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23/05/2019

Crédito está mais fraco no segundo trimestre, diz Lazari

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., afirmou que o crédito está mais fraco no segundo trimestre, quando comparado aos três primeiros meses do ano, refletindo uma economia mais lenta que o esperado

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., afirmou que o crédito está mais fraco no segundo trimestre, quando comparado aos três primeiros meses do ano, refletindo uma economia mais lenta que o esperado.

De acordo com o executivo, o crédito a pessoas físicas está estagnado, enquanto as operações com pessoas jurídicas, inclusive capital de giro, estão recuando. “O próprio crédito imobiliário ficou flat, não cresceu mais como vinha crescendo”, disse ele, a jornalistas, após palestra no Secovi-SP.

O segundo trimestre está pior, até refletindo o PIB negativo nos primeiros meses do ano, afirmou. Ele espera que a atividade econômica recupere o tempo perdido, no segundo semestre, com a aprovação da reforma da Previdência, algo que Lazari espera que ocorra até setembro ? para ele, esse é um prazo “realista”. Lazari evitou atribuir a demora a problemas na articulação política do governo.

PIB - Diante disso, o PIB não deve crescer mais de 1,2% neste ano, destacou o presidente do Bradesco. “No começo, foi a incerteza da reforma da Previdência, e depois foi o tempo em que ela vai sair, que não será mais no tempo que a gente gostaria, dentro do primeiro semestre”, afirmou o executivo ao apresentar as razões para o desempenho mais fraco. "É um ano mais perdido."

Mais cedo, durante sua apresentação, Lazari afirmou que, diante do baixo crescimento, a tendência é que o Banco Central reduza a taxa de juros ainda neste ano, chegando a 5,75%. “Seria maravilhoso para que a gente pudesse ter crescimento da economia e do consumo também”, disse.

Na apresentação sobre a economia brasileira, Lazari lembrou que o PIB da China era de US$ 180 bilhões e o do Brasil, de US$ 238 bilhões, há 39 anos. Agora, essa relação é de US$ 15,5 trilhões contra US$ 2 trilhões. “Isso dá a clara dimensão de onde é possível chegar”, disse.

Um dos pontos necessários para equacionar os problemas brasileiros, segundo ele, é rever as prioridades na educação. Para ele, houve foco equivocado ao se dar ênfase ao ensino universitário e não de base. “Quando olhamos os investimentos em educação, somos maiores em volume que nossos pares, mas o resultado é muito ruim”.

O presidente do Bradesco disse ainda que o governo tem de agir de forma pragmática, da mesma forma como os executivos tocam suas empresas. Sem isso, o país não vai conseguir sair do “emaranhado” no qual se encontra. Para Lazari, a reforma da Previdência é o “abre-alas” das reformas, mas outras são necessárias. Entre elas, destacou uma simplificação tributária, que, mesmo sem reduzir a carga de impostos, já surtiria efeito positivo.

Para Lazari, o Estado não tem condições de fazer os investimentos necessários à economia brasileira e, por isso, é preciso deixar que o setor privado conduza esse movimento para que o país seja competitivo e esteja à frente do processo de inovações tecnológicas que vai acontecer invariavelmente. “Há dez anos, eu acordava e sabia com quem tinha de competir: Banco do Brasil, Itaú e Caixa. Agora, não sei de onde vem a pancada”, afirmou, referindo-se às fintechs.

Crédito imobiliário - O Bradesco não planeja, por enquanto, oferecer crédito imobiliário remunerado pela variação do IPCA mais 4%, afirmou o presidente do banco. “O IPCA + 4% ajuda, mas a gente prefere continuar trabalhando com TR mais 8% ou 9%”, disse ele, aos jornalistas. “No caso do IPCA, tenho o sério receio de, se alguma coisa der errado e tiver inflação novamente, a pessoa não ter dinheiro para pagar [as prestações].”

O executivo afirmou que prefere esperar o atual momento econômico “amadurecer” e se estabilizar antes de olhar para linhas atreladas à variação da inflação. “Não quero correr o risco de fazer um FCVS 2”, observou, referindo-se ao fundo criado nos anos 1970 para cobrir saldos remanescentes de financiamentos imobiliários.

Na terça (21), o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que o banco estatal planeja oferecer crédito imobiliário remunerado por IPCA mais 4%. O objetivo é securitizar essas operações e vendê-las no mercado de capitais. Para a Caixa, a operação ajudaria a tornar o balanço mais leve, num momento em que a instituição precisa devolver ao Tesouro os recursos dos instrumentos híbridos de capital.

Lazari afirmou considerar “muito mais interessante” para o Bradesco um funding oriundo de captações via letras imobiliárias garantidas (LIG). O executivo disse ainda considerar natural que a Caixa retome a liderança no mercado de crédito imobiliário, perdida para o Bradesco no ano passado. Lazari lembrou que o banco estatal tem funding maior e está retomando o ritmo habitual de operações, depois de ter desacelerado para preservar capital.

Banco privado x banco público - Para o executivo os bancos privados devem ultrapassar os públicos em participação no mercado de crédito em 2019, invertendo uma relação que se estabeleceu anos atrás, quando os estatais foram usados para estimular a economia.

O presidente do Bradesco lembrou que, nos últimos cinco anos, os bancos fizeram R$ 500 bilhões em baixas contábeis para absorver perdas no mercado de crédito e, agora, a inadimplência está sob controle, a despeito da economia mais fraca.

De acordo com Lazari, a atividade econômica “deu uma arrancada” em janeiro, mas depois desacelerou. “A economia do país tem, de fato, decepcionado”, afirmou em sua palestra. “Nosso ciclo atual está muito abaixo do cenário típico, tanto em consumo quanto em investimentos.”

O aspecto positivo, disse, é que as empresas brasileiras estão absolutamente desalavancadas, “não devem nada”, porque aproveitaram a crise para se reorganizar.

Reforma da Previdência  - Lazari disse que “não abre mão” de uma reforma da Previdência que gere economia de R$ 1 trilhão em dez anos por uma proposta desidratada que economize R$ 500 bilhões ou R$ 600 bilhões. “Senão, daqui a cinco anos vamos ter de sentar na mesa para negociar de novo.”

O executivo afirmou que os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, estão “pessoalmente muito envolvidos” para que se consiga implementar “essa” reforma. Sem citar o presidente Jair Bolsonaro (PSL), o presidente do Bradesco acrescentou que “o governo parece que começa a se entender, colocar um eixo para que isso de fato possa se tornar realidade”.

No entanto, Lazari afirmou que ainda pode haver um andamento mais acelerado, “até pela dedicação do Maia e do Alcolumbre”. Ele elogiou também a atuação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Segundo Lazari, uma reforma aprovada antes de agosto seria positiva para começar o segundo semestre “com um novo ânimo”. Segundo ele, se a reforma for aprovado em setembro, o efeito para a economia no quarto trimestre seria “marginal”.

FONTE: VALOR ECONôMICO