para o consumo. Melhor para as lojas. Mas ele lembra que o investimento precisa voltar a crescer para que a expansão do PIB seja sustentável: 

— Isso é bom para consumo, mas nossa preocupação é que, se esse descasamento (entre consumo e investimento) perdurar daqui pra frente, mesmo com algum retorno do mercado de trabalho, a gente pode reacender a fogueira da inflação. É como andar com um carro sem passar a segunda marcha. Uma hora o motor queima. 

O levantamento da FGV também estimou o destino dos recursos de acordo com a faixa de renda. A maior parcela dos que usaram o FGTS para consumo está nos entrevistados com renda mensal entre R$ 4.800 e R$ 9.600, na qual 33,3% afirmam ter gasto o dinheiro com compras. O percentual se mantém alto, contudo, em outras faixas de renda. 

O peso da renda é mais evidente quando se analisa quem usou o dinheiro extra para poupar. Só 11,2% dos mais pobres afirmam ter conseguido guardar o recurso, enquanto metade (50,4%) dos mais ricos poupou. 

 

FONTE: O GLOBO