O Brasil e outras economias emergentes podem estar subestimando a contribuição de seus setores de habitação para o Produto Interno Bruto (PIB) e, como resultado, estão perdendo oportunidades de recuperação econômica, social e sanitária.
É o que indica o relatório publicado pela organização internacional Habitat para a Humanidade no Dia Mundial do Habitat, comemorado nesta segunda-feira. Mário Vieira, diretor executivo da ONG para o Brasil, explica que o relatório “Cornerstone of Recovery: How housing can help emerging market economies rebound from Covid-19” analisa os dados habitacionais presentes no PIB do Brasil, Peru, México, Egito, Índia, Indonésia, Quênia, Filipinas, África do Sul, Tailândia e Uganda.
A inclusão dos serviços e componentes da habitação informal, muitas vezes esquecida, revela que o setor habitacional representa em média até 16,1% do PIB nos 11 países analisados. Isso coloca este setor em pé de igualdade com outros, como a manufatura, que tendem a atrair muito mais atenção nos planos de recuperação econômica.
De acordo com o relatório, que parte do pressuposto de que as estatísticas oficiais incluem em média apenas metade do mercado habitacional informal (no qual as famílias melhoram suas casas progressivamente), isso poderia contribuir com um adicional de 1,5% a 2,8% ao PIB, se devidamente contabilizado.
“No Brasil, os serviços habitacionais representam US$ 278,4 bilhões, 15,5% do PIB. Em geral, se fosse incluída a possível subcontagem do imenso setor habitacional informal presente no país, a contribuição da habitação para o PIB poderia chegar a 21,8%”, afirma Mário Vieira.
Dos 196 países com respostas econômicas à Covid-19 analisadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), apenas 22 nações incluíram explicitamente iniciativas habitacionais. Dos países analisados no estudo, apenas Egito, Índia e México apresentaram planos habitacionais em suas propostas.
Segundo dados da Cepal, na América Latina e no Caribe quase 100 milhões de pessoas (21% da população urbana) vivem na pobreza, em moradias ou assentamentos inadequados, com pouco acesso a água potável e saneamento.
No Brasil há déficit de 7 milhões de habitações; 90% correspondem a pessoas que ganham menos de US$ 1 mil por mês. Estima-se que 52 milhões de brasileiros vivam em condições inadequadas. Segundo dados de diferentes fontes coletados pela Habitat, 35 milhões de pessoas nas áreas urbanas não têm acesso à água potável, 14 milhões não têm serviço de coleta de lixo e 100 milhões não têm rede de esgoto