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17/03/2025

Conta para casa própria não fecha: salário cresce menos que a metade do preço dos imóveis (R7)

Em cinco anos, de 2019 a 2024, valor médio de venda residencial subiu 25,8%, já remuneração média do brasileiro cresceu 10,2%.

Por Edis Henrique Peres e Clarissa Lemgruber

O preço médio de venda de imóveis residenciais subiu 25,8% no Brasil em 5 anos. O número é mais do que o dobro do crescimento do salário médio do trabalhador no mesmo período. O levantamento, feito pelo R7 com base nos dados do Índice FipeZap, que monitora o preço cobrado na locação em 50 cidades, mostra que um apartamento de 45m² custava, em média, R$ 323.820 em 2019. Em 2024, esse valor passou para R$ 407.418,75.

Já a remuneração média do brasileiro passou de R$ 2.927 para 3.225, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O aumento corresponde a apenas 10,18%, menos da metade do crescimento do valor do m².

Essa disparidade, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, evidencia uma deterioração na acessibilidade habitacional, uma vez que os preços dos imóveis cresceram em ritmo superior ao dos salários, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores.

“Este fenômeno é exacerbado em contextos inflacionários, nos quais a inflação diminui o poder de compra ao aumentar o custo de vida, afetando diretamente todas as camadas da população”, afirmou Hugo Garbe, professor de economia do Mackenzie e economista chefe da G11 Finance.

Ele explica que, para grande parte dos trabalhadores brasileiros, o sonho da casa própria torna-se “progressivamente mais distante”. “A defasagem entre o aumento dos preços dos imóveis e o crescimento salarial implica na necessidade de um maior esforço financeiro para a aquisição de uma residência, seja por meio de economias pessoais ou de financiamentos de longo prazo.”

É importante ressaltar que, em janeiro de 2019, o Índice FipeZap atualizou a metodologia utilizada e ampliou a cobertura geográfica para 50 cidades brasileiras. Antes dessa data, o indicador analisava apenas 20 municípios.

Endividamento

Para contornar essa barreira financeira, muitas pessoas recorrem a financiamentos imobiliários que podem se estender por décadas. Para Hugo Garbe, embora esses financiamentos possibilitem o acesso à moradia, eles também podem levar ao endividamento prolongado, comprometendo uma parcela significativa da renda familiar ao longo de muitos anos.

“Além disso, a inflação elevada pode afetar negativamente a capacidade de adquirir imóveis, especialmente se os salários não acompanharem o aumento dos preços”, explicou.

Nesta semana, o R7 mostrou que a inflação oficial do país acumula alta de 5,06% nos últimos 12 meses, acima dos 4,56% dos 12 meses imediatamente anteriores.

A corretora de imóveis e especialista do setor imobiliário Rachel Pena afirma que, por outro lado, existe um ponto positivo desse movimento. Segundo ela, estimula a geração de empregos e a expansão do setor, movimentando a economia e criando oportunidades diretas e indiretas.

“Além disso, a valorização dos imóveis impacta o mercado financeiro, impulsionando produtos ligados ao setor, como os fundos de investimento imobiliário, que ganham força e atraem mais capital”, afirmou.

Também especialista em mercado imobiliário, Daniel Claudino reitera que a valorização dos imóveis é um “benefício coletivo”. “A ideia, a expectativa de que os imóveis vão perder valor é muito ruim, porque você compra o imóvel já com a expectativa de que ele vai ser valorizado. Então, tanto para construtoras, compradores e até vendedores não é interessante uma deflação no mercado imobiliário.

Soluções

Para mitigar essa situação, Garbe explica que o governo pode adotar diversas medidas, como incentivar programas habitacionais populares, subsidiar taxas de juros para financiamentos de baixa renda, aumentar a oferta de terrenos urbanizados, implementar políticas de controle de preços para evitar a especulação imobiliária e aprimorar a regulamentação do mercado imobiliário para promover transparência e competitividade.

“A adoção dessas medidas pode contribuir para a redução do déficit habitacional e tornar o sonho da casa própria mais acessível aos trabalhadores brasileiros, equilibrando o crescimento dos preços dos imóveis com a evolução salarial e garantindo condições de financiamento mais favoráveis”, completou.

FONTE: R7