O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, disse neste domingo em uma transmissão ao vivo com outros empresários que a instituição financeira vai baixar juros e adiar pagamentos de parcelas de crédito imobiliário. O executivo não deu muitos detalhes ainda, mas disse que esta semana ainda serão anunciadas as medidas pela Caixa.
“Medidas importantes estão sendo anunciadas essa semana a clientes e funcionários. Faremos redução de juros, postergaremos mensalidades e prestações imobiliárias”, disse.
Na sequência, explicou que a postergação de prestações imobiliárias estará disponível por aplicativo e que as parcelas que não serão pagas agora não serão cobradas de uma vez quando a fase aguda da crise passar. Mas os valores serão incorporados proporcionalmente no saldo remanescente do cliente.
Além dos juros, a instituição também deve divulgar a postergação de pagamento de débitos de empresas e ampliação do acesso de pequenos e médios empresários a crédito para capital de giro.
“Temos a maior base de capital de todos os bancos, um volume de caixa muito forte. Vamos injetar dinheiro na economia de forma direta e indireta. Vamos dar capital de giro para intermediários que fale com as empresas pequenas e fazer de maneira muito mais eficiente. Vamos fazer isso via operações de FIDC (Fundos de Direitos Creditórios)”, disse Guimarães, sem dar detalhes também sobre o plano traçado para ajudar o pequeno empresariado.
André Street, sócio-fundador da empresa de adquirência Stone, que participou do bate-papo online, sugeriu que haja uma coordenação com as companhias de maquininhas para que elas, que têm contato direto com milhões de micro e pequenos empresários, possam ser intermediários na liberação de crédito e até abatimento via fundo perdido de dívidas (com subsídio da Caixa e do governo). Guimarães gostou da ideia e disse que passará adiante ao ministro Paulo Guedes.
“A questão das adquirentes é uma excelente ideia. Vamos fazer isso porque é uma maneira de pulverizar esse risco de crédito. Temos uma carteira de crédito de R$ 700 bilhões, mas temos zero nessa linha de crédito porque, por uma estratégia errada de outras gestões, não temos a operação de adquirência”, comentou.
Ele disse ainda que conversa com o Sebrae todos os dias para entender como o governo pode contribuir com os pequenos empresários e disse que é importante neste momento ouvir novas ideias e a sociedade para pensar nas melhores soluções.
O presidente da Caixa faz parte de um time de crise que Guedes montou para pensar em estratégias para minimizar os impactos do coronavírus – especialmente por causa da paralisação de empresas e consumidores – na economia.
Durante a transmissão online neste domingo, os empresários passaram suas impressões sobre os impactos que já sentem, sobre suas preocupações, deram sugestões de ações e ainda cobraram respostas, especialmente com relação à rapidez com que as medidas que estão sendo anunciadas vão ser implementadas.
O bate-papo ao vivo nesta tarde de domingo foi organizada pela XP Inc e contou, durante duas horas, com a participação de Guilherme Benchimol, presidente da XP, Rubens Menin, presidente da MRV, Benjamin Steinbruch, presidente do grupo CSN, Wilson Ferreira Junior, presidente da Eletrobras e André Street, da Stone.
“Nós queremos ajudar, nós vamos ajudar conforme a crise vai evoluindo. Além de uma crise de saúde, pode evoluir para uma crise econômica muito intensa e, se evoluir, pode ter impacto ainda maior no Brasil. O que queremos é mitigar o impacto dessa crise”, disse Guimarães.
Por uma sugestão de Steinbruch, por exemplo, o presidente da Caixa Econômica disse que vai analisar – e possivelmente consiga – estender o prazo de vigência das medidas anunciadas, especialmente a dos débitos de empresários. O que inicialmente Guimarães disse que duraria 60 dias, agora ele praticamente afirmou que durará 90 dias.
Outro ponto que os empresários reforçaram foi o tempo de implementação das medidas. O presidente da instituição disse que o governo trabalha para que tudo comece a valer rápido.
,"Essa é uma crise que se não formos rápidos, ela pode ser maior. A Caixa vai ajudar, vamos fazer mais do que possível para ajudar, mas essa é uma situação que todos os brasileiros precisam ajudar", disse.
Quando perguntando sobre como o governo está planejando minimizar os impactos na economia, Guimarães foi, porém, enfático em dizer que só o ministro da Economia Paulo Guedes deve falar sobre questões macroeconômicas e que ele também deve anunciar em breve novas medidas.
“Do lado da Caixa, se for necessário, os dois meses (de validade das medidas) podem virar três ou quatro. Mas do ponto de vista da economia, conversei bastante com o ministro Paulo Guedes, ele está sim estudando uma série de medidas, mas essa é uma resposta para o ministro”, disse.
Quando questionado se a Caixa salvará diretamente empresas comprando participações acionárias, Guimarães respondeu enfaticamente que não.
“A Caixa Econômica não virará sócia de ninguém. Ela nem pode ter participação em empresas. Temos uma série de maneiras de ajudar, mas ser acionista de empresas não é uma política correta de um banco público. Nosso foco é redução de taxa de juros, ampliação de prestações, compra de carteira de bancos menores, fazer financiamento via FIDC e outros instrumentos para intermediários e adquirentes. Há várias maneiras que a Caixa pode atuar, mas certamente comprar participação em empresas não é uma delas”, afirmou.
Outra questão feita por Rafael Furlanetti, sócio da XP e o mediador do bate-papo, foi sobre a possível compra de bonds (títulos de dívida) de empresas pela Caixa, uma ação que está sendo feita nos Estados Unidos pelo banco central local.
“Não tinha pensado nisso, mas pode ser alternativa. As empresas que já temos relação são muito mais fáceis porque já passaram por nosso critério de risco de crédito. Empresas que não temos é mais difícil”, diz Guimarães.
IPO da Caixa Seguridade
O presidente da instituição comentou que a prioridade neste momento é usar os recursos da Caixa para salvar a economia brasileira e a abertura de capital da Caixa Seguridade ficou para segundo plano.
"Estamos no meio da operação da caixa seguridade. Sabíamos que mais de 100 mil pessoas iam comprar as ações, mas sabemos que agora a Caixa é a prioridade. Temos posição única de capital e dinheiro para ajudar na atual situação e vamos fazer uso consciente para ajudar no problema que virá", finaliza.
Publicação de balanço
Em resposta ao questionamento do presidente da Eletrobras Wilson Ferreiras sobre a obrigatoriedade de assembleias e manutenção dos prazos de fechamento dos balanços das empresas, o presidente da Caixa disse que é uma questão que está sendo discutida, e que possivelmente esses compromissos serão postergados.
“Está tendo uma discussão nesse momento e teremos postergação sim, mas não temos ainda decisão. Acredito que será aceita a postergação pelo que estamos vivendo no momento”, disse Guimarães. O executivo, contudo, não disse se há já algum texto sendo preparado para mudar, ainda que temporariamente, o regulamento das empresas, a Lei das SAs, que precisa de uma Medida Provisória para ser alterada.