A caderneta de poupança é a aplicação mais popular do Brasil e, ao mesmo tempo, a mais combatida pelos especialistas do mercado financeiro. Os analistas apontam para a baixa rentabilidade e a pouca flexibilidade.
Apesar disso, o crescimento da caderneta no período entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021 foi marcante. A quantidade de contas aumentou em 61 milhões e o saldo depositado cresceu R$ 119 bilhões.
Os dados do Fundos Garantidor de Créditos (FGC) mostram que existiam 235 milhões de contas de poupança que reuniam montante total de R$ 934 bilhões em fevereiro de 2021. Em janeiro de 2020 os números eram de 174 milhões de contas e R$ 815 bilhões de depósitos.
A rentabilidade mensal da poupança é equivalente a 70% da taxa Selic, livre de imposto de renda (IR). Nas plataformas de investimento é possível encontrar, por exemplo, Letras de Credito Imobiliário (LCIs), também isentas de IR, com remuneração maior.
Além disso, existe uma variedade de oportunidades com retorno potencial mais elevado, mesmo considerando a tributação. E os resgates desses investimentos, boa parte das vezes, podem ser feitos diariamente, desde que respeitadas eventuais condições de carência.
Portanto, de uma forma geral, o esperado é que os depósitos em poupança caiam, em vez de aumentar
Mas o ano de 2020 foi atípico. A pandemia do novo coronavírus provocou forte desvalorização dos ativos financeiros de renda fixa e variável.
Na renda fixa, houve significativa desvalorização dos títulos emitidos por empresas e negociados no mercado de capitais. São os chamados de títulos de crédito privado, no jargão de mercado. E mesmo os títulos públicos negociados no Tesouro Direto sofreram perdas.
Na renda variável, a queda das ações negociadas em bolsa foi generalizada no primeiro trimestre de 2020. Desde então houve recuperação das cotações, especialmente das empresas dos setores de materiais básicos, tecnologia, saúde e consumo defensivo. Mas as ações de muitas companhias ainda estão no negativo.
Num primeiro momento, o pânico e as incertezas levaram muitos investidores para a poupança.
Nos meses de março e abril de 2020 a captação líquida da caderneta foi de R$ 42 bilhões, de acordo com os dados do Banco Central.
Auxílio emergencial
Nos meses seguintes, outro público também passou a investir na poupança. A caderneta passou a receber depósitos dos programas de auxílio emergencial desenvolvidos pelo governo para enfrentar os efeitos das medidas de isolamento social.
Entre fevereiro e outubro de 2020, o saldo das contas com depósitos de até R$ 5 mil cresceu 55%. O montante saiu de R$ 61 bilhões para R$ 95 bilhões. O número de contas nessa faixa também aumentou, de 152 milhões para 209 milhões no período.
Em termos nominais, entretanto, o maior aumento ocorreu nas contas de poupança com saldo acima de R$ 100 mil. O crescimento no período foi de R$ 57 bilhões. Em fevereiro de 2020 o saldo era de R$ 311 bilhões investidos em 1,4 milhão de contas. Em outubro de 2020 eram R$ 368 bilhões em 1,6 milhão de contas.
Os mais ricos continuam investindo
Entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021 o saldo das contas com mais de R$ 100 mil continuou crescendo e atingiu o montante de R$ 390 bilhões depositados em 1,7 milhão de contas. Já o saldo das contas com até R$ 5 mil de depósitos recuou para R$ 75 bilhões.
Os dados mais fragmentados da faixa de contas com até R$ 5 mil de investimentos mostram um cenário preocupante. Em dezembro de 2020 existiam 79 milhões de contas com saldo entre R$ 100 e R$ 5 mil. Em fevereiro de 2021 eram 62 milhões de contas, redução de 17 milhões de contas.
Já as contas com saldo de até R$ 100 eram 132 milhões em dezembro de 2020 e passaram a 148 milhões em fevereiro de 2021, aumento de 16 milhões. Ou seja, na faixa das contas com menores saldos, foram menos contas com saldo maior e mais contas com saldo menor.
A constataçã é que nos últimos meses existiu uma diferença marcante no comportamento dos aplicadores na caderneta de poupança, que variou conforme o saldo investido.
Assumindo que pessoas de maior renda têm mais acesso aos serviços de orientação financeira do que pessoas com renda mais baixa, e como a recomendação dos especialistas é evitar a caderneta, a tendência é que as contas de poupança com valor mais alto diminuíssem ao longo do tempo. Mas não foi isso que aconteceu.
Uma explicação possível para esse fato é que pessoas com renda maior estão conseguindo economizar durante a pandemia. Mesmo que guardando os recursos numa aplicação não tão eficaz como a caderneta.
Já as pessoas com renda menor estão resgatando os recursos que foram depositados anteriormente. Possivelmente porque estão sem fontes de receita.